No meio do Vale do Mucuri, a duas horas de carro de Teófilo Otoni, em uma cidade com pouco mais de 5.000 habitantes, está o maior produtor de granito bruto de Minas Gerais.

Na calmaria de Franciscópolis, a economia ainda é baseada na pecuária e na agricultura, mas as cerca de 15 pedreiras da rocha ornamental, segundo a administração local, já influenciam o dia a dia do pequeno município.

Dados publicados pela Agência Nacional de Mineração (ANM) mostram que a cidade foi, no ano passado, a campeã estadual em operação de granito, com R$ 45,5 milhões. Ainda de acordo com o órgão, o município possui atualmente 20 títulos minerários, ou seja, o potencial já descoberto não é totalmente explorado pelas mineradoras.

Segundo a prefeitura local, o volume faz com que a prefeitura arrecade, em média, cerca de R$ 7 milhões anuais com a exploração da rocha ornamental.

Do montante, a administração local emprega 40% no ensino infantil. O prefeito Eduir Camargos (DEM) afirma que, com esses recursos, o município consegue que praticamente todas as crianças de Franciscópolis frequentem a creche local.

Por outro lado, a falta de um polo industrial na região e a fuga dos blocos de granito para o Espírito Santo, onde a matéria-prima vira chapa para venda e adquire um valor agregado de 30% a 50% – tirando os custos com logística e industrialização –, freia o desenvolvimento local.

“O governo podia tentar parcerias com as pedreiras e com os empresários para abrir fábricas para trabalhar o granito dentro da nossa cidade, o que podia fomentar o emprego”, afirmou o prefeito, durante visita da reportagem à sede da administração municipal.

A população ocupada de Franciscópolis, em 2017, registrava 10,8 % em relação à população total – um total de 614 pessoas. “Seria muito importante. Às vezes o governo podia até diminuir o valor do imposto para que as empresas pudessem investir mais nas nossas próprias cidades, onde elas estão localizadas, extraindo”, diz Camargos.

Zona rural

Uma contrapartida dada pelas mineradoras para as cidades que possuem maior número de pedreiras no Estado é a manutenção de estradas. Como precisam de bons acessos para a passagem de carretas, que carregam os blocos de rochas ornamentais para o Espírito Santo, as empresas acabam investindo nas estradas.

Na comunidade de Carrapato, em Itinga, segunda cidade com maior operação em granito em Minas, com R$ 31,8 milhões, está a pedreira Typhoon, da Itinga Mineração. Com o investimento nas estradas de chão, a extração melhorou o acesso da população incrustada no meio do Cerrado.

A pedreira tem 38 funcionários com salário médio de R$ 3.120, bem acima dos R$ 1.896 de rendimento médio dos 954 ocupados entre os 15 mil habitantes do município.

Por causa das carretas, o maior impacto das pedreiras é a poeira. Para reduzi-la, as mineradoras usam caminhões-pipa para molhar as estradas de chão.

Licenciamento para mineração pode levar até cinco anos

Uma reclamação constante dos empresários do setor é o licenciamento ambiental. “Qualquer empreendimento hoje, para se legalizar em Minas, vai de dois a cinco anos”, afirma o gerente administrativo da Itinga Mineração, Airton Novais.

Segundo o engenheiro florestal da empresa, Thiago Alves, falta padronização às Superintendências Regionais de Meio Ambiente (Suprams). “Na Supram Norte, pedem um estudo de fauna que vale para períodos seco e úmido. Já as Suprams Leste e Jequitinhonha pedem um para o período seco e outro para o úmido”, pontua.

Segundo a Secretaria de Estado de Meio Ambiente, o potencial poluidor da atividade é considerado médio. A pasta diz que as lavras podem ser regularizadas com processos simplificados, a não ser quando há “supressão de vegetação nativa de fitofisionomias em estágio médio de regeneração natural do bioma Mata Atlântica”.

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