Ministério do Trabalho

Coronavírus fez país perder 860 mil empregos só em abril

Em BH, foram 20 mil postos de trabalho formais extintos por causa da pandemia

Por Fábio Corrêa
Publicado em 28 de maio de 2020 | 03:00
 
 
 
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Três meses após ter a carteira de trabalho assinada na loja de balões de festa em que trabalhou durante quase um ano na região Centro-Sul de Belo Horizonte, Victoria Menezes, de 25 anos, foi demitida, em abril. A justificativa da dona do negócio foi a redução do quadro em meio à pandemia. “Ela disse que, quando melhorasse, me chamaria para trabalhar lá de novo”, conta. 

A moradora do bairro Jardim Alvorada, na região Noroeste, ainda conseguiu um acerto retroativo para o período em que trabalhou sem carteira. “Consegui pagar as contas no mês de abril e deste mês agora, e acabou”, diz ela, que já teve os pedidos para o auxílio emergencial negados duas vezes – e tenta agora pela terceira vez.

Victoria faz parte do grupo de 1,4 milhão de brasileiros que perderam o emprego no mês de abril, o primeiro afetado integralmente pela crise do coronavírus, que levou à paralisação de grande parte das atividades econômicas. Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgado ontem pelo Ministério da Economia, o saldo de admissões (598.596) e de demissões registrou a perda de 860 mil postos de trabalho, o pior número na série histórica, iniciada em 1992. Do total, os setores de comércio e serviços, juntos, perderam nada menos que 592.587 vagas só em abril. Em Minas Gerais, foram extintas 88.298 vagas de trabalho em todos os setores – 20 mil só na capital mineira.

De acordo com o Sindicato de Lojistas de Belo Horizonte (Sindilojas-BH), a previsão inicial era que o varejo tivesse cerca de 8.000 demissões com 70 dias de paralisação, podendo chegar a 20 mil nos meses posteriores. “Devemos ter de três a quatro meses com vendas inferiores ao normal. Tivemos um empobrecimento da população e uma perda salarial e de trabalho muito grande, não conseguimos dimensionar o que será isso. Estamos falando de 5.000 lojas fechadas. Isso é um impacto muito grande na circulação de dinheiro”, comenta o presidente da entidade, Nadim Donato.

Bares e restaurantes

Pablo Bahia é proprietário de um bar e um restaurante na região Centro-Sul. Desde 20 de março, por determinação do decreto municipal de Alexandre Kalil (PSD), fechou o bar, que existe há 83 anos. O restaurante está atendendo pelo delivery, mas, segundo Bahia, o faturamento que sobrou representa 20% do que era antes da pandemia. “Sou a favor do fechamento, mas não teve planejamento nenhum. O decreto fechou tudo de uma hora pra outra. Perdi R$ 1.000 só de compras na Ceasa que tinha feito para aquela semana. De mercadoria, foram mais R$ 3.000”, conta ele, que demitiu, no total, seis de 18 funcionários.

Segundo o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) em Minas, Ricardo Rodrigues, cerca de 20% de todos os estabelecimentos de bares e restaurantes em BH e região metropolitana faliram desde o início da pandemia. Para ele, o problema maior para o setor é não ter previsão de reabertura. “Se for 24 de dezembro, que seja. Quem tiver condição sobreviver até lá, fica, quem não (tiver) vive de outra forma. É melhor que ficar na espera, acumulando dívidas”, afirma.

Menos serviços

O setor de serviços foi o que mais perdeu vagas em abril, com saldo negativo de 362.378, seguido pelo comércio, com 230.209 vagas a menos no país.

Redução de jornada

De acordo com os dados do Ministério da Economia, 8,15 milhões de trabalhadores tiveram, até o último dia 25, os contratos suspensos ou a jornada reduzida pela Medida Provisória (MP) do governo federal, de 1º de abril. Do total, 4,4 milhões de acordos foram pela suspensão do contrato de trabalho.

Para o presidente do Sindilojas-BH, Nadim Donato, a medida impediu que houvesse mais demissões. “Ajudou demais. Não tem precedentes. Essa redução de jornada ainda vai continuar, porque agora estamos funcionando num horário reduzido”, afirma ele, que diz que o ideal é que a medida fosse prorrogada para além do limite de 90 dias devido à retomada economia, que deve ser lenta.

Proprietário de um bar e um restaurante, o empresário Pablo Bahia suspendeu o contrato de metade dos 12 funcionários dos dois estabelecimentos. A outra metade teve o contrato suspenso pelas regras da MP. Segundo o presidente da Abrasel em Minas, Ricardo Rodrigues, a MP ajudou muito, mas não resolve. “Se não tem uma data, uma previsão pra voltar, você vai suspender o contrato do garçom por 60 dias – e depois?”, questiona Rodrigues.

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