Parece arte, mas é um ovo da Páscoa pintado à mão. Esta foi uma das apostas da confeitaria Alzucar, situada na região da Savassi, em Belo Horizonte, para as vendas deste ano. Mas esta estratégia não foi a única para atrair a clientela. A casa também investiu no ingrediente estrela de 2024: o pistache, e no franuí, um doce argentino de framboesa, que viralizou no TikTok. Rodolpho de Paula Paiva, de 34 anos, sócio da casa ao lado da chef Dayana Alves, conta que eles fizeram um investimento três vezes maior na compra de chocolate para a data deste ano e que a expectativa de vendas é boa, mas que o movimento da loja à procura dos itens próprios da data só começou a aumentar na última semana: “pessoal, normalmente, deixa as coisas meio pra em cima da hora”, constata.
Em seu segundo ano de Páscoa, a Alzucar vai oferecer quatro sabores diferentes de ovos de chocolate: caramelo de pistache (450 g) a R$ 149, ovo framboesa (420g), ovo sem açúcar com amêndoas (200g) a R$ 149 e ovinhos de chocolate meio amargo com sabores nhá Benta, crocante de mel e croc de amêndoas (150g) a R$ 59.
A expectativa de Rodolpho é vender toda a produção até domingo. “Os ovos pintados à mão estão com uma saída bacana. Eles são bem bonitos e focamos bastante em presentes”, diz. A estimativa até o momento, segundo ele, é que 30% a 40% do que foi produzido já tenha sido vendido. Além dos ovos de chocolate mais bem trabalhados, a casa têm vendido bastante “lembracinhas” para a data, como a caixinha de mini ovos e de bombons: “pelo valor mais em conta”, explica.
Rodolpho destaca que, desde sua abertura, a confeitaria busca trabalhar com produtos mais finos e selecionados, buscando sempre dar preferência para ingredientes brasileiros e locais. “Tem um produto nosso que é um dos que mais vende aqui, que é o carro-chefe, que é o nosso crocante de mel. Ele é um ‘bombonzinho’ crocante banhado de chocolate meio amargo e a gente usa um mel bem legal, que é do pessoal aqui de Nova Lima. A gente não usa baunilha, a gente usa uma semente que chama cumaru para saborizar nossos doces”, detalha.
Ovos de Páscoa veganos da Chocolate Lab, da chef confeiteira Débora Vieira. Foto: Marcella Pio (Cacau Mídia)/Divulgação
Menos encomendas, mais compras de última hora
Mesmo já tendo divulgado o cardápio há um mês, só agora a Chocolate Lab, confeitaria vegana localizada no bairro Floresta, na região Leste de BH, está recebendo os pedidos - já desesperados - dos clientes. Segundo Débora Vieira, chef confeiteira do estabelecimento, o movimento aumentou cerca de 50% nesta semana. Foram produzidos o equivalente a 200 kg de chocolate, sendo 150 kg apenas de encomendas.
“Já esperava isso um pouco. A Páscoa veio muito no começo do ano. As pessoas têm despesas de impostos, matrícula de escola, viagem de férias e aí já veio o carnaval… Óbvio que tem a distância, mas teve muita coisa com que se preocupar e agora já é Páscoa”, lembra Débora.
Tamanha procura agora, a dois dias do domingo de Páscoa, cria um problema para os donos das confeitarias, explica a empreendedora. “É ruim para a gente, porque a gente não se planejou para este volume. É ruim para o cliente, porque, por exemplo, eu já tenho algumas opções que estão esgotadas… Porque eu não consigo mais a embalagem. Não consigo mais o ingrediente”, explica a chef confeiteira.
Débora lembra que o problema da alta mundial do preço do chocolate, devido à crise na produção do cacau, também levou ao repasse médio de um aumento de 40% para o confeiteiro nos últimos seis meses. Para se ter uma ideia, no início do mês, o preço do cacau no Pará, maior produtor do Brasil, era de R$ 28,70 o quilo. Nessa terça-feira, ele já estava sendo vendido a R$ 46 (1 kg), o que representa um aumento de 60%. Eventos climáticos extremos na África impactaram a colheita, influenciando no preço do mercado.
Para atender à demanda de última hora, a chef confeiteira precisou fazer um pedido semana passada com a matéria-prima bem mais cara. “Então, alguns produtos eu vou ter que aumentar. E aumentar o produto no meio da campanha rodando é uma coisa que eu nunca fiz em nove Páscoas. E é muito ruim, porque o cliente acha que estamos sendo oportunistas, que estamos aproveitando porque é a última semana... E não. Eu queria vender muito. E eu tendo um preço competitivo eu vendo mais” , lamenta a confeiteira.
Por ser um negócio com menor concorrência na cidade, já que trabalha com produtos veganos, sem lactose e alguns especiais para pessoas com alergias diversas, e por ter uma loja física, Débora acredita que a venda na porta vai ser grande nesta reta final. Pensando nisso, sua equipe está fazendo hora extra, o estoque está sendo reforçado e a loja ficará aberta até o sábado.
Muita da procura esperada da empreendedora é resultado também do seu aumento de 30% em marketing neste ano. Além das fotos, ela contratou o serviço de vídeos profissionais, investiu em tráfego pago no Google e fez parcerias com influenciadores.
Além de ser o “Natal da confeiteira”, a Páscoa é sempre uma data marcante para a Chocolate Lab, cuidada de perto pela empreendedora, porque a empresa foi criada justamente nesta época do ano em 2015. “A gente celebra o fato de continuar existindo. [...] E é uma época que novos clientes conhecem a Chocolate Lab. Então, a gente sempre tem crescimento de faturamento no pós-Páscoa”, detalha Débora.
Para este ano, a Chocolate Lab investiu tanto nos clássicos da casa quanto nas tendências, como o “queridinho do momento: o pistache”. Há pacote de ovinhos de chocolate vegano, recheados e maciços, a partir de R$ 26 e opções zero açúcar por R$ 137.
Ovo de Páscoa tamanho família, de 1,2kg, da Lalka. Foto: Instagram @lalka_oficial/Divulgação
Fábrica segura repasse do aumento do cacau para garantir mais vendas
Na Lalka, a primeira fábrica de balas e chocolates artesanais de BH, há vários anos a produção para Páscoa é sempre 10% maior do que foi vendido no ano anterior. Quem conta é Roberto Marques Grochowski, de 66 anos, atual sócio-proprietário da empresa e neto do fundador da marca, criada em 1925 na capital. “Se não me engano, nós vendemos em torno de 4 a 5 toneladas de chocolate no ano passado”, contabiliza ele.
Neste ano, apesar da crise internacional do cacau, que levou ao aumento do preço do insumo, Roberto conta que a empresa decidiu não repassar a diferença ao consumidor. “Nossa matéria-prima, diferente de muitos outros, é manteiga de cacau e cacau. Tem muita gente que usa gordura hidrogenada. Apesar das altas absurdas, nós conseguimos segurar o preço”, diz. Para diluir o custo maior de produção, a meta da empresa é vender um volume maior nesta Páscoa. “Não adianta colocar negócio caro que não vai vender. Tenho que tentar vender mais para compensar”, explica.
Segundo Roberto, os ovinhos de chocolate, maciços, são muito procurados pelos clientes que querem fazer brincadeira de caça aos ovos com a garotada. Cada 100g saem a R$ 29,90. Outro campeão de venda é o ovo ‘Quadradinhos Finos’ (400g), inspirado no bombom da casa, que custa R$ 110. Ele tem a casca recheada com pasta de castanha de caju com chocolate branco. Chocolate ao leite, o amargo 82% e o sem açúcar também são bastante vendidos nesta época.
“De uns anos para cá, o pessoal tem diminuído muito o tamanho de ovos. Se comprava antigamente um ovo muito grande e hoje se compra menor para dar de lembrança. Mas [os clientes] não deixam de dar lembrança”, observa Roberto.
Pensando nesta clientela, a Lalka oferece opções acessíveis, com os coelhinhos de 18 g, de chocolate ao leite puro e pintados à mão, a partir de R$ 6,90. Há também um ovo de 45 g, recheado com a tradicional bala maçã, a R$ 13,90. Barras diversas e temáticas também podem ser encontradas.
Na outra ponta do consumo, para os clientes que gostam do exagero, é possível comprar até ovo de 5 kg ao preço de R$ 990. Além das balas maçãs, ele vem com bombons, ovinhos, coelhinho e barrinhas de chocolate. Há também versões de 1,2 kg (R$ 299) e de 2,5 kg (R$ 590).
“Normalmente, tenho ovo de todo tamanho. Tem gente que quer ovo enorme para dar para uma instituição ou quer colocar algo dentro do ovo. Já teve gente que colocou anel de casamento, às vezes quer um ovo maior para colocar um bichinho de pelúcia”, explica Roberto. Segundo ele, o maior ovo que a Lalka fez foi um de 30 kg, que custou R$ 5.950 ao cliente.
Nesta semana, as lojas da marca vão fechar apenas na Sexta-feira da Paixão. Até no domingo os clientes podem dar um pulo nas unidades para comprar um chocolatinho de última hora.