O empresário Mohamad Hussein Mourad, conhecido pelo codinome Primo, um dos principais alvos da megaoperação contra o Primeiro Comando da Capital (PCC) em postos de combustível no último mês, pode ter comprado usinas de cana-de-açúcar em dificuldades financeiras para lavar dinheiro do crime organizado.

O processo do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), ao qual a reportagem teve acesso, aponta que as usinas Itajobi e Carolo, ambas em São Paulo, foram adquiridas pelo grupo do empresário com o objetivo de quitar as dívidas e assumir o controle da operação para depois utilizá-las no crime. Mourad está foragido.

As investigações apontam que foram utilizados diferentes fundos de investimento para aquisição das empresas. A usina Itajobi foi adquirida por meio do fundo Mabruk II, que se comprometeu a quitar as dívidas e indenizar as propriedades arrendadas. Já para a usina Carolo, foi utilizado o fundo Participation.

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As usinas teriam praticado sobrepreço na compra de cana. A prática de inflar preços artificialmente seria uma estratégia para sonegar impostos e obter créditos indevidos. Também há suspeita de “movimentação financeira sem lastro nas contas das usinas”. Além da compra das usinas Itajobi e Carolo, Mourad estaria envolvido em negociações ou na aquisição das usinas Comanche, Furlan e Rio Pardo, também em São Paulo. Em comum, todas teriam passado por dificuldades financeiras na última década.

Na usina de Rio Pardo, por exemplo, pessoas ligadas a Mourad teriam passado a integrar o quadro societário da empresa, que teria começado a sobretaxar a cana desde 2022. São indícios de que Mourad seria uma espécie de sócio oculto, de acordo com as investigações.

No caso da Furlan, não houve aquisição direta pelo grupo de Mourad, mas haveria sinais da intenção de compra, como transferências de valores significativos para beneficiários não identificados. A Comanche foi a maior destinatária de álcool do Grupo Itajobi, que inclui as usinas Itajobi e Carolo. Mohamad Hussein Mourad ainda estaria tentando tomar o controle das usinas do Grupo Virgolino de Oliveira (GVO), que está em recuperação judicial.

As usinas Itajobi, Carolo e Rio Pardo publicaram notas de esclarecimento em que sublinham que são transparentes, estão colaborando com as autoridades nas investigações e continuam funcionando normalmente. O GVO ressaltou que não é alvo de investigação e que as contratações e recebimentos de valores foram declarados às autoridades competentes. A reportagem tentou contato com as usinas de Comanche e Furlan e, até esta publicação, não obteve retorno.