O isolamento social forçado por conta da pandemia da Covid-19 fez com que os pets se tornassem, cada vez mais, o melhor amigo do homem. Mesmo em um cenário de inflação na casa dos 10% e salários estagnados, os gastos com os bichinhos cresceram no Brasil – e o faturamento de quem oferece serviço para animais domésticos se manteve em alta.

Pesquisa do Instituto Pet Brasil projeta um crescimento de 25% no mercado pet só no ano passado e uma tendência de manutenção dessa ascensão neste ano. A alta é puxada, principalmente, pelos R$ 28 bilhões movimentados em alimentação de cães, gatos e outros bichos – 54% dos R$ 51,1 bilhões em transferências dessa área da economia em 2021, conforme dados do Instituto Pet Brasil.

Para a analista do Sebrae Minas Aline Morau, a continuidade do crescimento do mercado pet, mesmo durante a pandemia, é explicada pelo isolamento social e pela crescente população de cães e gatos no Brasil. “A humanização dos pets, o estilo de vida solitário nas grandes cidades e o aumento do número de casais que optaram por não ter filho e adotar um animal são efeitos do crescimento do mercado pet. Ou seja, quem zela cuida, e quem cuida tende a gastar mais, independentemente do seu poder de compra”, explica.

Números comprovam a análise de Aline. Em pesquisa realizada no ano passado, a Petlove&Co, que trabalha no ecossistema pet, contabilizou que 54% dos tutores adotaram um animal em 2021. Desses, 19% adquiriram um bichinho pela primeira vez na vida durante o isolamento social da Covid.

A CEO da empresa, Talita Lacerda, destaca que a marca faturou R$ 800 milhões no ano passado e deve crescer ainda mais em 2022.

“A expectativa de crescimento da Petlove é que a gente feche este ano com R$ 1,1 bilhão. Isso significa um ganho de share (percentual de participação) no setor. Nossa expectativa é crescer 40%”, diz a executiva da Petlove. A marca trabalha com o conceito de megaloja, oferecendo todo tipo de produto para o mundo pet. Tudo funciona a partir de uma assinatura, na qual o tutor recebe o produto em casa. Em BH, por meio de parcerias, a entrega acontece em quatro horas.

No contexto geral, o Instituto Pet Brasil (IPB) projeta novo crescimento na casa dos dois dígitos para o setor neste ano. Mas o presidente do Conselho Consultivo do IPB, Nelo Marraccini, diz que a alta do preço das commodities, puxada pelo câmbio, freia o faturamento líquido dos empresários do setor.

“Dificilmente, o mercado brasileiro de pet vai dar ré, porque a população (de cães e gatos) sempre cresce na casa das pessoas. Além disso, os preços estão subindo em detrimento da alta da matéria-prima. Nós somos ligados ao agronegócio. Esses produtos de alimentação também são disputados pelo mercado internacional”, avalia.

Talita Lacerda, da Petlove, acompanha a análise de Nelo Marraccini. Segundo ela, o fornecedor aumentou o preço dos alimentos para pets no ano passado. “A gente espera que este ano tenha um novo repasse, mas numa magnitude menor”, diz.

Orçamento 

A vida não está nada fácil para o lado do consumidor. A analista de sistemas Paloma Azevedo Oliveira, de 40 anos, por exemplo, já tem o gasto com seus cães no orçamento mensal. Ela tem duas cadelinhas das raças lulu-dapomerânia e maltês, e sua escolha foi não ter filhos para dar aos pets uma vida de carinho e muitos cuidados especiais. “Em média, eu gasto R$ 600 por mês com as despesas fixas. Mas, agora em janeiro, tive que gastar cerca de R$ 1.500 com as duas para comprar ômega 3, suplementos alimentares e medicamento contra pulgas. Onde vou, carrego as duas comigo”, diz Paloma.

Criatividade atrai consumidores

O número de empresários que querem surfar na onda dos pets e criam alternativas para seduzir os tutores cresce exponencialmente. Um exemplo é a Au! Happy, que oferece o serviço de plano de saúde para animais por meio de assinaturas. A procura cresceu durante a pandemia por conta do tempo que os humanos passaram a mais com os bichinhos no isolamento social.

“Para 2022, nossa expectativa é de fechar o ano com faturamento acima de R$ 5 milhões”, diz Simone Cordeiro, diretora comercial da empresa. Um diferencial da empresa é o atendimento em domicílio, com um veículo adaptado.

Em BH, a criatividade também anda boa pra cachorro. O Gennaro Restaurante, na Savassi, oferece um menu pet: risotos, biscoitinhos e até mesmo bebidas alimentícias que imitiam o vinho e a cerveja. “Fizemos uma parceria com veterinária para ajudar na escolha dos ingredientes. A gente tem um risoto de cordeiro e um de frango, de uma marca italiana, para pets. Não é o nosso foco, e o faturamento está em segundo plano. Mas traz uma visibilidade enorme para o restaurante”, afirma Priscila Baeta Neves, proprietária do estabelecimento.