Hoje é celebrado o Dia Internacional de Combate à LGBTfobia e, para comemorar a data, o Magazine conversou com alguns artistas mineiros que trabalham com a temática. Perguntamos a eles de que forma e em que medida a existência LGBTQ+ inspira e aparece em suas performances culturais. Confira abaixo um resumo das respostas e um pequeno perfil de cada um dos artistas.

João Maria Kaisen

Aos 28 anos, João Maria Kaisen assume sua identidade artística como JoMaKA. O jovem trans se apresenta como pessoa não-binária e se desdobra entre os coletivos de literatura (Academia TransLiterária) e música (Mascucetas). Em 2018, publicou o livro "Generalidades ou Passarinho Loque Esse", primeiro volume de uma trilogia do que o autor chama de “romance em prosa-poesia”. “Desde criança, eu gostava de livros. Comecei a escrever muito cedo e, de alguma maneira, eu tinha uma relação de intimidade com as letras e com os desenhos. Depois entendi que também eram textos”, explica o artista.

Sobre seu fazer artístico e sua relação com gênero, o autor demonstra clareza do recorte que quer alcançar. “A arte está em meu corpo, na experiência desse corpo que por si só é uma cena, é cenário, música, figurino. O meu trabalho não diz mais do que eu estou vendo e, se existe inspiração para trajetória artística, sinto que está na minha própria história, na voz e no protagonismo que eu transpareço”, explica.

Juhlia Santos

A figura da atriz Juhlia Santos é poderosa e questionadora. Seu discurso ajuda a comunidade de artes cênicas a refletir sobre o diálogo necessário com atores e atrizes trans. Juhlia costuma encabeçar esse movimento e não evita questionar grupos de teatro quando algum personagem transexual é interpretado por ator ou atriz cisgênero, o que o movimento LGBTQ+ chama de transfake.

“Identidade de gênero influencia em toda minha existência, não somente nos meus trabalhos artísticos. Meu fazer artístico não é trans, é (somente) um fazer artístico, mas o fato de eu ser trans já traz todo esse discurso nesse meu corpo”, contextualiza a atriz. Além de participação nos espetáculos ‘Rosa Choque’ e ‘Madame Satã’, Juhlia é idealizadora da primeira Atraque: Mostra de Experimentos Cênicos Trans.

Engajada, Juhlia foi candidata à deputada estadual nas eleições de 2018. Ela segue com seu objetivo de conquistar espaço no cenário cultural para a população trans. “Hoje temos artistas trans em diversas áreas da cultura que são capazes de ocupar esses espaços, mas isso ainda nos é negado”, diz.

Azula Marina

É pela música que a artista Azula se expressa, ainda que a transexualidade não seja tema de seu trabalho. Temas como acesso à terra e dilemas contemporâneos são a preferência da cantora, natural de Contagem, mas ela reconhece a importância de figuras que usam a temática LGBTQ+ para inspirar suas manifestações artísticas. “Acredito que esse debate, quando realizado por uma pessoa transexual, pode sim contribuir para a legitimação dos nossos corpos junto à sociedade em geral, criando oportunidades de encontro, diminuindo os preconceitos”, reflete.

Seu trabalho atual chama-se "Sentimentos da Terra" e traz elementos sonoros da musicalidade das Minas Gerais. “A proposta é gerar reflexão sobre as nossas relações com a natureza e com o espaço geográfico por meio da música”, informa.

Em 2018, Azula esteve em Portugal, onde participou de residência artística na cidade do Porto. É doutora em Ciências Sociais e atua também como produtora cultural.

Paulo Bevilacqua

O mineiro mora atualmente no Rio Grande do Sul e tem atuação na área de desenho e ilustração. Conseguiu ampliar sua percepção artística depois que perdeu o emprego em um call center. “Depois disso, consegui entrar de cabeça no que eu realmente sabia fazer”, relembra.

Atualmente, o artista faz ilustrações e pinturas, além de ser professor de desenho. Sobre como a identidade de gênero aparece em seu trabalho, Bevilacqua cita o pintor alemão Lucian Freud (1922-2011), que dizia que toda pintura é autobiográfica e um autorretrato. “Gosto de trabalhar principalmente com figura humana, e as diversidades corporais me motivam”, diz. O artista também trabalha com gravura em metal.