No Brasil, pouco mais de 2 milhões de pessoas ganham a vida como motoristas de aplicativos ou trabalhando em plataformas de mobilidade. Com um ganho médio entre R$ 3.083 e R$ 4.400, conforme o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), os trabalhadores que dependem das corridas para garantir o sustento, no entanto, buscam outras formas de ampliar os ganhos.
Wendel Henrique, de 22 anos, é morador do bairro Fonte Grande, em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, e prova viva dessa realidade. Há pouco mais de um ano trabalhando como motorista, ele hoje alia o trajeto com passageiros com a venda de perfumes – réplicas de marcas internacionais – e outros itens como carregadores de celulares.
A empreitada começou quando um amigo, que trabalhava com a venda das essências, encerrou os negócios e ofereceu a mercadoria para que ele deixasse à mostra no carro aos passageiros. “E logo na primeira semana eu vendi todos e, então, pedi o telefone do representante, comprei e comecei a vender muito”, lembrou.
Estudante de odontologia, ele paga a graduação com a renda da venda dos perfumes e das corridas. “Isso dá uma renda de uns R$ 4 mil a R$ 5 mil só com perfume”, diz. “Eu comprei meu carro, pago aluguel do meu apartamento, pago meus materiais de faculdade, o Fies do meu marido”, completa ele. Wendel relata que o negócio à parte do volante é uma alternativa para reduzir o tempo em que passa dirigindo.
“Às vezes, eu faço uma corrida de R$ 30, mas vendo R$ 120, R$ 160 de perfume. Então, me ajuda pra caramba”, conta o estudante de odontologia que abriu, na última semana, um restaurante no bairro Prado, na região Oeste de BH. O estabelecimento – Boi Prado – será administrado por ele e o marido com uma sócia. O recurso para entrar no negócio, garante, também vem da ‘loja’.
No futuro, Wendel mira mais uma atividade: quer ter uma frota de veículos para alugar a motoristas de aplicativo. Os carros serão locados já com um estoque de perfumes para venda. “Nós queremos começar com seis carros, todos com a loja já embutida. Eu vou fornecer para o motorista um ganho a mais, que é a loja, e sem custos e eu divido o lucro com ele. Eu pago todo o valor dos perfumes, e aí o que ele vender, dividimos pela metade”, projeta.
A busca por novas fontes de renda, de acordo com o estudante de odontologia, está atrelada ao preconceito contra a comunidade LGBTQIAPN+. “Nós que somos gays sofremos muito e temos que trabalhar muito. Temos que ser mais que um cara hétero. A gente tem que se esforçar mais, infelizmente não temos muito valor”, lamenta.