Reflexões de um mundo pós-Covid, em que a personagem principal perde a prima para a doença e ao mesmo tempo revive a amizade das duas intensamente por meio de um diário herdado. Essa é a história de “Cadernos de Viagem Herdados” (Editora Claraboia, 192 págs, R$ 49,90), estreia literária da atriz carioca Nicole Cordery. Com ilustrações de Rita Carelli, o livro foi lançado em meados deste mês e tem projeto gráfico especialmente inspirado em cadernos Moleskine.

Misto de romance com crônicas de viagem, “Cadernos de Viagem Herdados” traz a história de uma mulher que, inesperadamente, recebe um embrulho com nove cadernos que haviam pertencido à sua prima. Dentro deles, o relato intenso e envolvente de dezenas de viagens, que a prima queria publicar para incentivar outras mulheres a fazer como ela e se lançar pelo mundo. O projeto, no entanto, esbarra em um acontecimento trágico: a morte precoce da prima por Covid-19 – o vírus que mudaria radicalmente a forma como as pessoas viajam.

À medida que lê os relatos, a perplexidade e a revolta iniciais diante daqueles cadernos que ela considera uma herança maldita dão espaço ao encantamento e à excitação – e todos esses sentimentos são percebidos pelo leitor através dos comentários que ela deixa nos cantos das páginas.

A mulher vive a dor do luto em confinamento ao mesmo tempo que se reconecta com aquela prima tão próxima na infância e de quem havia se afastado para viver uma vida supostamente perfeita de mãe-esposa-profissional em Madri. Aparentemente despretensiosos, os relatos mostram uma mulher livre, divertida e melancólica, mas acima de tudo curiosa e ávida por novos encontros e deslocamentos.