Exposição

'Retratistas do Morro' ganha versão online

A mostra terá as fotografias apresentadas digitalmente, em uma galeria virtual que estará disponível, para acesso gratuito, a partir desta terça-feira

Por Patrícia Cassese
Publicado em 01 de setembro de 2020 | 03:00
 
 
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Uma boa notícia para quem teve os planos de conferir a exposição "Retratistas do Morro", que no começo do ano estava em cartaz na CâmeraSete – Casa da Fotografia de Minas Gerais, interrompidos pela quarentena imposta pela pandemia do novo coronavírus. É que, a partir desta terça-feira, dia 1º, a visitação poderá ser feita em formato digital. Com a curadoria do artista visual, pesquisador e empreendedor cultural Guilherme Cunha, a iniciativa reúne imagens produzidas pelos fotógrafos João Mendes e Afonso Pimenta, que, desde a década de 1970, registram o cotidiano dos moradores da Comunidade do Aglomerado da Serra.
 
Agora, a mostra terá as fotografias apresentadas digitalmente, em uma galeria virtual que estará disponível para acesso gratuito no site da Fundação Clóvis Salgado.
 
A abertura de "Retratistas do Morro Online" marca a primeira mostra de artes visuais da FCS realizada durante o período de isolamento, e contará com uma transmissão ao vivo pelo canal da instituição no YouTube, com acesso livre. Durante o evento, marcado para as 20h, o público poderá se divertir com uma festa online, que terá performance do coletivo Favelinha Dance e playlist especial da DJ Sandrinha, com soul music e outros ritmos.
 
Feliz com a iniciativa da FCS, que integra o programa o Palácio em Sua Companhia, idealizado para a quarentena, o curador Guilherme Cunha conta que o momento atual está de fato sendo um desafio para todas as iniciativas que trabalham para a área cultural. "Que é o de pensar como reconectar o público com as produções que vêm sendo desenvolvidas, sejam no campo das artes plásticas, da dança, do teatro, do cinema, enfim. Como transferir ou como criar experiências correlatas com a de o público ter as impressões e as fruições de um espaço arquitetônico expositivo para o universo virtual", diz ele.
 
Na verdade, Guilherme entende que cada uma dessas condições tem suas ferramentas particulares de fruição, de contato com o público, de impressão dos sentidos. Também pondera que os processos formativos de cada um desses ambientes têm seus prós e contras". "Percebo que o que foi feito aqui, pela FCS, não foi tentar trazer o espaço expositivo para dentro do universo virtual, mas tentar pensar a exposição com as ferramentas, com os beneficios que o conteúdo colocado online pode trazer. Assim, a iniciativa é uma forma de continuar conectando o público com a exposição a partir da geração de conteúdos que muitas vezes, na verdade, nem estariam no espaço expositivo, por razões curatoriais, por exemplo", explana.
 
Se nas mostras presenciais, pois, existiria um certo recorte na forma de levar o conteúdo ao espaço expositivo, o ambiente online propicia "uma outra maneira de apresentar as ideias e as informações, de acolher discursos, histórias, narrativas, trabalhando a imagem junto com texto". "De forma a trazer o público para dentro de uma camada de sentido que poderia até estar presente na exposição, mas que, digamos, não estava assim, tão evidenciada. No caso dos 'Retratistas', as pessoas vão poder ter acesso às pequenas histórias conectadas com as imagens, narrativas que contextualizam a produção fotográfica. E também vão assistir a um documentário, produzido pela  FCS, entrevistando as pessoas envolvidas na produção da exposição, como os próprios fotógrafos. O ganho da versão online é toda essa diversidade de informações que chega ao público de uma forma até mais didática".
 
De um modo geral, Cunha acredita que a situação que foi gerada pela pandemia convida a repensar as formas de acesso às artes em geral. "Mesmo se não existisse a pandemia, essa exposição online chega de uma forma muito interessante para complementar todo o conteúdo trabalhado na presencial. Claro, não tem como substituir a experiência do corpo imerso no espaço físico, e, por outro lado, só a experiência do acesso virtual ficaria incompleta - mesmo porque, a gente vive num mundo tridimensional, somos impressionados por todos os sentidos, e a partir desses impressões, a gente produz conhecimento. Hoje, a gente vê que o site vem em socorro do momento, mas de qualquer forma seria um complemento incrível para poder conectar a população à história das imagens, ampliando o acesso de entendimento sobre o contexto no qual foram produzidas".
 
Sobre o que tem feito durante a pandemia, Guilherme Cunha diz que vem trabalhando com o projeto "Retratistas do Morro" em algumas outras diretrizes, por meio do incentivo aferido junto ao Itaú Cultural - caso da construção de um site, "que vai funcionar como um banco de dados, para elaborar um panorama muito mais completo sobre a produção fotográfica do João Mendes e do Afonso Pimenta".
 
Esse banco de dados a que ele se refere vem sendo erijido com a ajuda das jornalistas Ana Paula Orlandi e Karina Santos. Só para se ter uma ideia, foram realizadas mais de 300 entrevistas, seja com os fotógrafos ou com fotografados. "O grande barato, a tônica, a ênfase que a gente está dando (na construção dele) é de pensar a imagem como um lugar de escuta, a imagem que conta uma história, mas uma história múltipla, de múltiplos pontos de vista,   versões, modos de ser, de ver, de pensar, O projeto vai apresentar as imagens do fotógrafos, a narrativa do fotógrafo sobre aquela imagem e a narrativa do fotografado".
 
Paralelamente, Guilherme está desenvolvendo o segundo volume do livro "Oposto Complementar do Infinito", que diz respeito à sua pesquisa em poéticas visuais. "E também no Festival Internacional de Fotografia, junto ao Bruno Vilela. O evento deve sair no final de novembro, início de dezembro. Já houve a convocatória, foram 1.700 inscirções, agora, estamos no processo curatorial e, em breve, vamos anunciar nas redes o formato que o festival vai tomar, que, claro, não será o tradicional. Mas nós estamos buscando soluções bem interessantes para que o púbico consiga também participar e se conectar com os trabalhos que estão vindo aí para esta que será a quarta edição", promete.

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