“Barraco Barroco” é o nome do novo álbum do compositor, pianista, arranjador e ex-integrante d’Os Mutantes Túlio Mourão, que apresenta nove temas autorais e instrumentais em sintonia com o erudito, mas também passando pelo jazz e pela música popular espanhola. Ele explica o porquê da escolha pelo título: “Uso ‘barraco’ no sentido da gíria do conflito, e somos barrocos como os filmes de Glauber Rocha. Nossa realidade é fantasiosa, fantástica, dá um cacete na ficção, não tem García Márquez que aguente. O barroco sempre me fascinou e uma das características do movimento é a dramaticidade e a oposição entre luz e sombra. Estou me referindo a esse antagonismo: o país está fragmentado como nunca vi, com pouca construção de ideias e muito dramático. Gosta da conjunção gráfica e fonética das duas palavras, mas também acho oportuno”.

Nesta quinta-feira (26), “Barraco Barroco” será lançado em uma live, às 20h, dentro da programação do festival Tudo é Jazz. Na sexta, o disco chega às plataformas e, também às 20h, o músico mineiro fará outra live, desta vez em seu canal no YouTube, comentando faixa a faixa desse novo trabalho.

As nove canções pertencem a uma safra mais recente, à exceção de “A Dois Passos do Nunca”, tema que a banda de Milton Nascimento, da qual Mourão faz parte, sempre tocava nas aberturas dos shows de Bituca. “A Saga Ibérica”, que vai ganhar videoclipe a ser lançado na semana que vem,  “Tocata Poente das Araras” e “Serenata Sevilhana, esta com participação do violonista Juarez Moreira, trazem a influência da música espanhola, muito apreciada por seu pai.

“Ele escutava discos na vitrola, isso amadureceu em mim uma admiração por compositores como Joaquín Rodrigo. No disco isso ganhou forma. Tenho uma admiração por toda a arte ibérica, e também pela arte islâmica em muitos níveis. Isso é muito atual para mim”, comenta Mourão, que tocou nas bandas de grandes nomes da MPB, como Chico Buarque, e teve composições gravadas por Maria Bethânia, Nara Leão, Ney Matogrosso e o próprio Milton, entre outros.

A jazzística “Baile Acabado”, com a participação de Chico Amaral no sax, ganhou uma releitura atualizada e instrumental. Na versão cantada, com letra de Chico, a canção saiu no disco “Em Oferta”, de 2011, com o nome de “A Semana Inteira”. Em outra parceria, a guitarra de Toninho Horta se faz presente em “Céu de Cacos de Vidro”.

“Barraco Barroco” também diz respeito às celebrações de Túlio Mourão pelos 50 anos de carreira, completados em 2019, ano em que ele publicou “Alma de Músico”, livro de memórias em formato de crônicas. Depois de lançar alguns trabalhos em parcerias com outros artistas e privilegiando mais o lado pianista, o álbum reafirma o lado autoral do mineiro.

“O disco deixa o traço dessa minha análise olhando para trás e valorizando coisas que me motivaram e que ainda tem forças para me motivar. Quis dar atenção à questão do compositor, que é o que melhor me define. Sou um compositor pianista”, afirma o músico, que faz questão de ressaltar: “Compositor vem na frente”.