Ao falar sobre a estreia da segunda temporada de "Unidade Básica", programada para este domingo (3), às 23h, na Universal TV, o ator Caco Ciocler, que interpreta o Dr. Paulo, faz um paralelo com os dias atuais, de pandemia provocada pelo novo coronavírus. "É muito louco. Tenho pensado o quanto essa coincidência histórica (da entrada da produção na grade do canal no momento em que a curva de pessoas acometidas pela Covid-19 infelizmente ganha tônus no Brasil) é muito, muito triste, embora, dramaturgicamente, (a coincidência) seja feliz". O ponto positivo, prossegue o ator, refere-se ao fato de a série sempre ter tido a preocupação de colocar em evidência o trabalho duro e corajoso de médicos e demais profissionais da saúde que atuam em uma das principais etapas de quem necessita acorrer à saúde pública: as unidades básicas, citadas no título.
São, vale lembrar, a porta de entrada do SUS no país.
Tendo tido sua primeira temporada exibida em 2016, a série volta agora com algumas novidades, anunciadas pela equipe em entrevista coletiva à imprensa realizada na última quarta-feira, por hangout. A começar dos bastidores: Caco Ciocler, além de atuar, assina a direção de dois episódios.
Já a personagem da médica Laura, vivida pela atriz e roteirista Ana Petta, ganha mais protagonismo, ecoando questões que estão na ordem do dia, muitas dessas, ligadas às lutas das mulheres. Mentor da iniciativa junto às irmãs Helena Petta e a já citada Ana, Newton Cannito explica: "Laura, nesta segunda temporada, se torna mais potente. Há uma certa inversão do quem aprende com quem", diz, fazendo referência à relação da personagem com o colega Paulo. "Ele, Paulo, tem uma questão pessoal com a Laura que atrapalhava a dupla. Agora, temos a Laura mais fortalecida, empoderada, e ele mais perdido, irritado, e colocado em um canto, acuado", pontua Ciocler.
Ana arremata: "Na primeira temporada, ela era uma médica recém-formada, que chega (na UB) com a formação tradicional e acha que com essa vai dar conta da realidade. Porque as pessoas têm uma falsa ideia de que a atenção primária é um lugar mais 'simples', no qual os recém-formados vão passar um tempo, aprender, para depois trabalharem nos hospitais. Mas a alta complexidade está ali, pois é preciso também lidar com problemas sociais, de desigualdade... A gente já está vendo, nessa pandemia, a diferença gritante (do avanço de casos) em regiões mais pobres. A Laura está longe de ser uma heroína, ela erra o tempo todo. Na verdade, a sua formação não dá conta (da realidade). Nesta segunda temporada, ela já aprendeu mais coisas, está mais forte. Ainda vai errar muito, mas se identifica mais com as questões femininas. Agora, é difícil ser heroína naquela realidade, porque, diante de questões como a violência doméstica, o médico só consegue avançar até certo ponto, depois, é dificil. Ou seja, o 'heroísmo' acaba sendo limitado pela realidade".
Médica, a roteirista Helena Petta é outra a traçar um paralelo com a situação atual. "É uma honra estrear a série num momento tão difícil, em que o debate sobre a saúde pública no Brasil ganha outra dimensão. Ao mesmo tempo que está todo mundo muito tocado, entristecido com tudo o que vem acontecendo, eu acho que a série é importante para dar visibilidade ao sistema público de saúde e, em particular, para esse nivel de atenção, a primária, que é muito importante na resposta a essa pandemia por tratar questões fundamentais, relacionadas às vulnerabilidades, como afetam a saúde das pessoas. Questões como as de moradia, de gênero... Essa temporada vai trazer muitas questões que têm muito a ver com o nosso momento atual".
Ana Petta concorda: "Estamos muito emocionados neste momento (pela temporada estrear agora), muito tocados. É um momento de tristeza, mas é a série também é uma forma de homenagear o SUS. Esses profissionais que atuam na saúde pública do país sempre foram a nossa inspiração. Tentamos mostrar esse esforço enorme de superação diante das dificuldades que encontram, mostrando que é possivel fazer um trabalho humano. Espero que cada episódio seja uma pequena homenagem a todos eles".
No cômputo geral, Caco Ciocler lembra que "Unidade Básica" se diferencia da maior parte das séries que têm hospitais como cenário por algumas singularidades. "Desde o início, sempre achei (a iniciativa) corajosa por abrir mão dos ingredientes básicos a essas séries médicas de sucesso no mundo, como a adrenalina, o foco em casos raros, conduzidos por mirabolantes médicos bonitões, charmosos e sedutores. Ela abandona esses ingredientes e vai para um outro caminho, com um ritmo das UB, que é mais do cotidiano das emergências, mostrando uma medicina mais humana, mais afetiva, mais corajosa, mais familiar. Desde sua criação, sempre me pareceu muito corajosa. Uma aposta arriscada. E, nessa nova temporada, tiveram uma nova coragem, que foi a possibilidade de me deixar dirigir dois episódios com uma liberdade assustadora. Eu já havia dirigido um documentário, mas ficção é ficção, e eu não sou um diretor. Estou me sentindo, assim, em êxtase em fazer parte desse projeto, e dentro de uma triste coincidência histórica. A gente está tratando de uma classe tão desacreditada, jogada para o escanteio, e que por essa infeliz coincidência, agora volta a ocupar, de forma heroíca, uma posição de protagonismo histórico. E a gente vai falar desses caras e desse universo.. Infelizmente, não podia estar estreando em momento melhor, dramaturgicamente falando".
Em tempo: todos os casos apresentados são construídos não só com a ajuda de Helena, que, como já dito, é médica, como com um rede de profissionais que, conta ela, são contactados a cada episódio.
O elenco conta ainda com Vinícius de Oliveira e a Carlota Joaquina, que também fizeram parte da primeira temporada, e novos nomes como Fabiana Gugli, Lina Mello e Gabriel Calamari. O Universal TV irá exibir episódios duplos, todo domingo, às 23h e às 23h30