Relações cortadas

Netflix, Amazon e Mark Ruffalo se afastam do Globo de Ouro, acusado de racismo

Polêmica ocorre após reportagem revelar que não havia nenhum negro entre os membros da associação. Além disso, comitês do prêmio são acusados de fazerem parte de um esquema de troca de favores

Por FOLHAPRESS
Publicado em 10 de maio de 2021 | 16:35
 
 
 
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Pouco após o grupo responsável pelo Globo de Ouro – a HFPA, sigla da Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood – divulgar mudanças internas mirando o aumento de diversidade racial, artistas e empresas do setor intensificaram críticas e polêmicas envolvendo a premiação, ao romper parcerias importantes.

"Não acreditamos que essas novas políticas propostas resolverão os desafios sistêmicos de inclusão e diversidade da HFPA, nem a ausência de transparência de suas operações", afirmou Ted Sarandos, um dos diretores-executivos da Netflix, numa carta enviada aos organizadores do Globo de Ouro, na sexta (7).

"Portanto, estamos interrompendo todas as atividades com a HFPA até que mudanças mais significativas sejam feitas. A Netflix e muitos dos talentos e criadores com quem trabalhamos não podem ignorar o fracasso coletivo da HFPA em abordar essas questões cruciais com urgência e rigor."

Desde uma investigação do jornal americano LA Times, publicada em fevereiro, o Globo de Ouro tem se tornado um grande alvo de denúncias e críticas. A reportagem revelou que não havia, até então, nenhum negro entre os membros da associação, o que fez o grupo receber acusações de racismo.

Além disso, comitês do prêmio são acusados de fazerem parte de um esquema de troca de favores, no qual eleitores aceitam dinheiro, viagens e presentes em troca de indicações no Globo de Ouro. A HFPA, no entanto, nega a acusação de corrupção.

Na sexta, a associação anunciou a aprovação da inclusão de 20 novos membros, o aumento do recrutamento de jornalistas negros na equipe e a contratação de um diretor de diversidade.

"Entendemos que o trabalho duro começa agora", disse Ali Sar, presidente da HFPA. "Continuamos dedicados a nos tornarmos uma organização melhor e um exemplo de diversidade, transparência e responsabilidade no setor."

No entanto, as medidas não agradaram boa parte do setor do cinema e da TV de Hollywood, o que ficou evidente na onda de críticas feitas ao prêmio no mesmo dia. A rival da Netflix, o Amazon Prime, também suspendeu parcerias com a HFPA. Jennifer Salke, diretora do streaming, disse num comunicado que sua empresa aguarda "uma solução sincera e significativa" do prêmio.

Para a presidente da Time's Up Foundation, Tina Chen, as novas medidas do Globo de Ouro são "insuficientes e pouco transformadoras". Mais de cem empresasários de publicidade e relações públicas de Hollywood assinaram uma nota criticando a associação.

"Continuaremos a nos privar de quaisquer eventos da HFPA, incluindo coletivas de imprensa, a menos que essas questões sejam esclarecidas em detalhes com um firme compromisso que respeite a realidade da temporada de 2022, que se aproxima", diz a nota.

No Twitter, o ator e cineasta americano Mark Ruffalo publicou um texto crítico ao Globo de Ouro e revelou que não se sente feliz por ter recebido o prêmio de melhor ator em série, por "I Know This Much Is True", neste ano.

Depois dele, a atriz Scarlett Johansson, estrela de "Viúva Negra", também se juntou aos profissionais do setor e rompeu laços com a associação do Globo de Ouro.

De acordo com o site da Variety, Johansson definiu a HFPA como "uma organização que foi legitimada por pessoas como Harvey Weinstein para ganhar o reconhecimento da Academia". A atriz afirmou ainda que aguarda uma reforma que seja realmente transformadora no prêmio.

"Ouvimos as preocupações sobre as mudanças que nossa associação precisa fazer e queremos garantir que estamos trabalhando diligentemente em todas elas", disse Ali Sar, numa carta enviada à Netflix.

"Podemos garantir que nosso plano reflete a opinião de nossos apoiadores e críticos, e acreditamos que nosso plano irá conduzir a uma reforma e inclusão significativas em nossa associação, de uma forma que toda a indústria [do cinema e da TV] possa se orgulhar.

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