Feiras de negócios e eventos corporativos, com movimentações bilionárias entre empresários, fornecedores e consumidores, devem ter um crescimento de 20% em Belo Horizonte neste ano. Esse percentual se soma à expansão de 40% observada em 2024 na capital mineira, em um momento de avanço em todo o país, mas ainda com desafios na atração de novos aportes, conforme interlocutores do mercado. No ano passado, o ramo de viagens corporativas no Brasil faturou R$ 13,5 bilhões, superando o recorde do setor, que havia sido registrado em 2022, com R$ 11,2 bilhões, de acordo com a Associação Brasileira de Viagens Corporativas. 

Em BH, uma pesquisa da Empresa Municipal de Turismo (Belotur) apontou que a metrópole recebeu turistas que viajaram a trabalho, de todas as regiões do país, além de outros países, como Alemanha, Arábia Saudita, Estados Unidos e Índia. A movimentação gerada por esse público, além de movimentar espaços tradicionais para a realização de eventos corporativos, também traz benefícios ao comércio, hoteis e atrativos turísticos, não só da capital, mas de cidades vizinhas.

Um dos espaços com mais demanda para feiras promovidas por empresas e setores econômicos é o Expominas. Anualmente, o centro de convenções, localizado no Gameleira, recebe eventos de setores como o automotivo, mineração, cafeicultura, supermercados, indústria, entre outros. Para este ano, a diretora executiva do Expominas, Márcia Ribeiro, afirma que a agenda está quase lotada, mas ainda há datas disponíveis. Em 2024, as feiras realizadas por lá somaram mais de R$ 6 bilhões em negócios fechados.

No entanto, apesar das boas projeções, ela cita que há gargalos a serem superados para impulsionar ainda mais a posição de BH como um destino para o turismo de negócios. Um dos problemas está ligado ao Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse), estabelecido ainda no contexto da pandemia de Covid-19. "O governo precisa cumprir o que foi pactuado. O receio do setor quanto ao não cumprimento traz uma instabilidade, em um momento ainda de recuperação", descreve.

Ribeiro menciona que há processos burocráticos que desestimulam organizadores de eventos, além de problemas relacionados à infraestrutura. "Atrair grandes eventos requer um alinhamento com o desenvolvimento das cidades. E essa sintonia é inexistente nas cidades", complementou.

Cenário distinto

Jota Tomás, CEO do Grupo Chevals, responsável pela administração do BeFly Minascentro, na avenida Augusto de Lima, afirma que BH vive uma estagnação na realização de feiras de negócios de pequeno e médio porte - foco de atuação da empresa. Tomás destaca que há um planejamento para incentivar a atração de eventos desse perfil na capital. "As ações passam pela pesquisa e captação de projetos locais, com ações também em outras cidades e estados e, para isso, oferecemos condições comerciais especiais para viabilizar novos projetos, além do apoio técnico aos organizadores em todas as etapas do evento", detalha.

Neste ano, o objetivo é superar os 150 eventos realizados, dentro do chamado multiformato. "Que nos permite receber desde reuniões em nossas salas até grandes congressos internacionais, que ocupam todos os espaços disponíveis", projeta. A agenda também está com alto índice de ocupação, mas ainda há dias disponíveis. "Em paralelo, a agenda de 2026 já está aberta com reservas e negociações, e estamos prontos para expandir a ocupação", salienta.

No Centerminas Expo, no bairro União, região Nordeste da capital mineira, a operação chega ao terceiro ano, recebendo eventos tradicionais como a Expocachaça e atividades da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Para este ano, a empresa busca aumentar os segmentos atendidos e expandir o número de locações. Os primeiros eventos de destaque do ano serão a Bienal do Livro, Feira do Bebê e Gestante, entre outros, conforme informado pelo CEO do espaço, William Leonel.

"Graças à estrutura versátil, o Centerminas Expo consegue atender a diferentes demandas, o que reforça sua posição como um dos principais centros de eventos da capital", disse. Em 2025, a empresa investiu na ampliação de docas para logística de carga e descarga, novas cozinhas de apoio para buffets, além de melhorias em outras partes da estrutura. "Essas melhorias garantem ainda mais conforto e eficiência para expositores, organizadores e visitantes", complementa a administradora do Centerminas Expo, Silvana Rigotto.

Eventos movimentam comércio, hotelaria e geram empregos

De acordo com a Belotur, os turistas que estiveram em BH, em 2024, a negócios, tiveram um gasto médio de R$ 1.590,40. Desse total, quase 30%, ou R$ 442,21, foram gastos em bares e restaurantes da capital com alimentação, enquanto 20%, pouco mais de R$ 315, foram destinados a passeios e compras no comércio.

"A gente tem esse apelo muito grande para o turismo de negócios. E o aumento desses eventos traz, não só ao comércio, mas a todo o setor de serviços, muitos benefícios. Temos aumento no setor hoteleiro, gerando emprego e renda de forma direta, além dessa movimentação no comércio, com aumento de vendas", detalha a economista da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomércio MG), Gabriela Martins.

O consultor estratégico em hotelaria Maarten Van Sluys acredita que BH tem uma logística favorável à realização de eventos corporativos, mas ainda precisa avançar em soluções de mobilidade para destravar o setor. Mas, mesmo com dificuldades, ele afirma que, para o setor hoteleiro, as feiras, convenções, exposições e congressos são um grande diferencial para os resultados. "A gente vive, quando tem grandes eventos, uma superlotação. Faltam hoteis e usamos até outras plataformas de hospedagem ou cidades do entorno, como Nova Lima, Brumadinho, Contagem e Betim", disse.

Maarten menciona que há um aumento no valor das diárias durante os grandes eventos. "Mas não adianta cobrar caro, porque se Belo Horizonte se tornar uma cidade muito cara, a gente perde como destino. Os preços precisam ser razoáveis", comenta ele, também membro do Conselho Municipal de Turismo.

Oportunidades para além dos limites da capital

A movimentação empresarial na capital também reverbera com demanda turística para cidades vizinhas e municípios históricos de Minas Gerais. O secretário de Estado de Cultura e Turismo, Leônidas Oliveira, afirmou que os municípios mais procurados são Brumadinho, com impacto direto do Inhotim, e Ouro Preto, além dos bares e restaurantes e o Circuito Cultural Praça da Liberdade, em BH. "Uma feira, simpósios, congressos naturalmente movimentam um universo que transcende a localidade", lembrou Oliveira.

Em 2024, conforme a pasta, Minas Gerais foi o segundo estado que mais recebeu viajantes corporativos, com 13,22% do total, ficando atrás apenas de São Paulo. A capital mineira, segundo um levantamento da Onfly, foi a mais procurada para eventos dessa natureza, com demanda acentuada nos meses de maio a outubro. O Inhotim, em nota, citou que, além do impacto de turistas que visitam o museu, também recebeu, em 2024, mais de 600 eventos corporativos.

"Esse número reflete uma tendência clara do mercado, em que as empresas buscam mais do que convenções tradicionais. Há uma busca cada vez maior por experiências imersivas que conectem os participantes a algo além do ambiente corporativo, proporcionando não só oportunidades de negócios, mas também momentos de interação com a arte, a natureza e a cultura", diz. Para 2025, a expectativa é de crescimento, segundo o museu. "O movimento de negócios, combinado com a experiência artística e cultural proporcionada pelo Inhotim, atrai um público diversificado, que muitas vezes acaba estendendo sua visita para além do evento corporativo", frisou.