NO VERÃO

Baixa oferta de fertilizantes pode limitar plantio de milho e feijão no Brasil

Soja pode ser outra cultura prejudicada, segundo levantamento de entidades do agronegócio brasileiro

Por Simon Nascimento
Publicado em 06 de maio de 2022 | 10:00
 
 
 
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Quase três meses após o início da guerra entre Rússia e Ucrânia, a oferta de fertilizantes utilizados na produção do agronegócio ainda preocupa representantes do setor no Brasil. O principal temor diz respeito ao abastecimento de químicos que serão utilizados na chamada safra de verão, iniciada em setembro e outubro. O impacto pode ser mais significativo para as culturas do milho, soja, sorgo e feijão, as principais cultivadas neste período. 

Caso não se tenha fertilizantes o suficiente para garantir um volume de produção regular na safra, a consequência no segundo semestre pode ser aumento de preços nos produtos como leite, carnes, óleo de soja e o próprio feijão para tentar frear o consumo. A ameaça de escassez dos químicos utilizados para adubar as lavouras ocorre pela dependência brasileira de produtos importados. Cerca de 81% dos fertilizantes utilizados no país vêm de outros países. 

Deste total, 28% do cloreto de potássio aplicado no campo vem da Rússia, enquanto 31% dos fosfatados partem de Moscou em direção às terras brasileiras. Estimativas da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda) apontam para uma necessidade de 10 milhões de toneladas de cloreto de potássio para a próxima safra, sendo que 3 milhões desse total viriam da Rússia. 

Segundo levantamento da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a oferta de fertilizantes no leste europeu pode ser reduzida em até 40%. “O que a gente tem mapeado é que apesar de um primeiro trimestre onde as importações foram praticamente na mesma quantidade do ano passado, a gente precisou correr para ter um abastecimento interno garantido. A gente não sabe como os impactos das sanções comerciais aplicadas à Rússia nesses últimos dois meses podem deixar buraco de abastecimento”, analisou  o assessor técnico da CNA, Thiago Rodrigues. 

De acordo com Rodrigues, no Triângulo Mineiro, por exemplo, 62% da demanda de fertilizantes para o plantio de milho e soja na safra de verão já está negociada, mas há uma incógnita em relação ao recebimento da carga em função das dificuldades logísticas de despacho de mercadorias no leste europeu em função da guerra. ““Qualquer prolongamento do conflito ou alguma ação de mercado pode afetar a entrega ao produtor, mesmo ele já estando com produto contratado”, alertou Thiago ao citar a previsão de chegada de navios com os produtos, no Brasil, entre junho e agosto. 

Outra preocupação, conforme o assessor, é em relação aos produtores que ainda não negociaram a compra de químicos. No caso da ureia, Thiago não acredita que haverá problema, pois o insumo pode ser adquirido com mais facilidade no oriente médio “O que fica de pulga atrás da orelha é a questão dos fosfatados e do potássio. Rússia e Belarus são as principais exportadoras mundiais, detém 40% do mercado global. E não estão fechando negócios pelas sanções econômicas e logística estrutural de um país em guerra. Até o sistema bancário está travado para recebimentos”, atesta. 

Os preços dos produtos também causam receio. Segundo Thiago Rodrigues, o custo ao produtor para aquisição da tonelada do cloreto de potássio saiu do patamar de R$1,700 em março de 2020, subiu para R$2,500 e encerrou março deste ano em R$6,330. 

Safras podem ser reduzidas

O assessor técnico da CNA afirmou que será possível ter uma noção do abastecimento de fertilizantes no país para a safra de verão nas próximas semanas. Mas ele lembra que uma aplicação de químicos em menor escala pode reduzir a produção final da safra. “No cenário que a gente desenhou de possível retração na aplicação de fertilizantes, isso pode afetar, sem dúvidas nenhuma, a produção. E ainda tem a questão climática que afeta bastante”, observou Thiago Rodrigues. 

O gerente de agronegócio da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Caio Coimbra, acredita que o problema por fertilizantes foi amenizado por tratativas do governo federal, mas ainda há temor sobre o recebimento dos químicos. Coimbra ainda ressalta que há chances de aumento nas áreas cultivadas representando em uma safra volumosa.

“Se a safra for boa, a tendência é de redução de preços. Do mesmo modo, se a Rússia chega e finaliza a guerra, há uma pacificação, a própria especulação de mercado também baixa os preços dos fertilizantes”, aposta. 

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