Sem recurso

Caixa atrasa crédito aprovado 

Mutuário de BH diz que financiamento garantido em novembro não foi liberado até hoje

Por ludmila pizarro
Publicado em 27 de janeiro de 2016 | 04:00
 
 
 
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Maurício Miranda vai casar em março, tem até as chaves do apartamento onde pretende morar, mas não são os preparativos finais para a nova vida que estão tirando o sono dele e, sim, a indefinição da Caixa Econômica Federal em liberar o financiamento do imóvel, que foi aprovado em novembro do ano passado. “Fomos informados uma hora antes do agendamento para assinatura do contrato, pelo gerente da Caixa, que o dinheiro não seria liberado”, lembra Maurício. O financiamento dele utiliza a linha de crédito pró-cotista, que usa recurso do FGTS para compra de imóveis com valores acima de R$ 220 mil e até R$ 750 mil. Conforme noticiado por O TEMPO nesta terça, a Caixa não está aprovando financiamentos novos com a linha de crédito pró-cotista “até que exista a suplementação de recursos”.

Já sobre financiamentos aprovados, como o de Maurício, o banco reforçou, via nota, “que todas as operações aprovadas estão sendo honradas normalmente”. Questionada sobre o caso concreto, a Caixa declarou que “se trata de um caso pontual e não reflete a política de atendimento e concessão de crédito do banco”.

Comitê gestor. Segundo o Ministério do Trabalho e Emprego, que faz parte do comitê gestor do FGTS, em janeiro deste ano, foram destinados R$ 1 bilhão para a linha de crédito pró-cotista. O mesmo órgão afirmou que até nesta terça, às 16h, o sistema apontava a utilização de R$ 306 milhões deste recurso em 1.994 contratos. E que, portanto, teriam quase R$ 700 milhões a serem ainda utilizados pelos bancos.

A Caixa, porém, afirmou em nota que o Ministério das Cidades, que também faz parte do comitê gestor do FGTS, “já aplicou a totalidade do recurso disponível para contratação nessa linha de financiamento. A Caixa já fez pedido de suplementação e aguarda autorização”. Uma fonte ligada ao banco que não quis se identificar confirmou a utilização de todo o recurso em menos de um mês em função de contratos que já aguardavam recursos em 2015. Segundo essa fonte, a liberação pelo Ministério das Cidades de mais recursos deve acontecer em março. Sobre outros tipos de financiamento, a Caixa salientou na nota que “todas as demais linhas que utilizam recursos do FGTS e SBPE estão sendo contratadas normalmente”.

Entre as reclamações de Maurício está a falta de transparência da Caixa. “Quando fui informado da aprovação do crédito, não me informaram que isso poderia acontecer, era uma coisa certa”, afirmou. O correspondente Daniel Ribeiro contou que deixou em janeiro a Caixa em função das dificuldade de liberação de crédito. “Diante da forma que a Caixa está administrando os processos, os prazos vencem, a documentação vence. Prefiro trabalhar com bancos privados”, disse.

Patrocínios
Liberado
. A Caixa já fechou R$ 83 milhões em patrocínio para times de futebol em 2016. Mas a estimativa é que o valor chegue a R$ 115 milhões, ou mais, diante das negociações que serão feitas.

Mercado investe em outras alternativas

O mercado imobiliário admite que as dificuldades para liberação de crédito imobiliário na Caixa Econômica Federal estão afetando negativamente os negócios. “Esse quadro de restrição diminui a velocidade com que finalizamos a venda de um empreendimento”, afirma o gerente comercial da Direcional Engenharia, Júnior Bosco. Porém, o cenário está criando oportunidades para que alternativas ao Sistema Financeiro Habitacional (SFH), criado pelo governo federal, sejam utilizadas.

Para o diretor da Câmara do Mercado Imobiliário e Sindicato das Empresas do Mercado Imobiliário de Minas Gerais (CMI/Secovi-MG), Eduardo Vieira, a restrição de crédito adotada pela Caixa está criando uma oportunidade para os bancos privados atuarem. “O que eu vejo hoje são alguns bancos que, diante de uma proposta com juros menores, negociam para garantir a venda”, diz Vieira. “O consórcio imobiliário é a bola da vez, uma ótima alternativa, além da permuta, que estou vendo crescer bastante”, complementa.

O financiamento associativo é, para Júnior Bosco, outra boa opção para quem vai comprar na planta. Nesse caso, o banco que financia a obra também financia a compra durante o processo de construção e garante a entrega. As vantagens, segundo Bosco, envolvem, a garantia de conseguir o financiamento e a manutenção da taxa de juros. 

Crédito para imóveis deve cair em 2016

Este ano o crédito para aquisição e construção de imóveis deve ter uma queda de 20,6% em relação ao ano passado, que já amargou uma retração de 33% frente 2014, segundo estima a Associação das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip). Com esse desempenho, o financiamento imobiliário voltou ao patamar de 2011, segundo a entidade.

Segundo Kênio Pereira, presidente da Comissão de Direito Imobiliário da OAB-MG, uma das causas do problema é a falta de recursos da poupança. “Só no ano passado, a poupança teve mais de R$ 50 bilhões de saques e não há perspectiva de melhoria”. Os recursos da poupança também financiam a compra de imóveis através da linha de crédito Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE). 

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