Quem conversa com José Osvaldo dos Santos pode dispensar a formalidade do nome e chamá-lo simplesmente de Brasinha. É assim que ele é conhecido por todos em Cordisburgo, na região central de Minas Gerais, onde ele vive desde que veio ao mundo, há 68 anos. Cordisburgo também é conhecida por ser a cidade onde nasceu Guimarães Rosa, um dos maiores escritores brasileiros do século XX e dono de uma obra que fala do sertão e do interior de Minas de forma tão íntima, bonita e com uma linguagem inovadora.
“Com os livros dele, fui vendo lugares e pessoas que são também o cotidiano da nossa vida em Cordisburgo. Sou só um sertanejo que vivo na terra de Guimarães e fui ler a literatura dele, achando o real dentro dessa ficção”, diz Brasinha, modesto.
Esse senhor, que poderia estar nas páginas dos livros escritor, foi fisgado por “Sagarana”, especialmente pelo conto “O Burrinho Pedrês”, aos 20 e poucos anos. Desde então, ele percorre toda a obra do conterrâneo e, há décadas, se dedica a pesquisá-la e a estudá-la. Brasinha, de fala bem mineira ao telefone, é um dos participantes da 32ª edição da Semana Rosiana, que começa nesta segunda-feira (27) e vai até dia 1º, sábado.
Realizado pela Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult), por meio do Museu Casa de Guimarães Rosa, localizado na cidade natal de Rosa, e em parceria com a Academia Cordisburguense de Letras, o evento se adaptou aos tempos de pandemia e traz uma programação inteiramente online, com palestras, debates, apresentações musicais, podcasts, exibição de filmes e rodas de leitura.Tudo isso será transmitido via plataformas digitais e redes sociais do Museu Casa Guimarães Rosa (Facebook, Instagram, YouTube e Spotify) e do Espaço do Conhecimento UFMG (Instagram, Facebook e YouTube).
Confira a programação completa e detalhada
O tema deste ano é “O Bem e o Mal na Obra de Guimarães Rosa”, aparente antagonismo, mas que mora numa coisa só, e é tão presente na obra do mineiro, principalmente em “Grande Sertão: Veredas”, com Riobaldo e seus questionamentos acerca do “demo”.
Na quinta-feira (30), às 10h, vai ao ar o podcast “Sertão bom, Sertão mal”, que terá Brasinha abordando o tema. “Até falei mais sobre o ‘Grande Sertão’, mas a obra dele inteira apresenta isso. Ser tão bem, ser tão mal, ser tão bonito, ser tão feio, ser tão alegre, ser tão triste… É o ser que tem dentro da gente que ele retrata. Todos temos o bem e o mal na nosas travessia de vida, você nunca chega ao sagrado sem passar pelo profano”, diz o pesquisador.
Guimarães Rosa e um certo sotaque
Em 2008, para celebrar o centenário de Guimarães Rosa, a Bossa Nova Films produziu “Sertão: Veredas” para a TV Record. O ator mineiro Odilon Esteves foi convidado para interpretar o personagem Riobaldo. Ele já havia lido algo de Rosa, como o livro de contos “Primeiras Estórias”, mas precisou adentrar o “Grande Sertão: Veredas” de maneira intensa e profunda, afinal, ele não tinha muito tempo: “Tive que dar um mergulho nele no intervalo de uma única seman. Fiquei muito apaixonado. É um livro que me acompanha, é muito bonito”.
Depois disso, Odilon Esteves participou de alguns eventos de leitura de trechos do livro. Nesta sexta-feira (31), às 20h30, ele repete essa história e protagoniza a live “Riobaldo e Diadorim”, com transmissão pelo Instagram do Museu Casa Guimarães Rosa. O ator nasceu e cresceu em Novo Cruzeiro, no Norte do Estado, e diz que, embora “Grande Sertão: Veredas” apresente a viagem de Guimarães pelo Noroeste de Minas, a cultura daquela região encontra similaridades com sua terra.
“Meu sotaque, o sotaque da minha região, era quase como um vocabulário que me facilitava a entrada na obra influenciada pela vivência no Norte de Minas”, ele conta. Nesta terça-feira (28), Odilon Esteves e Bruna Lombardi são os convidados do projeto Sempre um Papo, que realiza a live "Um Encontro com Guimarães Rosa" às 18h.
“Grande Sertão: Veredas” também atingiu o ator de outras formas. Ao ver a exposição da cenógrafa e diretora Bia Lessa sobre o livro, Odilon Esteves ficou “meia-hora chorando, emocionadíssimo”. “Foi a primeira vez na vida que fui a uma exposição e chorei. Eu nem sabia se podia chorar em exposição”, ele brinca.
Rede Minas também homenageia o escritor
Nesta segunda-feira, a Rede Minas também apresenta uma programação especial para celebrar Guimarães Rosa e também o início da Semana Rosiana. Às 17h30, o “Brasil das Gerais” apresenta um bate-papo virtual com os coordenadores do Museu Casa Guimarães Rosa, Ronaldo Alves de Oliveira, e do Grupo de Contadores de Estórias Miguilim, Fábio Barbosa. O ator Odilon Esteves e o cantor e compositor Celso Adolfo também participam da atração.
Às 20h, é a vez do “Agenda”, que, durante toda a semana, traz reportagens especiais sobre o escritor mineiro. Nesta segunda, a professora da Universidade Federal de Minas Gerais, Elni Elisa Willms, fala sobre o tema “Algumas Estórias Sobre o Bem e o Mal em Grande Sertão: Veredas”.