Websérie #Quarentemas lança trilha original de Tatta Spalla

Não foi propriamente um début, mas Tatta Spalla confessa que bateu um frio na barriga ao ser convidado para assumir a criação da trilha sonora da websérie #Quarentemas, projeto criado pelo Teatro em Movimento em meio à pandemia e o decorrente fechamento dos teatros. "Até então, eu tinha participado apenas da criação de uma única trilha, dois anos atrás: a de 'Deus e o Cachorro', um curta-metragem do Bruno Costa", conta. Passado o susto, o trabalho fluiu de tal jeito que rendeu até material inédito. 

Como se sabe, os episódios da iniciativa, que tem ido ao ar às quintas-feiras, duram de 4 a 5 minutos, em média. Não por outro motivo, Spalla compara as composições a "haicais musicais", aos quais ele se dedicou com entusiasmo e criatividade. A partir desta quarta-feira, a boa notícia é que 12 desses temas poderão ser acessados pelo público nas plataformas digitais, com o lançamento do Volume 1 das trilhas. Como o título sugere, o projeto terá um desdobramento - mesmo porque, a websérie, que segue até o fim do mês, reunirá, ao fim, 20 episódios. O próximo volume deve trazer outros 13 temas.

Assim que assumiu o trabalho, Spalla se reuniu com alguns dos nomes envolvidos no projeto, que trataram de lhe inteirar dos objetivos. Gente como os diretores Éder Santos, Gilberto Scarpa e Inês Peixoto, e com Barão Fonseca. "Eles me deram uma direção para que eu pegasse a minha emoção e a levasse a um lugar, ou a vários. E acabou dando certo". À maioria dos episódios, ele não assistiu antes de compor. "Não foi uma coisa de compor em cima da imagem. Mas, de qualquer maneira, eu sempre ficava maravilhado com o resultado, porque a música aliada à imagem, puxa, é tudo. Áudio e vídeo juntos é uma coisa maravilhosa. Lógico que tendo tido esse norte emocional, a orientação deles no sentido de para que direção levar, ficou mais fácil acertar", reconhece, rindo.

Sobre os parceiros, ele é só elogios. "O Éder é surpreendente. A visão da direção de cinema e de vídeo que ele tem! E a biblioteca musical que traz na memória... Impressionante. Não é que antes eu não pesquisasse, mas,  com essa questão da imagem, fui pesquisar outros compositores, outras coisas. E abriu-se, para mim, um vasto e rico território de pesquisa, o que devo muito à generosidade dessas pessoas comigo, assim como à liberdade e à segurança que me deram. Certo dia, o Éder me ligou. Um sábado. Eu estava imerso no processo de composição, mas, por acaso, naquele momento estava no fogão, cozinhando feijão em uma panela de pressão. Ele, do nada, disse: 'Nossa, mas que som legal'. Acontece que eu estava trabalhando para um episódio no qual precisava de um som meio espacial. Falei: 'Cara, achei o som da nave: é a panela de pressão'. Hoje somos grandes amigos. A gente bate papo, ri muito. Espero que possamos trabalhar cada vez mais juntos, realmente estou muito feliz de ter conhecido essa galera toda. Pessoas muito bacanas, muito bem humoradas". 

Ambiente de gravação

Coincidentemente, o convite para participar de "Quarentemas" flagrou Tatta e a família em um processo de mudança. Em função da pandemia, eles se mudaram para um sítio, em Pasárgada. "Então, tinha o caos da mudança, e cada dia eu estava em um lugar da casa compondo. E tinha que pegar madeiras, colocar uns cobertores para gravar. De repente estava no quarto, noutro dia, na copa, e no seguinte, na sala. Mas foi uma experiência interessante, criar um ambiente de gravação com as ferramentas que tinha em mãos".

A criatividade entrou em campo com tudo, como comprova o já citado episódio da panela de pressão. Mas não só. "Teve uma trilha que fiz homenageando o Sergio Ricardo, que faleceu ano passado. Essa trilha tem uma coisa meio Glauber Rocha, fiz uma coisa nordestina. Em outra, tinha um menino tomando uma sova da mãe. Peguei um cinto e comecei a bater na parede. Todas, de uma certa forma, tiveram a sua particularidade. O episódio do João Vitório, um garoto supertalentoso, fiz uma coisa de parque, de circo. Teve uma que fiz uma onda meio do David Lynch. É isso, essa coisa do fazer, de compor, extraindo sentimentos, emoções musicais... é uma coisa infinita. Um mundo vasto".

Tatta Spalla é produtor musical, compositor, guitarrista e cantor. Estreou na sala Ceschiatti, em BH em 1984. Em seguida, a convite de Lô Borges, viajou pelo Brasil na tour "Solo". Integrou a banda de Seu Jorge por seis anos. De lá pra cá, viajou para os EUA e também Europa. Com quatro álbuns gravados, sendo o último gravado e lançado na Europa. Spalla tem músicas gravadas nas vozes de Cássia Eller, Paula Lima, Seu Jorge, Sérgio Mendes e outros artistas. É parceiro de Seu Jorge, Paulo Ricardo (RPM), Jon Anderson (Yes), Toninho Horta dentre outros. Em 2016, tocou no Montreux Jazz Festival.

Serviço:

Lançamento Tatta Spalla - Trilha #Quarentemas 

20 de janeiro, quarta-feira - Plataformas digitais: Spotify, Apple Music, Deezer e Tidal. 

A websérie #Quarentemas tem exibição pelo perfil do Instagram @teatroemmovimento e pelo canal no youtube.com/teatroemmovimento.