Terça-feira é um dos dias mais aguardados pelo público e, principalmente, pelos confinados do "Big Brother Brasil". É quando acontece a temida eliminação. Na da semana passada, quando a digital influencer Bianca Andrade (a Boca Rosa) saiu, mesmo sendo Carnaval, o programa registrou 132 milhões de votos, recorde desta temporada.
Os números realmente impressionam. Segundo a assessoria da Globo, a vigésima edição já acumula mais de 1 bilhão de impactos em suas plataformas oficiais, 46% acima da última edição. E já são mais de 43 milhões de menções – 302% a mais do que 2019.
Com relação à audiência, no primeiro mês de exibição, o “BBB 20” registrou crescimento na comparação com a edição passada no mesmo período em São Paulo e no Rio de Janeiro. Em SP, o programa teve média de 23 pontos com 39% de participação, um crescimento de 15% em relação a 2019. Já no Rio, com média de 24 pontos e 43% de participação, o aumento foi de 9%.
O Globoplay também está lucrando com o reality. No seu primeiro mês, o “BBB 20” registrou aumento de 222% em horas assistidas na plataforma de streaming em relação ao mesmo período do “BBB 19”.
“Pelo menos até aqui, é uma das melhores temporadas do programa. Além do elenco que deu liga, com muitos acontecimentos diários, também merece aplausos o esforço da produção de manter o jogo interessante, com reviravoltas semanais”, defende o colunista do UOL, Chico Barney.
Redes sociais
Um dos pontos altos desse ano é a aproximação com as redes sociais. Arthur Guedes, mestre e doutorando em Comunicação e Sociabilidade Contemporânea e especialista em realities, acredita que essa edição está bem movimentada porque tem se apropriado das narrativas propostas pelo público nas plataformas digitais, o que não acontecia no passado.
“O sucesso está nessa mudança de comportamento. No “BBB20”, fica claro que o programa tem proposto formas de ler o que acontece na casa a partir do que o público tem discutido em canais não controlados pela produção como Twitter e Instagram. Em edições anteriores, esse distanciamento entre o que a produção criava e o que o público percebia criava um espaço de conflito e de descrença em relação ao próprio programa. Essa situação, no entanto, mudou radicalmente agora. É muito comum ver comentários, memes e problematizações feitas nas redes sociais sendo apropriados pela edição diária do programa. É aí que está o sucesso”, acredita Arthur.
O fato de contar no seu elenco com figuras da internet como os influenciadores digitais também tem contribuído para fazer o programa bombar como defende o jornalista e colunista de entretenimento, Fernando Oliveira, o Fefito.
E mais do que isso, por contar com participantes que não têm medo de jogar. “Os últimos BBBs ficavam posando de bonzinhos, com medo de barraco, mas nesta edição a gente tem pessoas sem receio de se expor. E sem falar que tem figuras muito carismáticas como Marcela, Manu, Pyong e Bianca”, opina Fernando.
Arthur Guedes defende que os participantes quase nunca são importantes por si só e que eles sempre representam uma parcela da população. Seja por suas ideias, por seus comportamentos e valores. “E é exatamente porque o programa está trazendo o que reverbera fora para dentro que as coisas estão encontrando eco na audiência”, pontua.
Assédio e sororidade
Pautas importantes da sociedade estão repercutindo lá dentro. Arthur Guedes acredita que questões como assédio e sororidade têm gerado mais movimentação pela relação que essas discussões estabelecem com o cenário social em que estamos inseridos.
"Cada vez mais, tem se falado sobre equidade, feminismo, conquista de direitos e visibilidade de causas e o programa acaba se tornando uma plataforma para essas discussões, exatamente por oferecer uma visibilidade privilegiada para determinadas questões”, reflete.
Porém, o jornalista Fernando Oliveira lastima a posição da Globo com relação a alguns casos de suposto abuso como o de Pyong durante uma festa que tentou beijar Marcela e apertou o bumbum de Flayslane. “Essa edição tem deixado a desejar em alguns pontos como em marcar repúdio contra o assédio. O comportamento do Pyong deveria ter sido punido há tempos. Mesmo assim, acho que é a melhor edição do BBB nos últimos anos. A Globo deve estar bem feliz”, frisa.
Influência externa
Nunca um BBB teve tanta informação vinda de fora, como ressalta o jornalista e colunista Fernando Oliveira. O assunto, aliás, foi tema de uma de suas colunas recentes.
Não só os participantes da Casa de Vidro que chegaram ao reality trazendo várias notícias externas - o público que frequentava o shoppping onde ela foi montada levou cartazes informando sobre o que estava acontecendo dentro do Big Brother Brasil, como o próprio apresentador Tiago Leifert anunciou novidades como o campeonato conquistado pelo surfista Lucas Chumbo, o primeiro eliminado, e que o Oscar e o Carnaval estavam rolando.
Sem contar que Pyong teve a oportunidade de conhecer o filho que nasceu no começo de fevereiro através de um vídeo feito pela produção quando ele ganhou a Prova do Anjo.
"Acho que a Globo estimula isso e deve ter se arrependido no caso da Casa de Vidro. O jogo teria tomado outro rumo se os participantes que vieram de lá não tivessem entrado", comenta.
O especialista em realities Arthur Guedes não acredita que esses fatores externos prejudicam o programa e que apenas coloca novas variáveis na dinâmica. "Com isso as coisas ficam ainda mais incontroláveis. Não dá pra saber como as informações vão tomar forma", expõe.