Em alerta

Furnas pode esgotar seu volume útil até setembro, avalia o ONS

Usina está operando com 37,8% da capacidade instalada; irrigação agrícola também corre risco

Por Cinthya Oliveira
Publicado em 09 de junho de 2021 | 03:00
 
 
 
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A situação dos reservatórios, impactados pela forte estiagem dos últimos meses, é mais preocupante em Furnas, que pode esgotar o volume útil até o fim do período seco, em setembro, de acordo com relatório do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).

Segundo a Eletrobras Furnas, a usina está operando com 37,8% da capacidade instalada.

A grande questão é que mais de 50 cidades do Sudoeste mineiro fazem parte da bacia do entorno da represa de Furnas, e a redução do nível do reservatório, que vem acontecendo há cerca de dez anos, impactou o turismo e as atividades econômicas.

O Comitê da Bacia Hidrográfica de Furnas está estudando quantos cidadãos e atividades econômicas podem ser afetados pelo esvaziamento do reservatório. 

“Ficam afetadas possíveis captações de água para abastecimento humano, captações para irrigação nas atividades agropecuárias, aquicultura, pesca e afeta duramente as atividades e empreendimentos turísticos instalados no entorno do lago”, afirma Maria Isabela de Souza, presidente do comitê.

Segundo ela, o comitê propõe que todos que fazem uso das águas da bacia do rio Grande paguem por isso, no entanto falta regulamentação para a cobrança:

“Temos um problema que veio se arrastando ao longo de várias gestões nos diversos níveis das esferas públicas. É preciso um diálogo franco com a sociedade para que cada cidadão, sendo agente público ou não, sinta-se responsável pelo uso sustentável da água”. 

Agricultura em alerta

Gerente de Meio Ambiente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Ana Paula Mello argumenta que os poderes públicos devem avisar aos produtores rurais com antecedência sobre os possíveis racionamentos nas regiões impactadas pela crise hídrica.

“É necessária uma negociação em tempo hábil, para que o produtor possa pensar no plantio sem ter perda para a cultura. Se forem avisados, poderão fazer um plantio conforme necessidade de redução no uso de água”, explica. 

Uma das áreas que merecem planejamento urgente é da produção de peixes.

Segundo Roberto Carlos Rodrigues, secretário de Meio Ambiente de Três Marias, os piscicultores da região farão uma reunião amanhã para discutir uma possível necessidade de redução nos tanques, já que a usina da cidade tende a ser mais demandada nos próximos meses. 

“E temos ainda a pesca como atração turística. Se a represa fica vazia, muitas famílias ficarão sem renda nos próximos meses, e isso precisa ser analisado”, diz o secretário, que também preside o Comitê da Bacia Hidrográfica do Entorno da Represa de Três Marias, que abrange 25 cidades.

Rodrigues lembra ainda que a cidade depende do reservatório para o abastecimento da região urbana.

Segundo ele, o comitê pretende negociar com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e a Agência Nacional de Águas (ANA) para que não haja alteração no número máximo de vazão da usina, para evitar um esvaziamento do reservatório. 

A represa de Três Marias viveu seu pior momento em 2012, quando chegou a 4% do volume útil, de acordo com Rodrigues. Isso faz com que todos fiquem atentos à vazão do reservatório, que interfere em toda a bacia do São Francisco – inclusive na produção de Sobradinho, na Bahia.

“Há dois anos, o comitê conseguiu a proeza de negociar sobre vazão máxima que a usina poderia ter para não prejudicar o lago ou o rio”, explica. 

Copasa diz ter capacidade de enfrentar o período seco 

Enquanto os reservatórios para produção de energia estão em níveis críticos, as represas da Copasa na região metropolitana de Belo Horizonte encontram-se com média de 93% do volume total armazenado.

“Com o atual volume de reservação armazenado e o uso consciente da água pela população, a Copasa acredita que, em relação ao abastecimento de água tratada, Minas Gerais vai conseguir enfrentar o período de estiagem de forma diferenciada de outros Estados brasileiros”, diz a companhia.

A situação é mais grave em cidades do Jequitinhonha e do Norte do Estado.

Atualmente as cidades de Coluna e Felisburgo e as localidades de Bom Jesus de Cardosos, pertencente ao município de Urucânia, e Vale Verde de Minas, em Ipaba, estão em sistema de rodízio.

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