Quando a van da empresa Pet Móvel Beagá estaciona no bairro a mensagem é clara: chegou a hora do banho. Os cachorrinhos são higienizados dentro do próprio automóvel e, em até 1 hora, dependendo do porte do animal, são entregues aos seus tutores. Criada há quase uma década pelo empresário Fábio de Oliveira Pinto, de 43 anos, a empresa chega a faturar até R$ 28 mil por mês oferecendo o serviço mediante agendamento prévio via WhatsApp. 

A “van do banho” integra um rol de empresas que faturam oferecendo diversos serviços em domicílio para os pets e são apenas uma parte de um negócio bastante lucrativo. De acordo com números da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet), o mercado pet brasileiro faturou R$ 75,4 bilhões em 2024, um aumento de 9,6% em relação a 2023. 

Segundo Fábio, a escolha de ir à casa do cliente não foi apenas uma estratégia para reduzir custos com espaço físico. “É também uma forma de me diferenciar no mercado e poder bater de porta em porta para divulgar os serviços. Eu ficaria maluco se estivesse pagando aluguel e tivesse que esperar os clientes irem até o meu espaço”, brinca. A estratégia deu certo e, hoje, a empresa já conta com três veículos circulando na região da Pampulha. O ticket médio de cada banho é de R$ 70. 

A administradora Flávia Trajano, de 37, é uma das clientes mais longevas e contrata o trabalho desde o início da empresa. Tutora de dois cães da raça buldogue francês, Chico e Prince, ela conta que opta pelo serviço não apenas pela sua comodidade, mas também pelo conforto dos animais. 

Banho na porta de casa: menos estresse para os animais de estimação ajudam a fidelizar a clientela. Foto: Alex de Jesus/O Tempo 

“Eu usava aquele sistema do pet shop buscar em casa, mas os animais ficavam muito estressados por terem que entrar na gaiolinha para serem transportados. Além disso, chegavam a ficar cerca de seis horas fora de casa. Agora, é mais rápido e todo o processo é mais tranquilo para eles”, relata. 

Ela calcula que gasta, em média, R$ 240 por mês com a dupla canina - com dois banhos mensais para cada. “Acho um valor acessível, em comparação com o preço cobrado pelos pet shops. Além disso, a empresa traz produtos que, muitas vezes, não temos em casa. É um serviço bastante completo”, elogia. 

Segundo a gerente da Unidade de Indústria, Comércio e Serviços do Sebrae Minas, Marcia Valeria Cita Machado, a humanização cada vez maior dos pets, associada à famílias menores e casas com apenas uma pessoa, favorece o setor. “O segmento cresceu principalmente durante a pandemia. As pessoas estão cada vez mais ocupadas e os pets suprem uma carência por companhia. Consequentemente, os tutores têm investido mais em serviços de saúde e bem-estar”, aponta. 

A pesquisa Radar Pet 2021, realizada pela Comissão de Animais de Companhia (Comac), aponta que houve aumento de 30% no número de pets em lares brasileiros durante o isolamento social. 

Quem também fatura alto com os serviços em domicílio é o empreendedor Rafael Brum, de 28, que oferece banho, tosa, escovação e corte de unhas em bairros de alto poder aquisitivo como o Buritis, em BH, e o Vila da Serra, em Nova Lima. Trabalhando sozinho, e se deslocando com uma moto, os serviços começam em R$ 100 e ele chega a tirar até R$ 15 mil por mês. 

Rafael Brum trabalha sozinho com banho e tosa em bairros de alto poder aquisito de BH. Foto: Arquivo pessoal

“Hoje, meu principal gargalo é crescer. Há bastante demanda, mas é difícil achar alguém confiável e que preste o serviço com a mesma qualidade que eu. Já tenho uma cartela de clientes formada, não posso colocar isso em risco somente pela vontade de expandir. Tem que ser algo muito bem pensado”, afirma.

Passeios e pet sitter

Além do banho e tosa, os empreendedores da capital mineira também exploram outras demandas do mercado pet na hora de atender em domicílio. É o caso de Jean César dos Santos, de 28, que realiza passeios com cãezinhos nas regiões da Pampulha e Centro-Sul de BH desde 2019. O passeio avulso sai a R$ 50, mas ele afirma que a maioria dos clientes fecham pacotes mensais. Em um combo com cinco passeios por semana, por exemplo, cada “voltinha” sai por R$ 35. 

“O serviço dura de 40 minutos a 1 hora. Os passeios são individuais ou com três cachorros da mesma casa, no máximo. Depende muito do comportamento e da necessidade de cada animal também. É um serviço bastante personalizado e que tem bastante demanda. Só não atendemos mais clientes porque nosso raio geográfico de atuação é restrito. Não compensaria eu me deslocar por longas distâncias para atender”, explica. 

Jean César realiza passeios adaptados para a necessidade de cada pet. Foto: Arquivo pessoal 

O negócio vem prosperando e, atualmente, ele divide as tarefas da empresa com o companheiro Rian Victor Nogueira, de 23. Além dos passeios, o casal também oferece os serviços de pet sitter, com a possibilidade de dormir na casa do cliente em caso de viagens, e treinamento animal - focado em mudanças de comportamento. Juntos, faturam uma média de R$ 5 a R$ 7 mil por mês. 

“Uma das maiores vantagens desse modelo de trabalho é a flexibilidade de horários. A maioria dos nossos clientes é muito tranquila nesse sentido, então conseguimos conciliar a rotina de atendimento com nossas demandas pessoais. Já a desvantagem é não ter a segurança da  carteira assinada ou não conseguir tirar um mês inteiro de férias. São coisas que a gente vai organizando e equilibrando para manter o caixa saudável”, diz. 

Saúde em casa

Serviço ideal para manter a qualidade de vida dos pets, as consultas veterinárias também não poderiam ficar de fora dessa tendência. O médico veterinário Paulo Victor Oliveira, de 29, que assumiu a Pet Home BH em 2022, é um dos profissionais que realizam esse tipo de atendimento. Apesar de 80% das consultas serem realizadas no consultório, há procura por visitas em casa. 

“A principal demanda é por vacinação, seguida pelas consultas de rotina. O atendimento em domicílio é muito útil para todos, especialmente para tutores que têm pets que não podem se locomover ou têm alguma limitação”, diz. 

Para ter acesso a essa comodidade, é preciso pagar um pouco mais do que o valor cobrado pela consulta no consultório, que é de R$ 130. A clínica, localizada no no bairro Planalto, na região Norte de BH, cobra diferentes taxas de deslocamento. “Se o atendimento for na mesma região, cobramos R$ 40. Em outras regiões, o valor sobe para R$ 80”, explica.