Brasília. Pela segunda vez seguida, o Banco Central (BC) reajustou os juros básicos da economia. Por unanimidade, o Comitê de Política Monetária (Copom) aumentou nesta quarta a taxa Selic em 0,5 ponto percentual, para 11,75% ao ano. O órgão ampliou o ritmo do aperto monetário. Na reunião anterior, no fim de outubro, a taxa tinha sido reajustada em 0,25 ponto. Como a taxa é referência para o mercado, na prática, esse aumento deve encarecer o crédito já para as compras do Natal.
A taxa está no maior nível desde meados de outubro de 2011, quando estava em 12% ao ano. A Selic é o principal instrumento do BC para manter a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), dentro da meta estabelecida pela equipe econômica, que é de 4,5%, com teto de 6,5%. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o IPCA acumulado em 12 meses estava em 6,59% em outubro. De acordo com o boletim Focus, pesquisa semanal com instituições financeiras divulgada pelo BC, o IPCA encerrará 2014 em 6,43%. A estimativa foi mantida pela segunda semana seguida.
Por outro lado, o aumento da taxa Selic prejudica o reaquecimento da economia. De acordo com o boletim Focus, os analistas econômicos projetam crescimento neste ano de apenas 0,19% do Produto Interno Bruto (PIB, soma dos bens e serviços produzidos pelo país).
“Com a elevação da taxa Selic em mais 0,5 pontos percentuais, o Brasil fecha 2014 no topo do ranking de país com a maior taxa de juros real do mundo. Um dos principais efeitos dessa política está no crescimento recente do país, que é decepcionante. Nos últimos quatro anos, o Brasil cresceu 1,6% ao ano em termos médios, contra 3,4% do mundo e 3,2% da América Latina. Estes números indicam que culpar o mundo pelo crescimento nulo do Brasil não parece um argumento válido”, disse Olavo Machado Junior presidente da Fiemg, que lamenta a elevação da Selic nas vésperas do Natal, período de grande consumo e de aquecimento da economia.
A elevação da taxa foi classificada pela Força Sindical como um “presentão de Natal” do governo aos especuladores. A entidade afirma, ainda, que “dose forte pode matar o paciente”. “O governo insiste em editar medidas de aperto monetário num país que está com a atividade econômica estagnada”, disse a entidade.
A taxa é usada nas negociações de títulos públicos no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) e serve como referência para as demais taxas de juros da economia. Ao reajustá-la, o BC contém o excesso de demanda, que se reflete no aumento de preços, porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança.
CNI prevê impacto na produção e no emprego
Brasília. A elevação da taxa básica de juros em 0,5 ponto porcentual, embora indique uma ação mais ativa do Banco Central em controlar a inflação, ampliará as dificuldades das empresas, avalia a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Em nota, a CNI defende a adoção de uma política fiscal mais rigorosa para que o combate à inflação tenha menor impacto sobre a atividade produtiva e o emprego.
A CNI acredita que a elevação dos juros terá efeito negativo sobre o consumo e os investimentos, reforçando, no curto prazo, as dificuldades das empresas. “O desafio da política econômica é promover outras ações para conter as pressões sobre os preços e conduzir a inflação para a meta com menor impacto sobre a atividade produtiva e emprego”, destaca a nota.