SÃO PAULO - O ex-ministro da Fazenda na gestão de Dilma Rousseff (PT), Joaquim Levy avaliou que a economia brasileira caminha bem, apesar de alguns ‘ruídos’ do mercado, e projetou um crescimento menor do PIB em 2025. Com uma projeção de inflação acima da meta, ele afirmou que o governo precisará reforçar o compromisso fiscal neste ano. 

O economista, atualmente diretor de Estratégia Econômica e Relações com Mercados do Banco Safra, teve uma passagem relâmpago à frente da pasta, em 2015, quando o país aprofundou-se em uma intensa crise econômica e política que culminou com o impeachment da ex-presidente em 2016. 

Em palestra durante um evento da Cimed, gigante do mercado farmacêutico, em São Paulo, Levy afirmou que o desempenho da economia brasileira será afetado, diretamente, pelas ações econômicas de Donald Trump, nos Estados Unidos. O presidente norte-americano já anunciou tarifas sobre importações de aço e alumínio e estuda a possibilidade de taxas também sobre o etanol brasileiro. 

Para a indústria farmacêutica, no entanto, não há previsão de um ‘tarifaço’, até o momento, indicou o ex-ministro. Joaquim Levy citou que os Estados Unidos devem enfrentar alta na inflação em torno de 3,1%, em função das medidas econômicas, mas também da deportação de imigrantes que vivem ilegalmente no país. A saída dos estrangeiros é uma promessa de campanha de Trump e deve reduzir a oferta de mão de obra no país em pelo menos 5 milhões de trabalhadores.

Para o Brasil, Joaquim Levy projeta um crescimento lento do Produto Interno Bruto (PIB). A economia nacional deve crescer 1,5%, menos da metade dos resultados de 2024, quando o PIB expandiu 3,5%. O crescimento só será possível se houver ‘disciplina fiscal’ para dar segurança a ‘investimentos’ e para garantir a eficácia do arcabouço fiscal. 

Inflação

A inflação calculada pelo economista para o país é de 5%, considerada ‘um pouco acima da meta’ pelo ex-ministro e poderá ficar abaixo desse percentual a depender do desempenho do dólar, projetado para R$ 5,70. 

Já para a Selic, que está em ritmo de alta desde o ano passado, Joaquim Levy assinalou que a postura contracionista do Banco Central tem surtido efeito ‘para a atividade econômica e na inflação’ e que, para o segundo semestre, a projeção é de que os juros sejam reduzidos. Atualmente, a taxa está em 13,25% 

Por fim, o ex-ministro de Dilma citou um horizonte nebuloso, ‘mas que traz oportunidades’ de crescimento ao Brasil. 

Relembre

Joaquim Levy ficou por 11 meses no Ministério da Fazenda, em 2015. Ele sucedeu Guido Mantega e viveu cenário semelhante ao vivenciado pelo atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT). Levy foi nomeado, à época, com o desafio de organizar contas públicas. Chegou a ser apelidado no governo de “homem do ajuste” por desejar cortes de gastos e pelas tentativas de estabelecer um ajuste fiscal no orçamento do governo, fatores que o levaram a ser duramente criticado no PT e ser tratado como ‘aliado do mercado’. 

Levy deixou o governo sem conseguir entregar o que pretendia e ‘carrega’ o fardo de liderar a economia nacional no período em que o Brasil entrou em recessão e perdeu o selo de país bom pagador. 

*Repórter viajou a convite da Cimed.