Economia

Banco Central confirma novo corte da taxa básica de juros; Selic chega a 10,75%

Esta é a sexta vez consecutiva que os técnicos do BC decidem cortar a taxa de juros em 0,50 ponto percentual

Por Alexandre Nascimento
Publicado em 20 de março de 2024 | 18:38
 
 
 
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O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) confirmou a expectativa dos economistas e analistas financeiros e reduziu nesta quarta-feira (20), pela sexta vez consecutiva, a taxa básica de juros - a Selic - em 0,50 ponto percentual.

Agora a nova taxa é de 10,75% ao ano, a menor em dois anos. A Selic serve de referência para a definição dos juros para os consumidores nos bancos e em outras instituições financeiras.

No comunicado que divulga junto com o anúncio da nova taxa de juros, o Copom adotou cautela com a influência da volatilidade do mercado externo e das incertezas do cenário doméstico e citou a previsão de apenas mais uma queda de 0,5 ponto percentual na Selic, na próxima reunião, daqui a 45 dias. 

"O Comitê avalia que o cenário-base não se alterou substancialmente. Em função da elevação da incerteza e da consequente necessidade de maior flexibilidade na condução da política monetária, os membros do Comitê, unanimemente, optaram por comunicar que anteveem, em se confirmando o cenário esperado, redução de mesma magnitude na próxima reunião. O Comitê avalia que essa é a condução apropriada para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário".

Analista da Empiricus Research, Matheus Spiess avalia esta mudança de postura do Banco Central no comunicado.

"O Copom retirou o plural, ele colocou agora é que se for confirmado o cenário esperado, aguarda uma redução de mesma magnitude na próxima reunião. Ou seja, a gente vai ter mais 50 pontos de corte em maio, para 10.25%, e daí o jogo para junho está em aberto", explica.

O economista e sócio da Matriz Capital, Vinicius Moura, afirma que o Banco Central também pode estar sinalizando para o governo federal manter os objetivos fiscais, sem criar novas despesas se não houver previsão de  mais receitas.

"Acredito que o fato de citarem que esperam mais um corte de juros na 'próxima reunião' no singular e não no plural deixa um clima de incerteza do que pode acontecer nas próximas reuniões. Mas também penso que pode ser apenas uma forma de comunicar para que o governo mantenha os objetivos fiscais. Penso que há sim espaço para cortes de mesma magnitude", destaca.

"Vejo ênfase no Copom na importância da execução das metas fiscais e a consequente necessidade de cautela na política monetária como um compromisso sólido com a estabilidade econômica a longo prazo. Isso reforça minha visão otimista, pois acredito que uma gestão fiscal responsável é crucial para manter a confiança dos investidores e assegurar um ambiente propício ao crescimento", conclui Vinicius Moura.

A sexta redução consecutiva da taxa Selic foi vista com bons olhos pelo setor de comércio e serviços da capital mineira, segundo Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH). 

“As atividades econômicas já começaram a sentir o efeito positivo dos cortes anteriores da taxa. Algumas linhas de crédito já estão sendo ofertadas de forma mais barata, o consumo está sendo estimulado, especialmente nas datas comemorativas, e possíveis expansões de negócios têm sido avaliadas pelos investidores”, analisa o presidente da CDL/BH, Marcelo de Souza e Silva.

A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG) também aprovou a redução da taxa básica de juros. Contudo, ressaltou a necessidade do prosseguimento e mesmo da aceleração do ciclo de cortes.

"Apesar dos últimos cortes realizados na taxa Selic, a política monetária segue contracionista, inibindo maiores investimentos e comprometendo a capacidade produtiva do país. Desse modo, a FIEMG enfatiza a necessidade de uma taxa de juros mais baixa e estável, que favoreça o desenvolvimento econômico sustentável e a criação de empregos".

Confira na íntegra o comunicado do Copom:

"O ambiente externo segue volátil, marcado pelos debates sobre o início da flexibilização de política monetária nas principais economias e a velocidade com que se observará a queda da inflação de forma sustentada em diversos países. Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho. O Comitê avalia que o cenário segue exigindo cautela por parte de países emergentes.

Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica segue consistente com o cenário de desaceleração da economia antecipado pelo Copom. A inflação cheia ao consumidor manteve trajetória de desinflação, enquanto as medidas de inflação subjacente se situaram acima da meta para a inflação nas divulgações mais recentes.

As expectativas de inflação para 2024 e 2025 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 3,8% e 3,5%, respectivamente.

As projeções de inflação do Copom em seu cenário de referência* situam-se em 3,5% em 2024 e 3,2% em 2025. As projeções para a inflação de preços administrados são de 4,4% em 2024 e 3,9% em 2025.

O Comitê ressalta que, em seus cenários para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; e (ii) uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada; e (ii) os impactos do aperto monetário sincronizado sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado.  O Comitê avalia que as conjunturas doméstica e internacional estão mais incertas, exigindo cautela na condução da política monetária.

Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reafirma a importância da firme persecução dessas metas.

Considerando a evolução do processo de desinflação, os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu reduzir a taxa básica de juros em 0,50 ponto percentual, para 10,75% a.a., e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2024 e, em grau maior, o de 2025. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

A conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento, expectativas de inflação com reancoragem apenas parcial e um cenário global desafiador, demanda serenidade e moderação na condução da política monetária. O Comitê reforça a necessidade de perseverar com uma política monetária contracionista até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.

O Comitê avalia que o cenário-base não se alterou substancialmente. Em função da elevação da incerteza e da consequente necessidade de maior flexibilidade na condução da política monetária, os membros do Comitê, unanimemente, optaram por comunicar que anteveem, em se confirmando o cenário esperado, redução de mesma magnitude na próxima reunião. O Comitê avalia que essa é a condução apropriada para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário.

O Comitê enfatiza que a magnitude total do ciclo de flexibilização ao longo do tempo dependerá da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular daquelas de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.

Votaram por uma redução de 0,50 ponto percentual os seguintes membros do Comitê: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Ailton de Aquino Santos, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Gabriel Muricca Galípolo, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Picchetti, Renato Dias de Brito Gomes e Rodrigo Alves Teixeira.

* No cenário de referência, a trajetória para a taxa de juros é extraída da pesquisa Focus e a taxa de câmbio parte de USD/BRL 4,95, evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC). O preço do petróleo segue aproximadamente a curva futura pelos próximos seis meses e passa a aumentar 2% ao ano posteriormente. Além disso, adota-se a hipótese de bandeira tarifária "verde" em dezembro de 2024 e de 2025. O valor para o câmbio foi obtido pelo procedimento, que passou a ser adotado na 258ª reunião, de arredondar a cotação média da taxa de câmbio USD/BRL observada nos dez dias úteis encerrados no último dia da semana anterior à da reunião do Copom".

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