A Selic, a taxa básica de juros da economia brasileira, deve ser reajustada a 14,25%, nesta quarta-feira (18), pelo Banco Central (BC). O aumento já está ‘contratado’, desde dezembro do ano passado, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) cravou o percentual até março. Mas, segundo economistas, a previsão é de que esta não seja a última expansão aplicada neste ano. 

Algumas projeções indicam que, mantido o cenário atual de descompasso entre as políticas fiscal, do governo, e a monetária, conduzida pelo BC, a Selic pode ultrapassar os 15% até o final do ano, enquanto outros cálculos miram juros de até 17%. No pano de fundo da dicotomia entre União e Banco Central está o combate à inflação que, nos últimos 12 meses, soma 5,06%, de acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). 

A estimativa até o final do ano é de 5,66%, de acordo com o boletim Focus - também acima da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). O economista Carlos Caixeta, associado do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), salientou que há uma cobrança forte para que o governo tenha uma política de gastos mais equilibrada, para garantir a confiança de agentes econômicos. 

“Até porque, se ele não fizer isso e a inflação crescer por excesso de gastos do governo e excesso de estímulo para que as pessoas gastam e consumam mais além da capacidade produtiva do próprio país, o Banco Central vai ter que agir e o Banco Central age aumentando a Selic que, por sua vez, inibe a atividade econômica e o país fica com o crescimento econômico reduzido, estrangulado”, destacou. 

No mesmo tom, o coordenador do curso de Ciências Econômicas da Ibmec-BH, Ari Francisco, argumentou que a postura contracionista do Banco Central é amparada em lei, para garantir o cumprimento da meta inflacionária. Ele afirmou ainda que o descompasso entre política monetária e fiscal não é recente e deve ganhar novos capítulos com planos do Executivo em fomento ao consumo.

Como exemplos, o docente citou o projeto para isentar o Imposto de Renda dos trabalhadores que ganham até R$ 5 mil e a criação do crédito consignado para trabalhadores, que garante empréstimos usando até 10% do saldo do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).

“A política monetária vem sendo feita de modo relativamente responsável, dentro desse objetivo de manter a inflação baixa. Mas por outro lado, no lado fiscal, o governo vem agindo para atrapalhar esse objetivo. Claro que o governo tem objetivos próprios, entre eles se manter no poder”, disse Ari. Carlos Caixeta, do IBGC, também vê ações do governo já mirando as eleições de 2026 e, também, o cumprimento de promessas feitas em 2022. 

“O governo, com essas medidas, tenta aumentar a popularidade do presidente Lula, já pensando na reeleição do presidente. Só que essas medidas, elas têm o efeito de impulsionar o consumo. Isso é exatamente o oposto que o Banco Central busca, aumentando a taxa Selic, que é um movimento para conter a inflação. O Banco Central vai ficar atento a esses movimentos e caso entenda que o governo expandindo os gastos esteja influenciando a inflação e aumentando a projeção das inflações futuras, vai ter que agir aumentando a taxa Selic”, completou Caixeta. 

Neste sentido, o especialista em investimentos e sócio da GT Capital, Josias Bento, salientou que há uma grande dúvida sobre qual será o ritmo adotado pelo Copom nas próximas reuniões: “Isso é o que o mercado de fato vai ficar de olho. Acredito que podemos esperar mais dois aumentos, um de 0,75 p.p. e um de 0,25 p.p. para encerrar o ciclo de alta e fecharmos o ano nos 15% de Selic", calculou. 

Restrição a investimentos 

Em nota, a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) afirmou que o crescimento da Selic dificulta os investimentos, em especial para as pequenas e médias empresas. “Também agrava o rombo fiscal, pois cada ponto percentual de juros representa R$ 55 bilhões adicionais no serviço da dívida pública, retroalimentando a inflação”, argumentou a Associação. 

A entidade criticou o descompasso das políticas monetária e fiscal que, conforme a Abit, prejudica o setor produtivo. “Esta dicotomia cria um ambiente de incerteza que paralisa as decisões empresariais. A falta de previsibilidade econômica impossibilita o planejamento eficaz, levando os empresários a adotarem uma postura defensiva de preservação de liquidez, em detrimento da expansão produtiva. A continuidade desse cenário acelera riscos de desindustrialização em setores estratégicos”, sinalizou.