Após registrar queda e ficar abaixo de R$ 5,50 na maior parte do dia, o dólar encerrou a sessão desta terça-feira (24) com uma leve alta de 0,26%, a R$ 5,518, com investidores aproveitando as cotações mais baixas para comprar moeda.

Como pano de fundo, investidores estiveram atentos às incertezas do cessar-fogo nos conflitos do Oriente Médio e avaliaram o tom firme da ata do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central), que vê necessidade de juros mais altos por tempo prolongado.

A alta do dólar foi na contramão da queda generalizada da divisa dos EUA no exterior. O índice DXY, que mede a força da divisa norte-americana frente a uma cesta com outras seis moedas, caía 0,46%, a 97,94, ao fim do pregão. Já a Bolsa se valorizou 0,44%, a 137.164 pontos, na esteira da alta de Bolsas asiáticas, europeias e americanas.

Nas primeiras negociações do dia, às 9h, o dólar atingiu a cotação mínima de R$ 5,475, recuando 0,52%. Em seguida, a moeda se estabilizou, apresentando poucas oscilações ao longo da sessão. Por volta das 11h40, o dólar voltou a alcançar a cotação mínima.
Os mercados adotavam um tom otimista diante do anúncio de um cessar-fogo no conflito entre Israel e Irã, apesar da violação do acordo por ambas as partes.

Na perspectiva de Cristiane Quartaroli, economista chefe do Ouribank, a estabilidade vista no mercado de câmbio nesta sessão teve relação com a incerteza gerada pelas tensões entre Irã, Israel e Estados Unidos.

"O componente de incerteza gera um receio sobre os próximos passos e o que pode acontecer no futuro. Por isso, o mercado adota uma postura de espera e cautela", afirmou.

Para Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos, há uma reação positiva do mercado diante da trégua, mesmo que o acordo tenha sido abalado.

"Essa violação parece ter sido um último suspiro, e o mercado entende que o cessar-fogo está próximo e é o próximo passo a ser consolidado, embora ainda não esteja completamente confirmado", disse.

A estabilidade do dólar, porém, não se sustentou até o fim da sessão. Às 15h59, atingiu a máxima do dia, avançando 0,34%, cotado a R$ 5,523, para depois fechar pouco abaixo deste nível.
A notícia do cessar-fogo veio após o fechamento dos mercados na véspera, quando o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou uma trégua de 24 horas -depois de 12 dias de conflito entre os países.

"Parabéns a todos! Israel e o Irã concordaram que haverá um cessar-fogo completo e total", escreveu Trump na sua rede, a Truth Social.

O cessar-fogo entre Israel e o Irã começou a valer nesta madrugada de terça, mas sofreu abalos. Logo após a publicação de Trump, israelenses e iranianos relataram ataques.

Trump disse que ambos violaram o tratado e criticou os países. "Eles não sabem que porra estão fazendo", afirmou o republicano, irritado especialmente com o aliado Israel.

A fragilidade do acordo era previsível e o destino do cessar-fogo é incerto. Será necessário esperar para ver se uma desaceleração das tensões está próxima ou se haverá a volta das hostilidades.
Além do panorama do Oriente Médio, as atenções dos investidores se voltarão nos próximos dias para dados de inflação e comentários de autoridades de bancos centrais tanto no Brasil quanto nos EUA.

Nos EUA, o foco estará em torno dos depoimentos do presidente do Fed (Federal Reserve, o BC americano), Jerome Powell, ao Congresso dos EUA, nesta terça e quarta-feira, e de dados do índice PCE de maio -o indicador preferido de inflação do Fed- na sexta-feira.

Ainda no panorama internacional, se aproxima prazo para o fim da pausa das tarifas abrangentes dos EUA, que acontece no início de julho. O governo Trump segue em negociações com seus principais parceiros, como o Japão e a União Europeia. Qualquer novidade sobre as disputas comerciais também pode movimentar os mercados ao longo da semana.

Na ponta doméstica, investidores reagiram à ata da reunião do Copom da última quarta (18), quando elevou a taxa básica de juros, a Selic, em 0,25 ponto percentual, para 15% ao ano.
No documento, o BC mencionou cinco vezes o plano de manter a taxa de juros em um nível elevado durante um período "bastante prolongado".

Ao justificar a decisão, o colegiado avaliou que a atividade econômica ainda apresenta força, o que dificulta a convergência da inflação ao alvo e requer juros mais elevados.

A meta central é 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. O BC trabalha agora mirando a inflação do fim de 2026.

Segundo Quartaroli, do Ouribank, o comunicado do Copom somado à percepção de que os juros devem permanecer em um patamar elevado por um período maior pode favorecer um viés mais positivo para a taxa de câmbio no Brasil.

"O Copom trouxe um tom mais duro, deixando claro que os próximos passos vão depender dos indicadores daqui em diante. Por enquanto, o cenário é adverso, o que sinaliza que a Selic deve ficar nesse nível mais elevado até que o Banco Central entenda que a inflação está convergindo para a meta", afirmou.

O mercado também estará atento à divulgação dos números do IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15) de junho, na quinta-feira (26). Por ser divulgado antes, o IPCA-15 sinaliza uma tendência para o IPCA. Uma das diferenças entre os dois é o período de coleta das informações.

Nesta segunda-feira (24), o dólar fechou a sessão com uma queda de 0,40%, a R$ 5,504. No ano, a divisa acumula queda de 10,92%. Já a Bolsa encerrou com um recuo de 0,41%, a 136.550 pontos, puxada para baixo pela Petrobras após os preços do petróleo despencarem.

Os movimentos da véspera se deram em meio ao nervosismo com o conflito no Oriente Médio entre Irã, Israel e os Estados Unidos, que decidiu se juntar aos israelenses e atacar instalações nucleares do Irã que, por sua vez, contra-atacou bases militares americanas no Qatar e no Iraque.

O conflito entre as forças de Israel e do Irã ganhou um novo capítulo na madrugada deste sábado (21), quando os Estados Unidos bombardearam três instalações nucleares iranianas.
Em resposta ao ataque, o Irã lançou mísseis contra a maior base militar dos EUA no Oriente Médio, Al-Udeid, em Doha (Qatar), nesta segunda-feira. O aeródromo de Ain al-Hussein, no Iraque, também foi alvejado. Outras unidades americanas na região estão em alerta máximo.

A escalada injeta novas incertezas nas perspectivas para inflação e atividade econômica mundial, com temores de impacto sobre os mercados de câmbio, de ações e sobre os preços do petróleo.

Isso porque, além da instabilidade geopolítica mundial promovida pelo conflito na região, o Irã ameaça fechar o estreito de Hormuz.
O estreito é um dos gargalos marítimos globais, caminho para cerca de 20% do petróleo e derivados e de 20% do gás liquefeito produzido no mundo. O fechamento poderia afetar de forma significativa os preços de energia e, em consequência, a inflação e a atividade econômica de diversos mercados.

Como o Irã não fechou o estreito, pelo menos por enquanto, o petróleo despencou no mercado internacional.