13 anos

Julgamento da tragédia do voo Rio-Paris em 2009 começa na França

Em 2009, 228 pessoas morreram no acidente aéreo de um Airbus que havia saído do Rio de Janeiro em direção à Europa

Por Agências
Publicado em 10 de outubro de 2022 | 15:00
 
 
 
normal

O julgamento contra a fabricante Airbus e a companhia aérea Air France por homicídio culposo começou nesta segunda-feira (10) na França com as duas empregas rejeitando qualquer erro na tragédia aérea que matou 228 pessoas em 2009 no voo Rio-Paris. 

Mais de cinquenta familiares das vítimas estavam na sala lotada do tribunal correcional de Paris, onde os três magistrados leram os nomes dos falecidos em meio a um silêncio doloroso.

Pouco antes, o CEO da Airbus, Guillaume Faury, e a diretora-geral da Air France, Anne Rigail, ouviram as acusações contra as duas empresas, antes de tomar a palavra.

"Estou diante de vocês para expressar, em nome da Air France, nossa mais profunda solidariedade aos parentes das vítimas", disse Rigail, para quem este acidente marcará para sempre a "história coletiva" de sua empresa. 

Apesar de ter salientado que a empresa continuará a colaborar com a justiça, o responsável negou que tenham cometido um "delito criminal" ligado ao acidente, assim como a Airbus. 

Seu presidente executivo também expressou no tribunal seu "profundo respeito" pelos familiares das vítimas, ao que a presidente da associação Entraide et Solidarité AF447, Danièle Lamy, respondeu: "Tarde demais!"

"Há treze anos que esperamos por este momento. É uma pena, senhor. Deveria ter vergonha!", indignou-se o vice-presidente desta associação de familiares de vítimas, Philippe Linguet, antes de a presidente do tribunal pedir calma.

Em 1º de junho de 2009, o avião do voo AF447 caiu no meio da noite no Atlântico, 3 horas e 45 minutos após a decolagem no Rio, causando a morte de seus 216 passageiros e 12 tripulantes. Foi o desastre mais mortal da história da Air France.

O avião, que havia entrado em serviço quatro anos antes, transportava passageiros de 33 nacionalidades - 61 franceses, 58 brasileiros e 28 alemães, assim como italianos (9), espanhois (2) e um argentino, entre outros. 

Os primeiros destroços, assim como corpos, foram encontrados nos dias que se seguiram, mas a fuselagem só foi localizada dois anos depois, em 2 de abril de 2011, a 3.900 metros de profundidade cercada por altos relevos subaquáticos, durante a quarta fase de buscas.

As caixas-pretas, recuperadas um mês depois, confirmaram que os pilotos, desorientados pelo congelamento das sondas de velocidade Pitot numa zona de convergência intertropical perto do Equador, não conseguiram recuperar a sustentação (estol) da aeronave, que caiu em menos de cinco minutos.

Após uma longa sucessão de perícias, os juízes de instrução arquivaram o caso em 29 de agosto de 2019. Indignados, familiares das vítimas e sindicatos de pilotos recorreram e, em 12 de maio de 2021, a Câmara de Instrução decidiu pelo processo por homicídios involuntários das duas empresas.

Segurança, uma "prioridade"

"Não espero nada deste processo", disse à AFP Nelson Faria Marinho, presidente da associação brasileira das vítimas do voo AF447 e cujo filho morreu no acidente aos 40 anos. Este homem de 79 anos não viajará para Paris por falta de recursos.

O tribunal terá que determinar se a Airbus e a Air France, que enfrentam uma multa de 225.000 euros (cerca de 220.000 dólares), cometeram erros relacionados à tragédia.

Para o sindicato de pilotos do grupo Air France (SPAF), é "importante que um tribunal possa ouvir todas as partes e se pronunciar sobre as diferentes responsabilidades durante um processo público, onde será destacada a importância da segurança dos voos".

O Tribunal de Apelação considerou existir acusações suficientes contra a Air France por "se abster de implementar a formação adequada" face ao congelamento das sondas, "o que impediu os pilotos de reagir conforme necessário". 

A Airbus foi acusada de ter "subestimado a gravidade das falhas dos sensores de velocidade instalados na aeronave A330, ao não tomar todas as medidas necessárias para informar com urgência as tripulações das empresas operadoras e contribuir para a sua formação eficaz". 

Guillaume Faury disse que a fabricante montou uma "organização" para chegar "o mais próximo possível de zero acidentes" e que a segurança era a sua "prioridade", pelo que considerou que "estas queixas não se justificam".

Falhas nessas sondas foram registradas nos meses anteriores ao acidente. Após o desastre, o modelo afetado foi substituído em todo o mundo. 

A tragédia também levou a outras modificações técnicas no campo aeronáutico e reforçou o treinamento em estol, bem como no estresse da tripulação.

(AFP)
                
 

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!