Dívida

Entenda por que Brasil pode pagar mais de R$ 800 bilhões só em juros neste ano

Manutenção da taxa Selic em 13,75% causa forte impacto nas contas do governo federal


Publicado em 09 de maio de 2023 | 10:00
 
 
 
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O Brasil pode pagar R$ 813 bilhões de juros da dívida pública em 2023, caso o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) mantenha a taxa Selic em 13,75% até o fim do ano, segundo um estudo da XP Investimentos. 

Isso ocorre porque, assim como a maioria das famílias brasileiras, que precisa pegar empréstimo para comprar um imóvel ou um veículo, o governo também capta dinheiro quando vai financiar alguma obra, um projeto, ou caso tenha qualquer gasto extra.

Nessas situações, o governo se financia através dos títulos públicos, como o Tesouro Direto. Ele pega recursos com os investidores e paga o valor com juros no longo prazo. E como a dívida do país está em quase R$ 6 trilhões, o pagamento de juros tem um forte impacto nas contas públicas.

Segundo as projeções da XP, o valor de R$ 813 bilhões é equivalente a 7,7% do Produto Interno Bruto (PIB), a maior proporção desde 2016. 

“Quer dizer que quase 8% de toda a nova produção de bens e serviços feita no país seria dada para quem emprestou o dinheiro para o governo. Então a taxa de juros elevada acaba fazendo com que o governo tenha que transferir para quem emprestou recurso para ele grande parte de toda a riqueza que o país consiga gerar num dado período de tempo, em geral, o ano”, explica o analista aposentado do BC e professor de Economia Monetária, Paulo Machado Feitosa. 

Mas se os juros elevados provocam tanto impacto na dívida pública do país, por que o Banco Central insiste em mantê-la nesse patamar de 13,75% ao ano? A questão é que os juros altos, teoricamente, ajudam a controlar a inflação, pois encarecem o crédito e travam o crescimento da economia. Esta estratégia provoca uma redução da demanda por produtos e serviços. com a procura menor, as empresas reduziriam seus preços.

Mas essa explicação não convence a equipe econômica do governo federal, pois a Selic elevada aumenta os gastos com juros e impede o crescimento econômico. Isto ajuda a explicar os atritos recentes entre o presidente Lula e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. O presidente do Brasil afirma que a economia precisa crescer para gerar empregos, enquanto Campos Neto é firme em relação ao controle da inflação através da taxa de juros elevada.

Na última semana, quando anunciou a manutenção dos juros no atual patamar, o BC alegou que a instabilidade no mercado externo e as incertezas econômicas no país mantinham a inflação do Brasil acima da meta projetada, de 5,8% em 2023 e 3,6% em 2024. 

No comunicado em que confirmou a manutenção da Selic em 13,75%, o Banco Central avaliou que “a conjuntura demanda paciência e serenidade na condução da política monetária. O Copom enfatiza que, apesar de ser um cenário menos provável, não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”.

No entanto, os principais bancos e analistas de mercado avaliam que a Selic pode começar a cair no segundo semestre deste ano, caso o governo tome medidas para deixar o cenário menos incerto em relação à economia.  

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