Um novo edital voltado para a montagem de espetáculos, de abrangência nacional, foi lançado nesta segunda-feira, 2, pelo Itaú Cultural, durante encontro promovido na sede da instituição, localizada na capital paulista. A iniciativa visa beneficiar grupos de qualquer Estado e não possui restrições quanto a possibilidade de inscrição prévia do mesmo projeto em outros mecanismos de fomento. Por exemplo, quem buscar financiamento para a realização de um espetáculo via de leis de incentivo municipal, estadual ou federal e quiser garantir um complemento com esse edital poderá recorrer a isso sem nenhum risco de desclassificação.

Se uma proposta tenha sido encaminhada para concorrer em outros programas da mesma instituição, como o Rumos Itaú Cultural, também será viável sua inscrição no edital para montagem. Nesse caso, de acordo com Galiana Brasil, gerente do Núcleo de Artes Cênicas do Itaú Cultural, um dos principais critérios a ser avaliado será a questão da coerência. “Digamos que um projeto tenho sido contemplado no Rumos para conseguir recursos para desenvolver uma etapa de pesquisa. Este não enfrentará nenhum problema se for inscrito no edital de montagem, e isso pode até ser interessante porque demonstra uma relação de continuidade, as duas etapas fazem parte de um processo. Mas, obviamente, como há uma mesma comissão que avalia todos os inscritos editais na área de teatro, nós vamos discutir o que se encaixa ou não dependendo de cada situação”, explica ela.

A ideia é selecionar, nesse primeiro momento, dois projetos. Para cada um vai estar disponível o valor de R$ 200 mil, e os vencedores apresentarão uma curta temporada com estreia no Itaú Cultural em novembro de 2020. Os interessados poderão enviar suas propostas a partir do dia 10, e o prazo de inscrições, a serem feitas exclusivamente no site, se encerra no dia 10 de abril. Galiana acrescenta que são esperados trabalhos pautados pela diversidade. “Estamos pensando isso tanto do ponto de vista dos territórios quanto das linguagens. Nós estamos aguardando não só propostas de teatro adulto, mas de teatro para as infâncias e até animação”, reforça. “O que nós queremos saber principalmente é: qual a relevância de determinada peça hoje? E o que chamamos de teatral abarca o vasto segmento das artes do corpo, incluindo as possibilidades de hibridismos do teatro com as outras linguagens”, completa ela.

Jê Oliveira, diretor do premiado “Gota D’Água (Preta)", comenta que o novo edital vem em boa hora. “Ele pode desafogar um pouquinho o poder público. Ainda existem poucas oportunidades e nós não podemos perder nenhuma delas”, frisa. Indicado ao troféu da Associação Paulista de Críticos de Arte, em duas categorias, melhor direção e melhor espetáculo, “Gota D’Água (Preta)” arrebatou o primeiro. O espetáculo também acabou servindo como “laboratório” para o Itaú Cultural, uma vez que o instituto patrocinou a montagem –  experiência que inspirou a criação do recente edital.

O diretor do Itaú Cultural, Eduardo Saron, ressaltou que o mecanismo pode passar por mudanças e aprimoramentos nas próximas edições, e o que impulsionará isso será o próprio andamento desta seleção que é pioneira. Um desdobramento relevante desse novo braço de atuação, dentre os programas do instituto, para ele, é a viabilidade de compreender melhor o atual panorama das artes cênicas. “Acho que isso poderá, inclusive, oxigenar nossas ações. O mapa que essa convocação vai nos dar acredito que poderá nos alimentar em termos de temáticas e poderá estimular a criação de novas ações”, acrescenta Saron.