Música

'Tudo é Jazz' 2020 começa nesta quarta, com Madeleine Peyroux e Celio Balona

Com a impossibilidade de realizar o tradicional evento presencial em Ouro Preto, o festival migra para o ambiente online

Por Patrícia Cassese
Publicado em 25 de novembro de 2020 | 17:58
 
 
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Com as merecidas reverências à sua mentora e curadora, Maria Alice “Biiça” Martins, que partiu há poucos dias, vítima da Covid-19, começa nesta quarta-feira a edição 2020 do "Tudo é Jazz". Devido à pandemia, este ano o evento, que segue até o dia 27, acontecerá em formato online, com shows transmitidos via streaming no www.tudoejazz.com, sempre a partir das 20h. A incumbência da abertura foi dada ao pianista e compositor recifense Amaro Freitas, tido como uma das revelações do jazz brasileiro. 

Na sequência, Madeleine Peyroux e Celio Balona "se encontram" virtualmente.  "Inicialmente, a gente tinha programado a edição física, em Ouro Preto e Belo Horizonte, para setembro", conta Rud Carvalho, produtor do festival. "Mas veio a pandemia, os meses foram passando, e a esperança de uma vacina ainda para este ano, diminuindo. Quando a gente viu que não teria como viabilizar a realização de eventos ao ar livre, remodelamos para o ambiente online. Então, a Maria Alice, que sempre trabalhou intercâmbios de influências musicais entre países, pensou em uma programação com dois shows por dia, sendo um de um músico brasileiro, e o outro, de um brasileiro com um artista internacional de renome. Com isso, a gente conseguiu manter um dos objetivos do evento (o de promover intercâmbios, como citado), apesar de a edição ser online".

Evidentemente, os encontros foram pautados pela presença de denominadores comuns entre as partes. "O Celio Balona, ele toca acordeão, que é um instrumento de forte conexão com a França, enquanto a Madeleine, por sua vez, morou durante a juventude dela naquele país. Então, eles têm influências parecidas. A Madeleine gravou o seu show no Blue Note de Nova York, que é uma das mais icônicas casas de jazz do mundo, e o Celio Balona, na sala Juvenal Dias do Palácio das Artes", narra Rud.

Na verdade, todas as apresentações são inéditas, mas foram previamente gravadas pelos artistas em seus respectivos países. Em Belo Horizonte as gravações foram todas realizadas na Juvenal Dias. "Como a Maria Alice já estava com Covid na ocasião, alguns músicos, por vontade própra, iniciaram suas apresentações com falas direcionadas a ela, desejando a recuperação dela. Isso foi de forma espontânea. E agora, vamos abrir com um lettering, oferecendo os shows a ela. Da mesma forma, foi feito um trabalho de pós-produção, com cartazes etc, em sua homenagem", conta Rud, lembrando que Maria Alice chegou inclusive a apresentar um grande melhora, o que animou a todos.

O produtor lamenta que, no curso deste ano, a Covid-19 tenha vitimando muitos expoentes do universo da música, inclusive da cena do jazz. "Perdemos muita gente na pandemia. Mas ela sempre dizia que ficaria em luto por 3, 4 dias, depois, seguiria a vida. A gente, na verdade, continua em luto (pela partida de Biiça, como Maria Alice era chamada pelos mais íntimos), mas também não queríamos imprimir aos shows um tom mais triste, e, sim, pensá-los como uma celebração à vida dela. Então, o tributo é sutil", esclarece.

Vale dizer que, no curso de sua história, o "Tudo é Jazz" já recebeu mais de 1.500 músicos. Um de seus ápices foi quando foi apontado pela revista "Down Beat" como um dos 10 melhores festivais de jazz do mundo. "O jazz, tradicionalmente, tem um público mais segmentado, mas como ela (Biiça) tinha esse olhar de uma curadoria mais ampla, eclética, o evento acabou angariando também um público mais jovem. E quando a 'Down Beat' fez esse reconhecimento, mais pessoas exterior também começaram a se interessar pelo evento. Acredito que esse formato online, agora, acabará sendo uma oportunidade para mais pessoas terem contato com o evento sem precisar viajar ou gastar. E, por outro lado, não vai ser um produto que vai acontecer na praça e acabar. Depois, vai ficar online, o que naturalmente vai ampliar seu alcance", diz, referindo-se ao fato de que o conteúdo ficará em streaming, possibilitando que as pessoas possam rever as apresentações dos seus shows favoritos ou assistir em horários que forem mais convenientes que não o estabelecido pela produção. 

A programação contará, ainda, com Túlio Mourão e trio (lançando novo CD), Natasha Agrama e Rogerio Delayon, Pianissimo Jazz (duo de piano e baixo acústico formado pelo pianista carioca Mauro Continentino e a baixista mineira Catarina Moura), Marcos Valle e Stacey Kent. "O Marcos Valle e a Stacey já fizeram shows junto, e, como já tinham esse entrosamento, prepararam um novo, que tenho certeza que vai agradar muito", diz o produtor.

Já sobre Agrama, Rud lembra que Maria Alice sempre gostou de trazer para Minas os chamados novos expoentes, como, no passado, como Madeleine, Norah Jones ou Jamie Cullum. "E hoje a cena mais efervescente está em Los Angeles, pela fusão do jazz com o hip hop".

Parceria das edições anteriores, o festival volta a contar, este ano, com a co-realização da Rede Minas.  Toda a programação é gratuita.

Empunhando a bandeira do jazz. Maria Alice “Biiça” Martins (1951 – 2020) foi a criadora do "Tudo é Jazz" e, durante as 17 edições, atuou como coordenadora e curadora do festival, tanto em Belo Horizonte quanto em Ouro Preto. Também foi curadora e coordenadora do “Tudo é Jazz no Porto” em 2013 e do projeto Som Clube, em 2001, 2014, 2016 e 2018 em Belo Horizonte. 

Nascida em Ponte Nova e formada em arquitetura pela UFMG, descobriu  jazz  na adolescência, quando teve contato com o gênero em um intercâmbio cultural. Além da música, foi coordenadora da 1ª edição da Mostra de Cinema de Tiradentes, em 1998. 

Foi responsável também pelas 14 edições do Festival da Vida de Mariana, cuja programação contou com nomes como Gringo Cárdia, Benki Pikãko -, Ashaninka entre outros, contando também com grandes nomes da música brasileira como Rita Lee, Nando Reis e Maria Betânia.  Biiça sempre investiu em novos nomes da música, como Thiago Pethit, Cobra Coral, Liniker, Gui Hargreaves, entre outros. Não bastasse, seus eventos sempre agregavam jornalistas importantes, do Brasil e do mundo, a exemplo de Zuza Homem de Mello.

Sobre Amaro Freitas
Influenciado pelo mestre do frevo Capiba, por Moacir Santos, Hermeto e Gismonti, mas também pelas grandes referências do piano jazz como Monk, Jarrett ou Corea, lançou o seu disco de estreia, "Sangue Negro", em 2016. No mesmo ano, arrebanhou o prêmio MIMO Instrumental.


Festival Tudo é Jazz 2020
Quando: 25 a 27 de novembro, às 20h Onde: www.tudoejazz.com
Evento gratuito


Programação:
Quarta dia 25: 20h
Amaro Freitas
Madeleine Peyroux fest Celio Balona

Quinta dia 26: 20h
Tulio Mourão e trio, lançamento do novo CD
Natasha Agrama feat Rogerio Delayon

Sexta dia 26: 20h
Pianíssimo Jazz
Marcos Valle feat Stacey Kent

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