Há cerca de dois meses - portanto, com a quarentena já em vigor -, Toninho Horta decidiu se aventurar no universo das lives. "Daí fiz uma experimental, em estúdio", diz ele, reconhecendo que a experiência foi em parte conduzida com base na intuição. "Confesso que a gente não sabia muito bem como fazer, essa coisa de ter um limite de horário... Mas depois relaxei e foi muito legal, já tem mais de 25 mil acessos", orgulha-se o icônico compositor e instrumentista mineiro que, a partir deste sábado, dá o start a uma nova empreitada: o projeto Sunset Concert Series.
 
Trata-se de uma série de quatro lives, que serão realizadas sempre aos sábados. A transmissão, como o nome indica, será feita a partir do entardecer (mais precisamente, às 16h30), em um terraço de um edifício localizado no bairro Anchieta, zona sul da capital mineira. "Fica no prédio onde meu sobrinho mora, e ele sempre teve a vontade que eu tocasse lá, no pôr-do-sol".
 
Toninho conta que essa série já tem uma produção mais cuidada em relação à citada experiência début, com mais equipamentos de som e de luz, repertório definido e informações dos compositores e das músicas. O músico lembra, ainda, que haverá captação de imagens por meio de um drone. Já a piscina que integra o espaço será enfatizada como elemento de cenário. Neste sábado de estreia, a live será dividida em dois momentos: no primeiro, Toninho Horta se apresenta no formato voz e violão. Já no segundo, com os músicos Lena Horta (flautas) e Yuri Popoff (baixo), da Orquestra Fantasma, grupo criado há quatro décadas, para acompanhar Toninho.
 
As lives do projeto serão temáticas. Na primeira, a lavra do artista terá a primazia. "Será uma mistura de músicas cantadas e instrumentais. A maioria, já conhecida, como 'Francisca', 'Mountain Flight', 'Viver de Amor'; mas vou incluir também alguma coisa do meu disco mais recente (o álbum duplo, 'Belo' e 'Horizonte')", anuncia. 
 
As demais lives (ele ainda não sabe a periodicidade, se quinzenais ou semanais) serão divididas pelos temas Bossa Nova, Clube da Esquina e Jazz. "Mas ainda não estabeleci a ordem delas. No caso da Bossa Nova, quis fazer porque sou fruto dessa escola. Na do Clube da Esquina, vou mostrar coisas minhas e de compositores como Lô Borges, Milton Nascimento... Já na do jazz, devo mesclar músicas dos meus discos instrumentais a standards", conta. 
 
Não bastasse, haverá uma quinta live, mas com um diferencial: o horário da transmissão. "Foi pensada especialmente para o público da Ásia, pois, nesse momento em que as outras estarão sendo transmitidas , eles ainda estão dormindo", esclarece, citando o fuso horário. 
 
Incentivado a falar sobre a pandemia do novo coronavírus e o decorrente estado de quarentena por ela imposto, Toninho Horta reconhece que o primeiro momento foi, claro, de susto. "Aquela coisa, né, a gente ficava pensando quanto tempo vai durar, como seria... Estou separado já há alguns anos, e atualmente moro com as minhas irmãs. Minha filha e meu neto moram no Rio, e meu outro filho casou-se há pouco tempo, então, fiquei com minhas irmãs. A gente está tomando os cuidados pedidos (pelas autoridades sanitárias), saindo o mínimo possível", pontua. 
 
Com a agenda de compromissos presenciais em compasso de espera, como a de todo o universo da música no Brasil neste momento, Toninho vem aproveitando o tempo para colocar em revista o seu arquivo. "Veja, eu sempre fui muito cigano, viajante, mas sempre cuidei deste lado da catalogação (de sua obra), junto à minha empresa Terra dos Pássaros, o que me ajudava em questões como as de direito autoral, liberação... Mas com o isolamento, pude atualizá-la mais. E a gente também está aproveitando para disponibilizar material nos sites, no Spotify, no canal do YouTube... Enfim, organizando as coisas. Por este lado, até o final do ano com certeza eu tenho trabalho", ri.
 
"São mais de 30 discos, tem os de duo, de trio e até em quarteto. E cerca de 1.300 faixas registradas no mundo inteiro. Gravei com gente do Japão, da Europa, EUA...Então, estou conseguindo tempo para organizar tudo, e de certa forma isso é bom. Claro que a gente sente falta de sair para nadar, dar caminhada. Tem dias em que a gente fica mais ansioso. Mas esse tempo está sendo positivo para a concentração no meu trabalho".
 
Não bastasse, ele confessa que os dias transcorridos em casa o fizeram refletir muito e pensar em mudar alguns aspectos da condução de sua vida.  "Fiz 71 anos (no dia 2 de dezembro passado), e não me acho velho, ao contrário. Mas todo hora viajo, estou em hotel, avião, táxi, carro... Agora, estou pensando em fazer menos shows, mas mais bem produzidos. Me concentrar mais. Antes, lançava disco aqui e na sequência já embarcava, ia gravar na Ásia, na Europa. Mas, por outro lado, plantei muita coisa", reflete, justificadamente orgulhoso.
 
Em tempo: Posto que o artista resolveu abraçar o projeto #ARteSalva, a live também será transmitida no canal do Youtube do Mesa Brasil Sesc Durante a apresentação, será disponibilizado um QRCode para o público apoiar o #ARteSalva. Além disso, as doações desta live podem ser feitas por meio do link: https://bileto.sympla.com.br/event/65537/d/86423/s/451017
E sim, claro, a live também poderá ser acompanhada na página do artista no Instagram @toninhohorta.