A maior parte das empresas, 59%, só deve contratar mais funcionários se as boas perspectivas para a economia neste ano se confirmarem, enquanto apenas 18% vão aumentar o quadro de pessoal em qualquer cenário.

Porém, 64% do empresariado afirma que vai demitir pessoal se o cenário econômico piorar. Da administração pública, 79% dos empresários esperam políticas de estímulo ao emprego.

Os dados são da pesquisa “Agenda 2020”, realizada pela consultoria a Deloitte e publicada com exclusividade por O TEMPO.

Após dois anos de expectativas frustradas na economia, o empresariado brasileiro viu uma leve retomada em 2019.

Para 2020, as expectativas são altas: mais de 70% estão otimistas com o desenvolvimento econômico, contra 5% que não acredita em avanços nos próximos 12 meses.

Apesar disso, o cenário positivo precisará ser confirmado na prática para que o investimento privado volte a ocorrer no Brasil.

Giovanni Cordeiro, economista da Deloitte, disse que grandes empresários esperam definições na pauta reformista prometida pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.

Se a economia for bem, 31% deles pretendem participar de licitações ou vendas de ativos públicos.

Pequenos e médios, por outro lado, anseiam mais pela retomada da renda das famílias e, por consequência, do poder de consumo.

De acordo com ele, o aceno de Guedes para políticas de equilíbrio fiscal será prioritário na manutenção da confiança do empresariado.

“Após a Previdência, outras ações de estímulo ao desenvolvimento econômico devem sair do papel, como privatizações, concessões públicas e reforma tributária. Tudo isso são indicativos de um ano melhor”, acredita.

O especialista pontua que, na pesquisa, diminuir a complexidade tributária brasileira apareceu com grande relevância para o empresariado, com 43% acreditando que ela é mais danosa do que a alta carga de tributos.

Por outro lado, 49% afirmaram que os custos são piores para as operações. O economista da Federação do Comércio de Minas Gerais (Fecomércio-MG), Guilherme Almeida, afirma que a recuperação está caminhando, mas aquém do ritmo esperado.

Ele argumenta que, após outras crises econômicas, a aceleração do desenvolvimento se deu de forma mais ágil.

“O gasto público, antes, teve muita importância para a retomada econômica, mas, hoje, temos uma situação fiscal difícil, o que torna esse caminho inviável. A recuperação está nas mãos da iniciativa privada”, conclui.

Pequenos empresários se dividem em relação ao otimismo na economia. Mara Fernandes, administradora do Restaurante Veríssimo, conta que está há três meses com prejuízo e não vê melhora nas contas de seu negócio neste ano.

“A situação já não estava boa, mas piorou. Essa política econômica é voltada para banqueiros, não para a população. O resto que se dane”, desabafa.

“A perspectiva macroeconômica é horrorosa. Desde 2018, só aprofundou-se a crise e, para crescer nesse cenário, é preciso a maior criatividade do mundo”, completa Carlos Eloy, economista, marido e sócio de Mara.

Por outro lado, Wagner Cunha, sócio do bar Armazém 44, afirma que vai fazer mais contratações neste ano e ampliar as vendas. “Estamos procurando profissionais e a tendência é de crescimento neste ano”, diz.

Alexandre Cotta, franqueado da imobiliária RE/MAX, também está otimista. “Temos 26 funcionários e a ideia é terminar o ano com 35. Em 2019, dobramos nosso faturamento e esperamos fazer o mesmo 2020”, afirma.

Tecnologia

Investimentos em inovação e tecnologia são preocupações quase unânimes para o empresariado. Segundo levantamento “Agenda 2020”, da consultoria especializada Deloitte, 74% das empresas devem adotar novas tecnologias em suas operações e 58% apostarão em pesquisa e desenvolvimento neste ano, mesmo que o cenário econômico não seja favorável.

Caso as perspectivas de retomada econômica se confirmem, esses percentuais são ainda maiores, com 94% das empresas afirmando que vão investir em tecnologia e, 80%, em pesquisa.

O economista da Deloitte, Giovanni Cordeiro, explica que a falta de capacitação é um dos principais dificultadores do desenvolvimento de inovação nos negócios no Brasil.

No estudo da consultoria, 91% dos empresários apontaram que o investimento em educação é um dos mais importantes e 73% disseram que vão treinar funcionários neste ano, independentemente do andamento da economia.

“O empresariado precisa da qualificação, da formação de pessoas, para que esses profissionais consigam atender a as oportunidades que hoje existem no mercado. Esse segmento só vai crescer com o desenvolvimento econômico”, afirma.

Análise

Participantes 
Foram 1.344 empresas em todo o país, cujos faturamentos somados equivalem a metade do Produto Interno Bruto (PIB) do país, totalizando R$ 3,5 trilhões em receitas só em 2019. 

Demografia
Região Sudeste: 73% das empresas pesquisadas
Sul: 15%
Nordeste: 9%
Norte: 4% 

Área atuação das empresas pesquisadas
Bens de consumo: 31%
Infraestrutura e construção: 14%
Tecnologia e telecomunicações: 14%
Atividades financeiras: 9%
Bens de capital: 8%
Demais serviços: 24%