ANÁLISE

Cidades pequenas, suspensão de contratos e construção 'salvam' emprego em Minas

Estado fechou 2020 com saldo positivo, apesar da Covid-19; veja os números no seu município

Por Cristiano Martins
Publicado em 16 de fevereiro de 2021 | 06:00
 
 
 
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Minas Gerais começou o ano comemorando um saldo positivo de 32.717 empregos formais criados em 2020, mesmo com a crise agravada pela Covid-19. Dados do Novo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) analisados por O TEMPO revelam que o resultado foi puxado pelas cidades pequenas e que o setor da construção teve o melhor desempenho no quesito.

Por outro lado, o número se apoia nas vagas geradas antes da chegada do novo coronavírus a Minas e na suspensão temporária de vínculos e seus respectivos pagamentos, autorizada pelo Programa Emergencial de Manutenção do Emprego do governo federal.

Auxílio Emergencial

A análise pormenorizada revela que 477 municípios encerraram o ano com um número igual ou maior de vagas formais na comparação com o início da pandemia, enquanto os outros 376 amargaram um déficit na abertura de postos em regime CLT a partir de março.

Em linhas gerais, os melhores resultados foram registrados em cidades pequenas. O principal exemplo é Indianópolis, no Triângulo Mineiro, com saldo de 1.025 empregos ao longo do ano, ou 890 de março em diante ― uma expansão de 93% durante a pandemia.

A hipótese mais provável é que o Auxílio Emergencial tenha impulsionado o consumo e aquecido as economias mais frágeis. Dentre as cem cidades com os maiores aumentos proporcionais, 79 estão acima da média de recebimento do benefício no Estado, de acordo com dados da Controladoria-Geral da União (CGU). Juntos, os 595 municípios que aparecem sobre essa linha de corte criaram 7.878 novos postos a partir de março, contra um saldo negativo de 7.261 vagas eliminadas nos locais onde a cobertura foi menor.

"O auxílio funciona como um paliativo, para que a família possa manter a sua subsistência. Entendo que ele possa gerar algum efeito no comércio, nos supermecados e no setor de alimentação em geral. Mas não podemos assumir que ele vá resolver o problema da geração de emprego", alerta o economista Hélio Berni, professor do Ibmec-MG.

 

 

Janeiro e fevereiro

A diferença entre admisões e demissões terminou no azul, quase em sua totalidade, graças à abertura líquida de 32.100 vagas com carteira assinada nos dois primeiros meses do ano, antes dos primeiros casos de Covid-19 em Minas e das medidas de isolamento adotadas em função da pandemia.

A partir dali, foram extintos mais de 1,2 milhão de postos de trabalho em regime CLT. Mas as contratações excedentes realizadas entre junho e novembro, coincidindo com a retomada de parte das atividades econômicas e com os avanços no tema da vacina, foram suficientes para recuperar o déficit de desligamentos. O saldo no período entre março e dezembro foi de “apenas” 617 vagas.

"A partir do meio do ano, há um fenômeno no sentido contrário ao do segundo trimestre, um processo de recontratação. E ele se intensifica com a ideia concreta de implementação da vacina, que altera as expectativas do mercado. Mas ainda não há uma indicação de que entramos em um ciclo virtuoso e, sim, de que estamos reestabelecendo os postos perdidos no início. Não é a vacina sozinha que vai resolver os problemas econômicos do Brasil, mas é um alento”, analisa Berni.

 

 

Suspensão de contratos

Outro aspecto importante a ser levado em conta é o corte na massa salarial, pois uma parte considerável dos vínculos empregatícios só foi mantida graças à suspensão dos contratos ou à redução das jornadas de trabalho possibilitadas pelo Programa Emergencial de Manutenção do Emprego, encerrado em dezembro.

Segundo o Ministério da Economia, foram realizados em Minas mais de 1,8 milhão de acordos envolvendo 925.770 mil trabalhadores desde abril, quando a Medida Provisória entrou em vigor. A enorme maioria das adesões pertence às categorias mais rigorosas do programa, isto é, suspensão do contrato (860.006) e redução da carga horária em 70% (434.874).

Esses números não devem ser comparados diretamente aos 4,1 milhões de postos existentes em Minas, pois um mesmo profissional pode ter mais de um emprego ou ter feito diferentes acordos no período, mas ajudam a dimensionar o impacto da pandemia no bolso de uma grande parte da população ― o benefício pago pelo governo é calculado a partir do seguro-desemprego a que o trabalhador teria direito em caso de demissão.

"Se não existissem essas isenções, as empresas teriam eliminado mais postos. Para o trabalhor, é preferível manter o vínculo empregatício, mesmo ganhando menos e tendo prejuízo no poder de compra. E, para a empresa, custa caro demitir. Ela tem um custo alto nisso também. Houve um benefício mútuo, com o Estado (governo federal) se colocando para que a destruição de postos fosse menor", pondera o especialista do Ibmec-MG.

 

 

Construção em alta, serviços em baixa

Por fim, a comparação entre as diferentes atividades econômicas mostra que o saldo positivo em Minas foi puxado principalmente pelas empresas de construção, com uma diferença positiva de 25.248 vagas formais no ano, ou 16.612 delas a partir de março. O comércio e a agropecuária também ficaram no azul durante a pandemia, com 3.250 e 2.379 postos criados, respectivamente, após a chegada do coronavírus.

No outro oposto, o ramo que mais emprega no Estado foi também o que mais precisou demitir durante a crise. A partir de março, foram registradas 498.663 dispensas e 477.445 contratações no setor de serviços, isto é, um saldo negativo de 21.218 trabalhadores desligados. A indústria também fechou o ano em baixa, com uma diferença de 406 vagas formais eliminadas no período.

 

 

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