ALTA DA SELIC

Financiamento imobiliário fica cerca de R$ 100 mil mais caro em um ano

Taxa básica de juros aumentou de 3,5% para 12,75% em um ano, o que adia sonho de famílias

Por Gabriel Ronan
Publicado em 25 de maio de 2022 | 12:00
 
 
 
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Uma medida usada para controle da inflação, mas que pesa no bolso de quem sonha com a casa própria: em um ano, diante da elevação da Selic, o brasileiro paga cerca de R$ 100 mil a mais no financiamento de um imóvel de padrão econômico, avaliado em R$ 236,5 mil, considerando um prazo de 30 anos para pagamento. A diferença traduz a alta da taxa básica de juros, que estava a 3,5% ao ano em maio de 2021 e subiu para 12,75% ao ano na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central.

O maior patamar desde 2017 atinge em cheio o mercado imobiliário. O setor continua com sinais de desaceleração na maioria dos padrões de imóveis. Números apresentados ontem pelo Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG) mostram que apenas três dos sete tipos de residências continuam em alta no mercado: o especial (de apenas um quarto) e o econômico (até R$ 236,5 mil), que variaram, respectivamente, 41,9% e 4,2% para mais na comparação com março do ano passado e março último; e o de alto luxo (avaliado acima dos R$ 3 milhões), que praticamente manteve as vendas de 2021, com crescimento tímido de 2,9%. Os dados são de BH e Nova Lima.

Ou seja, os imóveis entre R$ 250 mil e de até R$ 3 milhões todos perderam espaço no mercado, diante das condições desfavoráveis do financiamento. O quadro da economia faz pessoas como o advogado Mateus Pimenta, de 27 anos, adiar o sonho da moradia sem aluguel. “Eu e minha noiva queríamos um apartamento na planta que é mais barato. Nosso intuito era fazer a compra pelo Casa Verde e Amarela, o antigo Minha Casa, Minha Vida. Mas, a gente encontrou valores muito altos.Se a gente colocar no papel, ficaria mais de R$ 2 mil por mês, só que temos outras despesas também para lidar”, diz o jovem, que adiou o planejamento do casamento para 2024. “Vamos ver se o quadro muda após as eleições”, afirma.

O presidente do Sinduscon-MG Renato Michel diz que os números mostram que o custo da construção civil também se elevou, o que atrapalha a oferta de imóveis e faz o preço dos que estão no mercado subir.

“O preço dos imóveis subiu mais que a renda das famílias. Então, elas acabam optando por imóveis menores para caber no orçamento. Mais de 50% do custo de produção está ligado a três insumos: o aço, o cimento e a madeira. Fica muito claro que precisamos usar outras alternativas, como a importação de materiais”, diz o sindicalista. 

O custo do metro quadrado construído na Grande BH, ao considerar o imóvel padrão, aumentou R$ 384,37 na comparação entre janeiro de 2020 e abril deste ano: de R$ 582,80 para R$ 967,17. O custo com materiais de construção, no período em análise, aumentou 65,95%.

Tudo isso reflete num recuo na oferta de imóveis: no primeiro trimestre do ano passado, BH e Nova Lima lançaram 1.740 unidades, enquanto no mesmo período deste ano o total de inaugurações foi de 986: uma redução de 43,3%.

Apesar dos dados não tão animadores, o presidente do Sinduscon-MG Renato Michel aposta que o setor dá sinais de recuperação e pede para que o Banco Central não aumente ainda mais a Selic para garantir a demanda por imóveis.

“No nosso entendimento, a inflação do País não pode ser combatida pela elevação da taxa. Essa inflação está ligada, principalmente, ao preço de combustível e de energia. Ela é mundial. Essa elevação da taxa de juros acaba comprometendo a capacidade produtiva do País e gerando uma recessão”, afirma. 

Apesar da taxa básica de juros mais cara em cinco anos, o CEO da startup de crédito CrediHome, vinculada à Loft, defende que a linha de crédito atual está "bastante razoável".

"A linha de crédito imobiliário subiu menos do que as demais linhas e deve se estabilizar nessa faixa entre 9% e 10%, um pouco mais perto dos 10%. O que é uma taxa muito boa na história recente do Brasil", diz. Ele recomenda a contratação de assessoria de crédito na hora de recorrer ao financiamento para escolher bancos com condições melhores e mais seguras.

Demanda por luxo se mantém

Se a procura por imóveis de preço médio despencou, os de alto luxo continuam na mesma toada do ano passado. Para Renato Costa, presidente da construtora RL Costa, dois fatores explicam a manutenção dessas vendas mesmo com a elevação substancial da Selic. O primeiro deles é que a taxa básica de juros não muda o comportamento dessas famílias, já que pela condição financeira elas tendem a comprar imóveis à vista. 

Outra explicação é que houve uma mudança de comportamento do consumidor.

“A pandemia trouxe uma ressignificação para a vida das pessoas. Elas começaram a questionar onde moram. Antigamente, priorizavam morar em grandes centros, perto do trabalho. Mas, agora, as pessoas procuram por um aconchego maior, até por um lazer dentro do empreendimento. É uma compra que envolve vínculo emocional e status”, diz o empresário. 

Apesar das vendas mantidas, Renato Costa não esconde que o custo para construção dos empreendimentos se elevou bastante com a inflação dos últimos meses.

“No início de 2021, para se ter um exemplo, o metro cúbico do concreto custava cerca de R$ 220. Fiz uma compra recentemente, há cerca de três semanas, na qual o metro cúbico estava na faixa de R$ 470. Não é só o concreto, mas aço, vidros, cabeamentos elétricos… Tudo aumentou”, afirma o presidente da RL Costa. (Por Gabriel Ronan)

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