O setor hoteleiro de Belo Horizonte enfrenta forte crise desde o fim da Copa do Mundo, situação que se agrava a cada dia por falta de turistas para preencher os cerca de 13,5 mil quartos disponíveis hoje na capital. Só neste ano, 500 postos de trabalho foram perdidos com o fechamento de quatro empreendimentos, segundo a Associação Brasileira da Indústria Hoteleira (ABIH-MG). Diversos investidores também amargam prejuízos após o evento esportivo e já travam batalhas judiciais.
Em janeiro, a taxa de ocupação registrada pela entidade na capital foi de 36%, índice considerado normal para o mês, mas que pode piorar assim que forem inaugurados outros 11 empreendimentos até o fim do ano, que elevará para 15.428 o total de quartos ofertados. Esse número é 91,25% maior que há quatro anos, período em que foi aprovada pela prefeitura a lei 9.952/2010, que aumentou o potencial construtivo das obras e permitiu a viabilização de empreendimentos para suprir a carência de leitos.
Com a oferta de vagas em alta e a baixa ocupação, pelo menos três empreendimentos foram transformados em condomínios residenciais e salas comerciais. De acordo com a presidente da ABIH-MG, Patrícia Coutinho, o marketing feito pelas construtoras para atrair investidores foi muito grande. “Deveria ter havido um limite na concessão de alvarás”, alegou.
No total, foram aprovados 83 projetos, de acordo com a JR & MVS Consultores. Desses, 37 foram inaugurados entre 2012 e 2015, 11 estão em curso ou atrasados e 35 foram cancelados. Com esse cenário, perdem ainda os diversos investidores que se aventuraram em lucrar com o setor.
O consultor Maarten Van Sluys informou que já existem ações ajuizadas em virtude dos atrasos. As obras vinculadas à lei 9.952 em atraso estão sujeitas a pesadas multas, e todos os empreendimentos nessa situação já foram notificados pela prefeitura.
“Os investidores têm amplo e irrestrito direito de ressarcimento total ou parcial de seu investimento. Em alguns casos, solicita-se o cancelamento do negócio e a devolução do valor investido, acrescido de correção monetária”, explicou. Sluys também criticou a lei, alegando que a redação do documento deveria ter contado com maior participação de especialistas do ramo.
Retorno. Atraído pela garantia de rentabilidade, o engenheiro civil Cícero Barbosa Júnior, 40, investiu R$ 350 mil no Golden Flat, no bairro Cidade Jardim, região Centro-Sul da capital. A obra com 340 unidades foi inaugurada um mês antes da Copa do Mundo, e a promessa era de um retorno de R$ 2.500 a R$ 4.000 mensais. Não foi o que aconteceu. Para obter o lucro esperado, Barbosa explicou que a ocupação deveria ser de 60%, mas que essa taxa não passa de 40%. “A ocupação só foi suficiente durante o evento esportivo. Depois disso, tem meses que recebo R$ 500, tem meses que não recebo nada”, conta. Isso significa que o engenheiro, quando recebe, tem 0,15% por mês de rendimento.
Apesar da frustração, o investidor diz que pretende esperar por um período de maturação do empreendimento, mesmo sem o retorno. “Todo investimento é de risco, e vou até o fim. Vou aguentar firme, porque quem sobreviver fica no mercado”, acredita.
Golden Tulip
Justus. Previsto para entrar em operação antes da Copa, o Golden Tulip, que tem como garoto-propaganda o empresário Roberto Justus, só deve ser inaugurado a partir de 2017.
O que defendem especialistas do setor
Campanhas para atrair turistas das cidades do interior para a capital
Nomeação de um técnico do setor hoteleiro para gerir a Companhia Mineira de Promoções (Prominas), que visa ao desenvolvimento do turismo de negócios em Minas Gerais
Obras eficientes de mobilidade urbana para atrair mais eventos nacionais e internacionais
Renovação dos espaços de eventos da cidade
Melhoria do Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins
Transferência de alguns voos para o Rio de Janeiro e São Paulo para o aeroporto da Pampulha
Mais apoio dos governos municipal, estadual e federal para alavancar o turismo em Minas Gerais