Viagens de avião

Associação que representa companhias aéreas diz que passagens estão mais baratas

ABEAR contesta dados do IPCA, inflação oficial do país, que aponta alta de 35,24% nos preços das passagens de avião neste ano


Publicado em 13 de dezembro de 2023 | 17:57
 
 
 
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Em meio a uma pressão do Ministério de Portos e Aeroportos para que as companhias aéreas brasileiras apresentem um plano para a redução dos preços das passagens de avião, a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (ABEAR), que representa companhias como Gol, Latam e Azul, culpa o câmbio e o preço do querosene de aviação (QAV) pelos valores cobrados dos consumidores. Mas mesmo assim, a ABEAR alega que as passagens estão mais baratas do que em 2022, ao contrário do que mostram os dados da inflação do país.

“A tarifa média acompanha os efeitos externos, dado que a aviação é um setor fortemente afetado pelo câmbio do dólar, que representa 60% dos custos de uma companhia aérea, e pelo combustível que representa 40%. A tarifa média doméstica em 2023, de janeiro a setembro, teve alta de 14% em relação a 2019 (ano pré-pandemia). Já o QAV, na mesma comparação, subiu 86%”, alega a ABEAR, em nota divulgada nesta quarta-feira (13).

Os preços das passagens dispararam no segundo semestre deste ano. Em outubro, a alta foi de 23,7%, após os valores já terem subido 13,4% em setembro, segundo dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA), indicador usado para medir a inflação oficial do país. No acumulado do ano, já considerando os dados de novembro, as passagens aéreas subiram 35,24%.

No entanto, a ABEAR entende que o IPCA não é o melhor índice para calcular a inflação das passagens aéreas e prefere citar um relatório da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), com dados entre janeiro e setembro. Com base nesses números, a ABEAR alega que as passagens estão mais baratas em 2023 do que em 2022. 

“Segundo o mais recente relatório de bilhetes efetivamente comercializados, da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), os preços das passagens aéreas oscilam ao longo dos meses e, no acumulado de 2023 (janeiro a setembro), as tarifas aéreas no Brasil estão 8,5% mais baixas do que em 2022. As faixas tarifárias também demonstram que há diversidade de preços, com 16,4% das passagens sendo vendidas abaixo de R$ 200, 54% abaixo de R$ 500 e 85% abaixo de R$ 1 mil reais”.

No entanto, dados divulgados pela própria Anac apontam que a tarifa média das passagens aéreas foi de R$ 644,5 no ano passado - valor R$ 113 mais alto do que o de 2021. E em 2023, o preço médio já está em R$ 649,17. Em setembro deste ano, a tarifa média chegou ao valor recorde de R$ 747,66.

Na visão de Carla Beni, economista e professora de MBAs da Fundação Getúlio Vargas (FGV), os preços das passagens não estão caindo e essa situação ocorre porque a procura está muito alta. Segundo ela, os brasileiros ainda estão vivendo o período pós-pandemia, buscando viajar mesmo pagando mais caro porque ficaram praticamente três anos “presos” na cidade onde moram.

“Como há muita demanda por passagens, por que as companhias aéreas vão reduzir os preços? As pessoas voltaram a viajar,  os congressos estão extremamente ativos, têm eventos no Brasil inteiro. Eu sou testemunha disso. Toda semana, às 6 horas da manhã, o aeroporto de Congonhas (em São Paulo) está lotado, há filas de 20 pessoas para poder tomar um café. Então qual é a sinalização do setor? Que tem demanda para isso”, explica a professora.

Confira a íntegra da nota da ABEAR sobre os preços das passagens aéreas:

“A Associação Brasileira das Empresas Aéreas (ABEAR) esclarece o atual cenário do preço de passagens aéreas no Brasil, que segue movimento semelhante ao dos demais mercados em todo o mundo. Segundo o mais recente relatório de bilhetes efetivamente comercializados, da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), os preços das passagens aéreas oscilam ao longo dos meses e, no acumulado de 2023 (janeiro a setembro), as tarifas aéreas no Brasil estão 8,5% mais baixas do que em 2022. As faixas tarifárias também demonstram que há diversidade de preços, com 16,4% das passagens sendo vendidas abaixo de R$ 200,00, 54% abaixo de R$ 500,00 e 85% abaixo de R$ 1 mil reais.

Considerando a série histórica da ANAC, fica claro que a tarifa média acompanha os efeitos externos, dado que a aviação é um setor fortemente afetado pelo câmbio do dólar, que representa 60% dos custos de uma companhia aérea, e pelo combustível que representa 40%. A tarifa média doméstica em 2023, de janeiro a setembro, teve alta de 14% em relação a 2019 (ano pré-pandemia). Já o QAV, na mesma comparação, subiu 86%.

Cabe ressaltar que os dados da ANAC representam bilhetes efetivamente comercializados em todo o país, enquanto que o levantamento de preços de passagens realizado pelo IPCA do IBGE é uma amostra feita por meio de simulação de compra de bilhetes em um determinado período.

Outros mercados, mesmos efeitos

Em todo o mundo, as companhias aéreas ainda buscam neutralizar os impactos gerados pela maior crise de sua história. Nos Estados Unidos, por exemplo, a tarifa aérea média do segundo trimestre de 2023 segue 10% acima do mesmo período em 2019. Enquanto isso, no Brasil, o valor médio dos bilhetes não teve aumento. A comparação foi feita com dados do Department Of Transportation (DOT). Estudo da empresa de análise de aviação Cirium revela que os preços médios dos bilhetes para centenas das rotas mais populares do mundo aumentaram 27,4% desde o início de 2022.

A ABEAR segue em defesa de uma agenda ampla e consistente para enfrentamento dos custos e aumento da competitividade no Brasil, e segue em diálogo permanente com o Governo Federal sobre medidas conjuntas que combatam os entraves ao crescimento do transporte aéreo no País”.

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