São Paulo

Trajetória de Chiquinha Gonzaga é lembrada em mostra no Itaú Cultural

Exposição que começa nesta quarta (24) traz recursos de interatividade; um portal será lançado para visitas e atividades virtuais

Por Estadão Conteúdo
Publicado em 24 de fevereiro de 2021 | 13:26
 
 
 
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Uma exposição em homenagem a Chiquinha Gonzaga (1847-1935) pode ser vista no Itaú Cultural até 23 de maio. Sob curadoria dos núcleos de comunicação e música do instituto, co-curadoria da cantora Juçara Marçal e consultoria da biógrafa Edinha Diniz, uma seleção de documentos, partituras, objetos, fotos e conteúdos musicais resgata a trajetória e o legado da compositora e maestrina. Imortalizada pela criação de marchinhas clássicas como "Ó Abre Alas", Chiquinha teve uma vida marcada por ousadias tanto em sua carreira quanto em suas relações privadas. Tudo isso em um momento em que o Brasil passava por intensas transformações.

 A mostra, com entrada gratuita mediante agendamento, fica aberta até 23 de maio. Um site acompanhará a exposição, com uma série de conteúdos on-line, como entrevistas em vídeo, artigos e matérias exclusivas. O portal será lançado nesta quinta-feira (25).

Como em todas as edições das "ocupações" em homenagem a artistas e outras personalidades promovidas pelo Itaú Cultural, esta dedicada a Chiquinha traz recursos que promovem a imersão do público e a interatividade. O som transmitido no ambiente, por exemplo, remete o visitante às ruas do Rio de Janeiro do século 19, onde a maestrina e compositora viveu. Gravuras pertencentes à coleção Brasiliana ajudam nessa ambientação, com ilustrações de pontos como a Praça do Comércio.

Composições de sua autoria podem ser ativadas por recursos interativos, como pedais que acionam o som dos instrumentos de "Ó Abre Alas", e um piano de chão cujas teclas, ao serem pisadas, fazem exibir em uma tela interpretações de canções de Chiquinha por artistas como Di Ganzá e Maíra Freitas.

Chiquinha não apenas atravessou episódios históricos importantes, como a assinatura da Lei Áurea e a Proclamação da República. Sua própria vida refletia a complexidade daquele momento. Ela era filha de um militar branco com uma "parda liberta" e sentiu na pele as consequências de transgredir as restrições sociais impostas então às mulheres. Nesse sentido, a exposição busca resgatar a sua afrodescendência e exibe itens reveladores da conturbada separação do marido, em um momento no qual o divórcio não era uma possibilidade.

Indo viver com outro homem, Chiquinha foi acusada de "abandono do lar" e precisou anunciar o seu trabalho como professora de música para garantir o sustento dos filhos. Como será possível conferir na mostra, foi nesse meio-tempo que sua carreira deslanchou. Aprendeu a instrumentar de forma autodidata e, poucos anos depois, em 1885, se tornou a primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil, com a estreia de "A Corte na Roça".

A recepção de sua obra nem sempre foi favorável. Em 1914, por exemplo, Rui Barbosa fez um discurso (exibido na mostra) condenando a execução, em uma recepção presidencial, de uma composição da artista. Em sua última década de vida, Chiquinha ganhou, porém, o devido reconhecimento, sendo homenageada, em 1925, pela Sociedade Brasileira de Autores Teatrais - da qual foi uma das fundadoras - como "heroína maior da música brasileira".

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