Literatura

Marina Colasanti é a convidada desta quarta do projeto Sempre um Papo

A poeta, escritora, tradutora, jornalista e artista plástica conversa com Afonso Borges sobre seu mais recente livro, Mais Longa Vida

Por Patrícia Cassese
Publicado em 07 de abril de 2021 | 03:00
 
 
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A segunda entrevista com Marina Colasanti só ratificou a impressão da primeira, ocorrida no ano passado: a escritora é daquelas pessoas que não economizam gentileza na lida com seus interlocutores. Atenta, faz o papo fluir continuamente, ao mesmo tempo em que  construções frasísticas belíssimas saem com espontaneidade de sua boca. E é imbuída desse espírito de naturalizade, sem grandes ensaios prévios, que ela conversa nesta quarta-feira com Afonso Borges em mais uma edição do Sempre um Papo -  às 19h, com acesso gratuito e transmissão no Youtube, Instagram e Facebook do projeto.

No início do bate-papo com o Magazine, a escritora, jornalista, artista plástica e tradutora italo-brasileira brinca com o também amigo. "Eu sou quase mais antiga no Sempre um Papo do que o próprio Afonso (risos). Já participava do projeto no (extinto e icônico) Cabaré Mineiro. Temos muita cumplicidade: ele sabe tudo da minha vida, e eu, da dele. Então, a conversa vai rolar ao sabor disso, dessa intimidade que temos, da cumplicidade literária que adquirimos ao longo de tantos anos".

Mas bem, mesmo assim, há um tema previsto, o seu livro mais recente:  “Mais Longa Vida” (Record), lançado ano passado. "É o meu quinto livro de poesia. E um livro de poesia demora muito a ser feito, ao menos para mim, porque a poesia corre paralela aos meus outros projetos literários. E demora muito porque sempre tem uma coisa para consertar, algum verso para mudar de lugar, uma palavra que destoa...É muito longo, o processo. Tem que deixar, esquecer o poema por um tempo e depois voltar a ele como se fosse de outra pessoa. E fazer uma crítica sem nenhuma generosidade", apregoa. 

Perguntada se procede a informação de que o livro teria ficado pronto em 2016, embora só tenha sido lançado ano passado, ela é sincera: "Não sei de fato quando entreguei à minha agente, mas vamos falar claro: livros de poesia vendem muito pouco no Brasil. Muito pouco. Por isso, nem insisti com a editora (para sair antes). Mesmo os de poesia que faço para crianças, e já fiz cinco, faço de teimosa que sou, por achar que se a gente ensina na infância, temos mais chances de formar um leitor de poesia".

A fala de Marina dá a deixa perfeita para falar da poesia em tempos tão duros. "A poesia é indispensável. Eu ia dizer muito necessária, mas não, é indispensável mesmo. É metafórica, desliza para o inconsciente e faz ali o seu ninho. Mas, infelizmente, são os livros menos adotados nas escolas, ao contrário das crônicas. Sendo que essas não são um genero excessivamente literário. Mas os professores acham mais fácil trabalhar com elas. Na verdade, infelizmente tem muitos professores do segmento fundamental que não são leitores de poesias, talvez por isso não tenhamos muitos leitores do gênero".

“Mais Longa Vida”  tem uma parte toda autobiográfica, no qual ela repassa os tempos na África - Marina Colasanti nasceu na colônia italiana da Eritreia, em 1937. "Falo, por exemplo, do meu avô paterno... O título do livro, aliás, saiu do último verso do primeiro poema relativo a ele, que foi um crítico de arte importante na Itália, autor de vários livros de história da arte. E tem uns poemas em italiano, eu faço questão de todo livro meu de poesia tenha, porque penso indiferentemente em português e italiano. Fiz questão de manter a língua mãe". 

Como de praxe, também tem poemas dedicados a pintores ou a quadros que a provocam.  "Obras que me encantam ou que me sugerem questionamentos, como pensar qual a intenção do pintor (com aquela obra). Porque a minha relação com artes plásticas é muito intensa, fiz faculdade de Belas Artes. E também tem sempre poemas, digamos, feministas, porque eu sou feminista histórica, de carteirinha. Publiquei quatro livros a respeito das posições sociais da mulher: no trabalho, no afeto, na sociedade, no sexo. Integrei o primeiro Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, fundado pela Ruth Escobar".

Mas são de fato os autobiográficos, os que falam mais alto à sua alma. "Porque nunca falei disso em versos, só no livro 'Minha Guerra Alheia', mas em poesia nunca tinha abordado a África. E, aqui, são vários, os poemas, que falam, por exemplo, da escolha dos meus pais por Asmara, onde nasci, que é uma cidade a quase 2.500 metros de altitude, muito fresca, e, depois, a mudança para Tripoli (na Líbia). O aviãozinho com o qual a gente foi para esta cidade, e, depois, a volta para a Itália (antes de a família embarcar para o Brasil)". 

A conversa assume tons tristes quando a reportagem indaga sobre a que projetos Marina vem se dedicando nesta pandemia. "Não estou trabalhando na minha literatura. As portas da criação estão fechadas", diz, revelando alguns revezes que vivenciou ou vivencia nos últimos meses. "A minha vida ficou trágica", diz. Mas se a própria lavra está no estaleiro, ela conta que vem traduzindo Cesare Pavese, além de ter feito uma tradução de George Orwell. "No mais, tomei as duas doses da vacina (contra a Covid), mas hoje (ontem) fiquei sabendo que a Coronavac garante só 50% de proteção. Após ficar mais de um ano trancada em casa, minha pneumologista, que é a Margareth Dalcomo, até me deixou ir ao supermercado, mas frisou que eu não podia tocar em nada. Mas como não tocar em nada em um supermercado? É impossível! Então, além da máscara, fui com luvas cirúrgicas. E andando na rua - diga-se que estou reaprendendo a andar, o passo compassado -, vejo muita gente sem máscara, sobretudo jovens. E no supermercado, as pessoas não se afastam para te deixar passar, encostam, passam rentes. Enfim... Desobediência civil".

Sempre Um Papo com Marina Colasanti

Hoje, às 19h
Local: Youtube, Facebook e Instagram do Sempre Um Papo
Informações: www.sempreumpapo.com.br

 

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