Futuro

Barro Preto é ‘copo meio cheio’ ou ‘meio vazio’ para comerciantes da região

Em alguns estabelecimentos, a queda no movimento é latente com a saída de lojas ligadas a confecções e vestuário


Publicado em 30 de janeiro de 2023 | 06:00
 
 
 

Era 1989 e Belo Horizonte vivia a década da criação do Grupo Mineiro da Moda, o conjunto de estilistas que revolucionaram o mercado belo-horizontino. Sacoleiras vinham de outros Estados se enfileirar em frente a lojas no Barro Preto e, no coração do bairro, na rua Mato Grosso, era inaugurado o Mondrian Trade Center.

O shopping de 17 andares, elevadores panorâmicos e uma fonte de água no saguão era o que havia de mais movimentado no atacado de vestuários na época de ouro do Polo da Moda. Três décadas depois, a arquitetura do local continua imponente e obriga quem entra no saguão a jogar a cabeça para trás para enxergar o teto. A ocupação, entretanto, já não é a mesma.

“São 185 lojas e a ocupação é de 75%. Lá atrás, já foi 100%, mas houve períodos de menos de 50%”, detalha o síndico do prédio, Maurício Waks. O edifício ainda tem lojas de atacado e varejo de moda, mas também divide espaço com clínicas odontológicas, escritórios e, mais recentemente, com um centro de distribuição de encomendas, um dos pontos de maior movimento.

Síndico do Mondrian, Maurício Waks viu a ocupação de lojas cair de 100% para 75%

“Ele está atraindo pessoas que começaram a trabalhar com e-commerce na pandemia. Pessoas que começaram a vender em casa na pandemia estão trazendo o negócio para o prédio, aproveitando que temos um ponto de logística que atende os Correios e marketplaces”, continua.

Para ele, o Barro Preto é um bairro em transformação e preserva encantos, a despeito do que colegas lojistas digam em contrário. “Não sei se é coisa do comerciante mineiro, mas o comerciante do Barro Preto sempre reclamou, sempre vê o copo meio vazio. Essa é uma característica dos nossos lojistas”, diz. Em um dia de conversas na região, a reportagem ouviu lojistas cheios de esperança e otimismo sobre o bairro, mas também aqueles que reclamam da falta de movimento, insegurança e limpeza da região.

'Copo meio cheio'

Sócio da loja de vestidos de festa Roberta Reis com a esposa, o empreendedor Rogério Reis é dos que veem o “copo meio cheio”. Poucos anos antes da pandemia, ele abriu sua primeira loja do bairro e, agora, chegou a quatro pontos. Em um deles, exibe uma arara cheia de vestidos longos com orgulho: “Tenho R$ 2 milhões só aqui”, diz, com a ressalva de que tem peças para todos os bolsos. “O que sustenta o público do bairro são o varejo e a moda de festa. E trabalhamos nas redes sociais. Eu acredito no Barro Preto. Estamos em um período de retomada e oferecemos toda a infraestrutura aqui”, diz.

Rogério Reis e a esposa e sócia, Roberta Reis, têm quatro lojas no bairro somando um investimento de R$ 2 milhões

Gerente da loja Dellas, que começou no bairro nos anos 80 e, hoje, está em shoppings da capital, Maria da Penha Santos avalia que o belo-horizontino precisa voltar a conhecer o Barro Preto, que ela diz ser um estranho aos jovens. “Não existe uma consciência varejista do local. Na cabeça da maioria das pessoas, aqui é atacado. Mas aqui é varejo também. Temos estacionamento, por exemplo, e precisamos divulgar isso individualmente. O Barro Preto precisa de divulgação. Os funcionários públicos que viviam aqui foram se aposentando e seus filhos não aparecem no bairro. Da rua Araguari para cá, na praça Raul Soares, ficamos desabastecidos de um bom café, de uma boa lanchonete”, enfatiza.

Ao lado do varejo, o atacado também resiste em algumas lojas. Gerente da unidade de uma rede atacadista que ela prefere não citar, Maria Nilis diz que as vendas por volume ainda são um carro-chefe no bairro. “Temos um bom movimento no Barro Preto, mas ele se divide com vendas online. As sacoleiras existem e ainda vem muito cliente aqui, mas também mandamos peças via correio para elas. Muitas marcas boas quebraram ou migraram para o Prado”, elabora. O bairro vizinho se tornou um ímã de empreendimentos de moda há algumas décadas devido ao aluguel inicialmente mais barato.   

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