Criar o cardápio, ir ao supermercado, descascar, picar, cozinhar e separar em porções. Se alimentar de forma equilibrada tem sido o objetivo de muitas pessoas, seja por saúde ou estética, mas essa meta muitas vezes esbarra em um rotina conturbada ou na falta de habilidade na cozinha. Para resolver esse problema, muitos empresários têm apostado na venda de marmitas saudáveis congeladas e faturado até R$ 160 milhões por ano.
Quem tem conquistado este público é a empreendedora Luciana Pereira, fundadora da Sensações Mineiras Fit. Após trabalhar de carteira assinada na área administrativa, ela ficou desempregada e resolveu fazer um curso de culinária “sem nenhuma pretensão além de cozinhar melhor em casa”. Os amigos incentivaram que ela investisse na área e um deles fez a primeira encomenda: cinco unidades por R$ 200. A partir daí, tudo deslanchou.
“Nem sei se a precificação estava correta, mas foi um jeito de começar. Fui fazendo e divulgando, as redes sociais ajudaram muito. Hoje, vendo cerca de 400 marmitas por mês, quase sempre no sistema de combos. As pessoas já compram em maior quantidade e vão usando no dia a dia. Um pacote com 10, por exemplo, sai entre R$ 150 e R$ 170”, conta.
O cardápio da empresária é fechado e alterado conforme a sazonalidade dos produtos, incluindo mudanças nos preços das carnes e itens de hortifruti. Para alguns clientes, ela também personaliza a quantidade de proteína e carboidrato conforme a necessidade nutricional de cada um. “De forma geral é um produto que dá um bom retorno financeiro, chego a lucrar cerca de 300% com as marmitas”, garante.
Para o especialista Renato Lana, analista do Sebrae Minas, aproveitar ingredientes sazonais para diminuir os custos de produção é o caminho certo e os empreendedores também devem adotar outras estratégias para o sucesso do negócio. Entre elas está a boa escolha das embalagens, para preservar o sabor e a qualidade dos alimentos.
“Tenho percebido que esse é um mercado em expansão e com diferentes oportunidades para quem vende. Há pessoas com restrição alimentar e também há clientes focados em desempenho esportivo ou famílias que desejam seguir uma alimentação mais saudável, mas não têm tempo para pensar em cardápio, fazer as compras e cozinhar”, acrescenta.
De olho nessa expansão, Luciana aponta que pretende abrir uma fábrica para triplicar sua produção e atender mais clientes. “Também quero criar novas linhas. Uma de marmitas para bebês, para os pais atarefados, e uma de marmitas teen, para facilitar a vida dos jovens que estão naquela fase de entrar na academia ou perder peso. Tenho um filho de 9 meses e outro de 13 anos, então entendo bem essas duas realidades”, afirma.
Diversificação de renda
O coach de saúde e bem-estar Carlos Ornelas viu no ramo das marmitas uma forma de criar uma nova linha de atendimento aos seus clientes. Muitos deles, que contratavam sua consultoria, afirmavam que estavam dispostos a seguir uma alimentação mais saudável - mas esbarravam na falta de tempo e de criatividade para cozinhar. Foi quando uma proposta chegou para o empreendedor.
“Uma cliente propôs pagar para que eu fosse até a casa dela para fazer as marmitas. Postei nas redes sociais e a coisa foi se espalhando. De repente, me vi com 54 pedidos em apenas um final de semana e percebi o potencial desse serviço para diversificar a renda. No início eu oferecia opções personalizadas, como marmitas veganas ou sem glúten, mas depois passei a vender cardápios fixos para facilitar a produção”, conta.
Atualmente, o empreendedor oferece opções tradicionais e fitness incluindo filé de peixe, contra filé e frango assado. Os preços variam entre R$ 16 e R$ 35, dependendo do tamanho, e ele consegue faturar cerca de R$ 2 mil por mês com as marmitas. “Só não vendo mais por falta de tempo, pois comecei a atender em uma clínica. Já cheguei a comercializar 200 unidades por mês e hoje consigo vender metade disso”, relata.
O diferencial da marmita “feita em domicílio” conquistou a psicóloga Patrícia Valadares, que sempre teve o hábito de comer alimentos saudáveis. Por ter morado no interior boa parte da vida, sem acesso fácil a fast food ou industrializados, ela conta que sempre optou por uma alimentação mais natural, o famoso “descascar mais e desembalar menos”. Ela afirma que também sempre gostou de cozinhar, mas nem sempre conseguiu achar tempo para isso.
“Houve um período no ano passado em que passei meses debruçada em um projeto e não conseguia me planejar. Pedir delivery também não era uma opção, pois passo mal com o tipo de tempero usado. Foi aí que encomendei as marmitas e consegui manter uma alimentação dentro do que eu já estava acostumada. Também é bom não ter que sair para fazer compras e não ter que lavar panelas. O custo benefício é bom”, diz.
Negócio milionário
Não são apenas os pequenos empreendedores que estão de olho no potencial desse mercado. Gigantes do setor, como a Liv Up, fundada em 2016 pelos empresários Victor Santos e Henrique Castellani, também têm surfado nesta onda. Em 2024 a empresa fechou o ano com faturamento de R$ 160 milhões - um crescimento de 60% em relação a 2023, quando faturou R$ 100 milhões. Só em janeiro deste ano foram mais de 70 mil clientes atendidos em 80 cidades.
“Percebemos uma crescente demanda por alimentação saudável e praticidade, especialmente no período pós-pandemia. Também usamos como estratégia focar em diferentes públicos e atender a diversas necessidades, oferecendo opções com mais proteína, fitness e vegetarianas, por exemplo”, afirma Victor.
Para 2025, a empresa projeta um faturamento de R$ 250 milhões, o que representaria um aumento de 56% em relação ao ano passado. Para atingir essa meta, o plano da empresa é aumentar a cobertura geográfica, expandir o portfólio de produtos e fortalecer o segmento B2B - que é a venda para outras empresas - com a marca Generosa.
“O segmento B2B atualmente representa cerca de 10% das nossas receitas, com a expectativa de crescer para 30% ou 40% nos próximos anos. Essa iniciativa surgiu para atender à necessidade de grandes empresas, em especial redes de fast food, de oferecer refeições balanceadas para suas equipes”, aponta.