MERCADO FINANCEIRO

Economista: falta de concorrência explica lucro de R$ 132 bilhões dos bancos

A alta dos juros para controlar a inflação, demissões de funcionários e repasse do Banco Central em 2020 também justificam lucro das instituições financeiras

Por Gabriel Ronan
Publicado em 12 de agosto de 2022 | 14:56
 
 
 
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Após o Banco Central anunciar que o lucro das instituições financeiras ficou em R$ 132 bilhões em 2021, O TEMPO ouviu o economista Gelton Pinto Coelho, do Conselho Regional de Economia de Minas Gerais (Corecon-MG), para explicar os motivos por trás do alto valor, que retoma a rentabilidade que o setor tinha antes da pandemia. 

Para Gelton, a principal razão para o lucro imenso dos bancos é a falta de concorrência. Basicamente, as operações financeiras no Brasil giram em torno de cinco empresas somente: Banco do Brasil, Caixa, Santander, Bradesco e Itaú. “A chave do desenvolvimento do País é a ampliação da oferta de serviços bancários e a criação de novos bancos. Isso pode ser feito por meio dos bancos digitais e das cooperativas de crédito. Com a tecnologia, vários tipos de produtos podem ser criados para oferecer à população. Uma política econômica para promover a descentralização bancária do País”, diz. 

O especialista cita também outros fatores. Ele lembra que a pandemia da Covid-19 alterou a relação dos clientes com os bancos. Por conta do isolamento social, muita gente aprendeu a usar os recursos digitais oferecidos por essas empresas, o que motivou um grande número de demissões no setor. Com uma folha salarial mais enxuta, os bancos aumentaram ainda mais seus lucros.

Gelton Pinto Coelho também lembra que o Banco Central repassou R$ 1,2 trilhão aos bancos no início da pandemia como política pública para garantir o acesso da população ao crédito. Ele discorda do caminho seguido pela União. “A escolha deveria ter sido financiar pequenos e médios empresários. Isso iria sanear muito mais a economia do que fazer isso por meio dos bancos. Poderia usar a Caixa e o Banco do Brasil para conceder crédito aos pequenos e médios (empresários) e evitar o fechamento em massa de oportunidades (no mercado de trabalho)”, afirma o economista do Corecon-MG. 

Outra explicação para o lucro elevado em 2021 é a elevação da taxa de juros. A medida, adotada pelo Banco Central, serve como trunfo para controlar a inflação que o País tem enfrentado. Em janeiro do ano passado, a Selic estava em 2% ao ano, mas fechou dezembro último em 9,25%. Hoje, o quadro é ainda pior: 13,75% ao ano. 

Com os juros altos, o cidadão tem acesso a um crédito mais caro. Por isso, o endividamento com o cartão de crédito dispara, assim como a inadimplência. O cheque especial também fica mais caro. Mas, para Gelton Pinto Coelho, a elevação da Selic não resolve o problema da inflação. Segundo o economista, a alta de preços está ligada a setores que o governo tem a capacidade de controlar, como o dos combustíveis e da energia elétrica. 

“Isso (a alta da Selic) já configura um endividamento do governo em relação ao mercado. Ou seja, quando eu pago 13,75% ao ano, estou sinalizando ao mercado que é para não investir. Nesse sentido, para de compensar investir na abertura de novos negócios. Passa a ser mais lucrativo manter esse dinheiro parado (em fundos de investimento, por exemplo)”, diz o economista do Corecon-MG. 

Vale lembrar que o governo só mexeu, efetivamente, no preço dos combustíveis e da energia elétrica recentemente, meses antes das eleições presidenciais. A partir da Lei Complementar 194, o presidente Jair Bolsonaro (PL) limitou a cobrança do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) desses setores entre 17% e 18%. 

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