Recuperação

Comércio vive otimismo em Belo Horizonte, mas consumidor ainda segura o bolso

Confiança chegou a nível positivo, mas há incertezas quanto ao rumo da pandemia na capital

Por Gabriel Rodrigues
Publicado em 27 de julho de 2021 | 03:00
 
 
 
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Após quase um ano e meio de “abre e fecha” e consecutivos prejuízos, os lojistas de Belo Horizonte estão esperançosos com o segundo semestre deste ano, que terá maratona de datas comemorativas e promete avanço da vacinação contra a Covid-19.

No meio do caminho, porém, o otimismo esbarra no aperto financeiro dos consumidores e na incerteza sobre os rumos da pandemia. 

Gerente comercial de cinco lojas de roupas em BH e região, Kennedy Santos, 38, que se vacinou contra a Covid-19 nesta semana, mantém otimismo sobre os rumos da pandemia e a retomada do faturamento, que ele diz ter sido acentuada neste mês.

“Hoje, estamos na nossa melhor fase de vendas desde o começo da pandemia. A recuperação é lenta, mas acontece. Em março, precisamos demitir toda a equipe e, agora, recontratamos, mas com comissão mais baixa, porque o preço de tudo o que compramos aumentou e não conseguimos repassá-lo ao cliente”, diz Santos.

A Câmara dos Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH) projeta um crescimento de 4,8% das vendas em 2021 ante 2020, mas ainda inferiores às de 2019, e vê um cenário positivo para os próximos meses, com Dia dos Pais, Dia das Crianças, Black Friday e Natal.

Esse otimismo também é atestado pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Minas Gerais (Fecomércio MG): segundo levantamento divulgado ontem, o Índice de Confiança do Empresário do Comércio (Icec) chegou a 102,3 pontos, igual dezembro de 2020. Acima dos 100 ele é considerado positivo. 

“O varejista precisa do contato pessoal, do fluxo de pessoas, então a possibilidade de manter as portas abertas tende a retomar o otimismo. Também temos o avanço da vacinação, que melhora a perspectiva da manutenção dessa abertura e deixa o comércio mais confiante. A preocupação que fica é com essa nova variante delta do vírus, que causa problemas em países onde se considerava que a pandemia estava controlada”, pontua o economista da Fecomércio MG Guilherme Almeida.

Ele lembra que, no final de 2020, o otimismo também era alto, mas foi barrado pelo recrudescimento dos índices de contaminação nos meses seguintes. 

Sócio administrativo de duas lojas de acessórios em shoppings de BH, Bruno Jácome, 39, aposta em um aumento de 10% a 20% das vendas até novembro, antes do Natal, e abriu contratações – agora que os shopping centers podem operar inclusive aos domingos. “Acho que agora vai desmanchar e o comércio não vai fechar de novo”, opina ele.

O presidente da CDL-BH, Marcelo de Souza e Silva, aponta que a total retomada do comércio depende do retorno das demais atividades na capital.

“Se você não tiver a engrenagem toda funcionando, não tem esse retorno tão rápido. O retorno das escolas está devagar, e o setor de eventos volta com dificuldade”, diz.

Desemprego e inflação desanimam consumidores

A perita forense Alessandra Drakoulakis, 49, conta que todos na casa dela mantiveram o emprego durante a pandemia, mas viram o poder de compra minguar com o aumento dos preços.

“Não faço mais compras do mês no supermercado. Eu e muitas amigas estamos vivendo à base de promoções: vou ao mercado quando vejo oferta”, diz.

Segundo a Fecomércio MG, a Intenção de Consumo das Famílias continua abaixo dos 100 pontos e, em julho, foi de 63,7.

“Quando tenho alto nível de desemprego, a renda é inferior e, então, tenho menor orçamento para consumo. Mas as datas que estão chegando têm apelo comercial, como a Black Friday, e emocional, como o Dia dos Pais, e as pessoas compram no impulso”, reflete o economista Guilherme Almeida.

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