MERCADO

Brinquedos e mimos atraem novos talentos

Além de salário e plano de saúde, nova geração quer brincar e relaxar

Por Ludmila Pizarro
Publicado em 06 de novembro de 2016 | 03:00
 
 
 
normal

Como atrair e manter o profissional que faz parte de uma geração conectada, inquieta e exigente? A julgar por vagas de emprego anunciadas em sites, pode-se dizer que é oferecendo o que eles gostam: videogames, sinuca, salão de beleza, acupuntura, massagem, chocolate, suco, refrigerante e até cerveja à vontade. Esses são alguns atrativos que as empresas, na maioria de tecnologia, divulgam hoje em seus anúncios de vagas de emprego, junto com benefícios tradicionais, como vale-alimentação e assistência médica. Entre elas estão GetNinjas, Walmart.com, Apontador, Maplink, ZapMóveis, Google, Philips e 3M.

“É um modelo relacionado com o interesse da empresa de respeitar a individualidade da pessoa. Isso faz com que ela se sinta mais livre e incentiva a criatividade e o empreendedorismo”, afirma a gerente de recursos humanos da GetNinjas, Marília Amêndola.

A GetNinjas seduz futuros empregados anunciando, para suas vagas, lanches à vontade, chocolates, frutas, ambiente de trabalho divertido e descolado, Nerfs (armas de brinquedo que disparam dardos de espuma), permissão do uso de chinelo e bermuda, sinuca e cesta de basquete. “Prezo muito a cultura da empresa, a informalidade. Cada um está ciente do próprio trabalho. Muitos benefícios foram sugeridos pelos funcionários. O churrasco foi ideia nossa”, conta a analista de negócios da GetNinjas, Mariana Cremonesi, 24.

Em Belo Horizonte, a Hotmart, startup que mantém um marketplace para produtos digitais e dobra de tamanho anualmente desde 2012, também aposta nesses diferenciais. Nos quatro andares, que abrigam cerca de 170 funcionários, estão espalhados videogames, balanços, um escorregador, pufes, sucos, frutas, cookies, além de serviços quinzenais, como manicure, barbearia, acupuntura e design de sobrancelhas. “O modelo tradicional não funciona mais. As pessoas querem reencontrar a diversão naquilo que fazem. O trabalho não exige que você fique oito horas em frente ao computador. A produtividade vem exatamente do contrário: quanto mais à vontade, maior sua capacidade criativa”, diz a analista de talentos da Hotmart, Josie Ribeiro.

Bolha. Mesmo com todos os benefícios, a Hotmart hoje tem mais de 40 vagas em aberto. “Nosso processo de seleção é muito rigoroso, tanto tecnicamente quanto na aderência à cultura da empresa”, diz Josie.

Para a presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos em Minas Gerais (ABRH-MG), Eliane Ramos, essa falta de mão de obra justifica o investimento. “É um mercado que está crescendo de 30% a 40% ao ano, tem um sucesso envolvido nisso. Tem que atrair as pessoas mais bem preparadas e fazer com que gostem de estar ali. Que estejam tão felizes que isso vai aumentar a produtividade”, afirma Eliane Ramos.

Geração Y. Na GetNinjas, a média dos 85 funcionários é de 26 anos. Na Hotmart, entre 25 e 35. É uma geração mais ligada a esses benefícios, dizem as responsáveis pelo RH das duas empresas.


Poliglota sírio estuda holandês

FOTO: Moisés Silva
S
Bahiej Massouh diz que a empresa olha talento, e não aparência

Para o sírio Bahiej Massouh, 26, tradutor na área internacional da Hotmart há pouco mais de um ano, o investimento da empresa o motivou a continuar estudando. “Tenho pleno incentivo para aprender mais aqui. Sou reembolsado pelo curso que faço, e tem vários convênios com institutos de línguas. É um incentivo a ser ainda melhor”, ele diz. Bahiej já fala oito línguas, entre inglês, árabe e um português impecável. Agora ele está aprendendo holandês. “Aqui encontrei as melhores pessoas, que olham os meus talentos, e não minha aparência. Eles investem em mim e vão me ajudar a chegar aonde quero”. diz.

[infografico ID] 1.1395655 [/infografico ID]


Tendência chegou atrasada ao Brasil

A abertura das empresas aos desejos de seus funcionários é um caminho sem volta. “É uma tendência mundial que já chegou atrasada ao país, porque o brasileiro tem uma visão da relação trabalhista convencional, engessada. Como assim parar de trabalhar para jogar pingue-pongue? Os psicólogos, porém, mostram que o cérebro precisa de descanso”, explica Aline Caldas, consultora de carreiras.

Para a presidente da ABRH-MG, Eliane Ramos, trata-se de uma característica dessa geração. “As empresas são cobradas por essa geração e têm que repensar o ambiente. Esses jovens querem comunicação com os gerentes, acesso a tecnologias, às redes sociais, tudo tem que ser mais aberto”, diz.

“É uma geração que tem no máximo 30 anos, chamada de millenials (ou geração Y). Eles esperam ser felizes em todas as áreas da vida. Antes, os profissionais priorizavam a felicidade em outras áreas. Agora, têm que ser felizes no trabalho também”, avalia Luciana Caletti, CEO da Love Mondays, site de vagas de emprego em que funcionários avaliam as empresas e expõem salários.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!