Negócios

Exigência de CNPJ para entrega de delivery multiplica registro de bares

BH 'ganhou' 2.500 empresas de alimentação fora do lar na pandemia, mas representação de microempreendedores individuais cresceu

Por Gabriel Rodrigues
Publicado em 06 de abril de 2022 | 03:00
 
 
 
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Após 20 anos de carreira no setor de turismo, Amanda Ribeiro, 40, foi demitida nos primeiros meses da pandemia e, em busca de alternativa de renda, transformou a vocação na cozinha em negócio. Hoje, ela vende doces e salgados por delivery e o trabalho de oito horas diárias como funcionária se transformou em 12 ou até mais horas diárias aplicadas no negócio próprio, que envolve não só cozinhar,  mas responder a pedidos e gerenciar as redes sociais da empresa — mas ela garante que não retornaria à vida de empregada fichada. “Eu peguei gosto pela área de alimentação e a renda até aumentou. A cozinha de casa virou meu escritório”, diz. 

Amanda faz parte de um movimento de microempreendedores individuais (MEI) responsáveis pelo aumento de CNPJs de empresas de alimentação fora do lar em Belo Horizonte durante a pandemia. Apesar dos sucessivos fechamentos de estabelecimentos durante a crise sanitária, após eles serem obrigados a fechar as portas para o público durante meses, o número de registros de empresas do ramo aumentou desde 2020 e passou de 12 mil para 14.500, segundo o braço mineiro da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-MG).

Isso não quer dizer, entretanto, que hoje o consumidor encontre centenas de novos bares nas ruas. O índice dos MEIs no total de CNPJs saltou de 15% antes da pandemia para 45%, mas engloba os microempreendedores  que, muitas vezes, trabalham na cozinha da própria casa e só atendem por delivery. 

“O movimento é de quem foi demitido dos estabelecimentos, foi empreender e virou MEI. Isso mostra a criatividade do belo-horizontino, que empreende mesmo que por necessidade, mas o problema é que ele acaba não gerando emprego, porque só pode ter um funcionário”, pontua o presidente da Abrasel-MG, Matheus Daniel. Tradicionalmente, a informalidade é elevada entre empreendedores da gastronomia, mas, para entregar por aplicativos como o iFood, o CNPJ é obrigatório, o que impulsionou a formalização durante a pandemia. 

Em outros casos, como o da empreendedora Amanda Ribeiro, que começou o negócio após ser demitida do setor de turismo, a opção pela formalidade é uma forma de resguardar direitos. “Eu vendo para alguns empórios e preciso emitir nota fiscal. Mas o MEI também permite fazer recolhimento do INSS para o futuro, mesmo que seja pouco. Eu também planos de abrir uma loja no futuro, e por isso já pensei na formalização”, diz. Além da contribuição para a Previdência Social, o MEI garante o direito ao auxílio-doença e a pensão por morte para os dependentes, por exemplo. A contribuição mensal do MEI varia de R$ 61,60 a R$ 66,60. 

Restaurantes conseguem nadar contra maré e ampliar operação na pandemia

Notícias sobre o fechamento de restaurantes se somaram durante a pandemia e estabelecimentos tradicionais, como o La Greppia, no Centro de BH, e La Crepe, no Santa Tereza, deixaram a capital. Por outro lado, alguns estabelecimentos nadaram contra a maré e encontraram no delivery uma forma de emergir com mais fôlego das fases mais rígidas da pandemia. 

É o caso da Giaco Pizzaria, que, hoje, funciona no bairro Ouro Preto, na região da Pampulha, mas que se sustentou na base das entregas por dois anos e até hoje encontra no delivery sua maior fonte de faturamento. “Alugamos um espaço no São Pedro, que iríamos abrir para clientes, mas, com a pandemia fizemos só entrega. O aluguel ficou caro, mudamos para o Gutierrez e, agora, temos duas cozinhas, uma lá e outra no Ouro Preto, onde inauguramos a unidade física. O delivery ainda representa 60% do nosso faturamento, mas queremos inverter isso, porque a experiência do cliente no restaurante é outra”, diz um dos sócios, Douglas Medrado. 

Ana Carolina Paranhos, sócia da Doce Carol Ateliê, também teve que mudar a natureza dos negócios para crescer. Especializada em eventos, principalmente casamentos, ela viu o movimento desaparecer no início da pandemia, mas adaptou o cardápio para doces de consumo do dia a dia, como fatias de tortas, e hoje expandiu para quatro endereços nas unidades do conjunto de restaurantes do Mercado da Boca. “Antes da pandemia, éramos quatro funcionários, agora somos 20. Tínhamos capital para manter o negócio no começo da pandemia e arriscamos”, conclui. 

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