AGRICULTURA

‘Arroz e feijão’: como as chuvas no RS podem impactar o prato do brasileiro

Rio Grande do Sul é responsável por mais de 70% da produção de arroz; temporais na região já deixaram 90 mortos

Por Shirley Pacelli
Publicado em 08 de maio de 2024 | 15:34
 
 
 
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A sagrada dupla do prato do brasileiro - o ‘arroz e feijão’ -  virou tema de discussões nessa terça-feira (7/5), após o presidente Lula dizer que o Brasil pode ter que recorrer à importação para garantir o abastecimento e preço depois que as chuvas no Rio Grande do Sul afetaram a colheita. 

Os prejuízos para a agricultura do Estado são de R$ 435 milhões, do total de R$ 4,6 bilhões estimados, segundo um levantamento da Confederação Nacional dos Municípios (CNM).

Os gaúchos, realmente, são os maiores produtores de arroz do país, sendo responsáveis por mais de 70% do total, e ainda são destaque no mercado do trigo, soja, frango, suínos e ovos. Mas o feijão citado por Lula é produzido, especialmente, por Paraná, Minas e Bahia. 

Por ano, o Brasil produz mais de 10 milhões de toneladas de arroz, valor exato do consumo do mercado doméstico. Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), a colheita do cereal no RS, que começou em fevereiro, já estava bastante atrasada em relação a anos anteriores e pode ser ainda mais prejudicada com as chuvas, já que as lavouras estão debaixo d’água. 

Mas vale lembrar que a maior parte do arroz produzido no país é cultivado em um sistema de irrigação por inundação, onde a produção fica sob uma lâmina de água. Essa característica torna a cultura mais resistente às enchentes.

Até o dia 25 de abril, 78,76% da área total semeada no Rio Grande do Sul, de 900.203 hectares, já haviam sido colhidos nesta safra de 2023/2024. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), as fortes chuvas que atingem o estado terão, sim, impacto na produção agrícola do Estado, mas ainda é precipitado fazer qualquer previsão de quantitativo e de suas influências em relação ao abastecimento e aos preços. “A prioridade da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) é salvar vidas e atender as necessidades básicas das famílias atingidas pelas cheias, como alimentação”, informou o órgão.

Diogo Santos, economista da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Ipead/UFMG), explica ainda que o arroz, que é comercializado no mercado internacional, já estava apresentando maior elevação de preço no Brasil nos últimos meses devido à diminuição da exportação da Índia. Segundo ele, o país também já importa uma pequena quantidade de arroz de outros países, como o Paraguai, importante produtor do cereal na região. 

“O presidente Lula fez esse anúncio [de importação], que eu entendo como preventivo, caso haja algum tipo de especulação em termos do preço do arroz ou uma uma impossibilidade mais prolongada de comercialização por conta dos problemas logísticos”, diz. 

Pontes, estradas e rodovias foram completamente destruídas com os temporais no Sul. A estimativa de prejuízo em infraestrutura no Estado é de R$ 91,3 milhões, segundo a CNM. 

Para o economista, o Brasil poderia ampliar a quantidade de arroz que já importa apenas para evitar qualquer tipo de “repique” de elevação do preço do arroz, enquanto se normaliza a situação no Rio Grande do Sul.


Veja o estado de outras áreas da agropecuária no Rio Grande do Sul após as chuvas: 


SOJA

Atrás apenas do Paraná, o Rio Grande do Sul é o segundo maior produtor de soja no Brasil.

A projeção para safra 2023/2024 era de uma colheita recorde de 22,24 milhões, porém, as chuvas retardaram as atividades do campo e vêm gerando preocupação sobre a qualidade das lavouras.

De acordo com o Cepea, o excesso de umidade tende a elevar a acidez do óleo de soja, o que pode reduzir a oferta de boa qualidade, especialmente para a indústria alimentícia. 

Há produtores que já estimam que a colheita não deve atingir 20 mi. Segundo a Associação Brasileira dos Produtores e Soja (Aprosoja Brasil), da área total de 6,6 milhões de hectares, 70% já havia sido colhida. O valor, segundo a Emater/RS é inferior aos 83% da média dos últimos cinco anos. 


TRIGO

O Rio Grande do Sul é hoje o maior produtor de trigo do país. Segundo dados do IBGE, em 2022 foram produzidas 5,2 milhões de toneladas no Estado. A estimativa da safra 2023/2024 de todo o país é de 9,6 milhões de toneladas. Neste ano, devido aos valores menos atrativos devido à ampla oferta do trigo argentino, as projeções eram de uma diminuição da área cultivada pelos gaúchos. 


MILHO 

A colheita da safra de verão do milho está praticamente paralisada no Rio Grande do Sul. Segundo a Emater/RS, a colheita atingiu 83% da área sul-rio-grandense até o dia 02 de maio. 

As projeções da Conab eram de uma produtividade 40,3% superior ao obtido na última safra. 


FRANGO, SUÍNOS E OVOS

O Cepea informou que as chuvas têm prejudicado as negociações envolvendo frango, suínos e ovos porque o transporte do produto está comprometido, já que as estradas e rodovias do Estado foram severamente danificadas. Os produtores também relatam dificuldade em adquirir insumos, como rações, além de embalagens e caixas, no caso de ovos. Propriedades rurais de produção suinícola e avícola também foram danificadas, mas o cálculo do prejuízo ainda não foi calculado.

Segundo o IBGE, em 2022, o Estado tinha 573 mil cabeças de suínos, atrás apenas do Paraná e Santa Catarina. O Brasil é o maior exportador de frango do mundo e a região Sul concentra a maior parte do abate. 

 

PECUÁRIA DE CORTE

Lotes de animais para abate não foram transportados aos frigoríficos devido à destruição de pontes e trechos de estradas, segundo o Cepea. Compradores e vendedores estão fora do mercado à espera de que a situação seja controlada.  


Em 2023, 519 mil animais foram abatidos no Estado, segundo dados do IBGE. 

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