Perfil

Quem é Coyote Beatz, o produtor musical por trás dos sucessos de Djonga

Parceiro de todas as horas do compositor e nome respeitado na cena do rap nacional, beatmaker belo-horizontino fala sobre skate, influências, novos projetos e pandemia

Por Bruno Mateus
Publicado em 14 de abril de 2021 | 07:04
 
 
 
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Se você reparar bem nos últimos cinco – e elogiados – álbuns do belo-horizontino Djonga, um dos artistas mais celebrados do rap nacional nos últimos tempos, há um nome sempre lá, presente, inclusive em “Nu”, lançado em março. Parceiro, braço direito criativo, DJ, produtor e beatmaker, Coyote Beatz é o cara que cria as músicas, batidas e ritmos que embalam as letras de Djonga. Nome artístico do belo-horizontino Paulo Alexandre Almeida Santos, 32, Coyote Beatz há mais de uma década é figura participativa da jovem e talentosa cena do hip-hop da capital e que também tem se destacado em trabalhos com nomes nacionais como os rappers Rashid e Emicida.

Apesar da forte ligação com o movimento de BH, a história de Coyote com a música começa em Curitiba, onde morou com a família entre 2003 e 2007. Quando a chuva e o clima frio da cidade o desanimavam a sair para seus “rolés” de skate, ele ficava em casa de cara no computador, aprendendo a fazer música, mexendo aqui e ali em softwares. “Foi ali que comecei a me envolver mais com música. Eu separava minhas trilhas sonoras, fazia os beats para usar nos vídeos de skate e da família que eu editava. Comecei a levar para a galera ouvir e a postar na internet”, conta.

Coyote não se recorda da data precisa, mas foi entre 2009 e 2010, período em que já havia retornado à capital mineira, onde vive desde então, que ele lançou “Coynstrumentals Vol.1”, uma coletânea de bases e beats criados em casa. Antes disso, a experiência de um ano como estagiário do estúdio do guitarrista Ronaldo Gino, ex-Virna Lisi, foi fundamental para o beatmaker entrar de cabeça na música e entender os processos de gravação. “Fiquei um ano trampando com ele, aprendi a gravar no estúdio, microfonar instrumentos e, ao mesmo tempo, comecei a levar meu trampo de beats para lá, e a galera começou a ouvir”, ele lembra.

“Alcançando o Céu com os Pés no Chão”, de 2010, com Fernando Castilho, da banda Zimun, foi seu primeiro lançamento oficial de estúdio. “Sem dúvida, foi um grande passo para mim. Depois comecei a fazer coisas mais independentes, gravar a galera do Duelo de MCs e outros artistas”, diz.

Coyote começou a produzir no computador, mas há um bom tempo, depois de anos pesquisando e suando para entender o processo de fazer beats, samples e novos timbres, ele faz questão de utilizar equipamentos analógicos, como toca-discos, mixer e outros elementos em sua música, repleta de diversas referências para além do rap. Funk, soul, rock progressivo, jazz, blues e outros ritmos entram na sua música. “Não tenho muito um estilo definido. Escuto James Brown de manhã, de tarde vou para o Suicidal Tendencies, à noite coloco um R&B e, para dormir, um jazz instrumental. Varia muito”, ressalta.

“Comprei um vinil de O Terço, um disco do Mulatu Astatke, compositor da Etiópia. O beat tem muito disso. Às vezes pego a bateria do Black Sabbath, misturo com outras referências, pego o bumbo e faço outro ritmo, modifico o som, faço outra textura. O processo é uma terapia”, acrescenta Coyote.

De Minas para o Brasil

O ano de 2013 foi fundamental para Coyote. Prestígio e repercussão nacional vieram com os singles “Virando a Mesa”, do rapper Rashid, o primeiro do produtor que rompeu a barreira de 1 milhão de plays, e “Papel, Caneta e Coração”, de Emicida. Belo Horizonte, berço do Duelo de MCs, também tem seu lugar essencial na carreira do DJ. Entre 2015 e 2018, Coyote produziu o DV Tribo, grupo aglutinador de uma cena pulsante e afiada, que reuniu os MCs Fabrício FBC, Hot Apocalypse, Oreia, Djonga e Clara Lima.

O DV Tribo atravessou as fronteiras de Minas e fez shows por todo o Brasil. “Mostramos que BH tem rap foda, não é só a galera do eixo. Foi um momento-chave na minha carreira, produzimos muito material. A força do coletivo fez a diferença. Se não tiver verdade e amor pelo que você está fazendo, não acontece. O que você planta é o que você colhe”, ele diz.

Durante a pandemia, o beatmaker tem aproveitado o tempo para desengavetar projetos. Uma nova coletânea instrumental deve ser lançada ainda neste ano, bem como um álbum com o rapper Doug Now. O site, em parceria com a esposa, Iulle, responsável pelas mídias sociais do produtor, também deve ir ao ar em breve, “fora os trabalhos que aparecem por aí”.

A parceria com Djonga trouxe uma rotina intensa de shows, participações em festivais de todo o Brasil, produções em quartos de hotel e saguões de aeroportos. Coyote agora pensa em música em período integral. Convites de trabalho ele recebe a perder de vista, mas lhe falta tempo.

Depois que tudo isso passar, ele quer passar um período nos Estados Unidos viajando com Iulle. Até lá, ele continua na rotina de beats, pesquisas e seus vários projetos. “Não conheço Nova York, quero conhecer as paradas de perto, Brooklyn, Queens, Bronx, os lugares clássicos. É difícil saber quando isso vai rolar, mas quero viajar, fazer show e andar de skate lá fora”, afirma o produtor.

Minidocumentário

Lançado há sete meses no YouTube, o minidocumentário “E aí, Coyote” conta um pouco a história do produtor, a relação dele com o skate e o processo criativo que resultou no disco “Histórias Da Minha Área”, de Djonga, lançado em 2020. Coyote, que é filho do skatista e músico Alexandre “Dota” e irmão dos skatistas profissionais Jefferson Bill e Hugo Blender, dará sequência ao registro audiovisual, realizado pela Macaco Lab e produzido pela Babilonya Film Music. A ideia agora é focar mais a história de sua família, proprietária da skateshop Fun Family. “O skate me trouxe para esse lado da música”, diz Coyote Beatz.

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