Crise

Medo de falência bancária faz gregos comprarem ‘a rodo’ 

Bancos devem abrir nesta segunda, mas limite de saque vai continuar

Por Suzanne Daley
Publicado em 19 de julho de 2015 | 03:00
 
 
 
normal

Marousi, Grécia. Os negócios estão tão vigorosos na gigante loja de eletrodomésticos e aparelhos eletrônicos Kotsovolos que parece que ela está em liquidação. Mas não. É compra por pânico, dizem os que trabalham aqui. Cada vez mais preocupados com o crescimento dos problemas econômicos que veem pela frente, e limitados na quantidade de dinheiro vivo que podem tirar dos bancos, os gregos estão usando seus cartões de débito para comprar fogões, geladeiras, máquinas de lavar pratos – qualquer coisa tangível que possa ter valor em tempos difíceis. Os bancos devem reabrir nesta segunda. Em um decreto divulgado neste sábado, o governo grego afirmou que manteve o limite de saque diário de € 60, mas acrescentou um limite semanal. Por exemplo, uma pessoa que não retirar o dinheiro na segunda-feira, poderá realizar um saque de € 120 na terça-feira e assim por diante, até o limite de € 420.

“Vendemos muito”, conta Despina Drisi, que trabalha na loja há 12 anos. “Vendemos até os modelos expostos na vitrine. Estamos espaçando os produtos agora para cobrir os buracos na prateleira”.

Para um observador casual, o movimento da vida cotidiana parece estar normal por aqui. Os gregos, muitos dos quais há tempos trocaram seus carros por motonetas, enchem as ruas na hora do rush. Os turistas lotam a Acrópoles. Os amigos se encontram e sentam em cafés.

Mas, por baixo dessa aparência, os gregos estão lutando contra um medo crescente, as estranhas ramificações de bancos fechados e o potencial cada vez maior para coisas piores. Muitos estão fazendo o que podem para se proteger financeiramente, comprando eletrodomésticos e joias, pagando contas e impostos antecipadamente, para ter uma obrigação financeira resolvida se acabarem perdendo parte de suas poupanças em uma falência bancária, como aconteceu com aqueles que tinham depósitos em Chipre, em um plano de resgate do país em 2013.

“Em pânico não é nem o começo da descrição de como as pessoas se sentem”, afirma Antonis Mouzakis, contador de Atenas. “Tenho um número enorme de clientes querendo preencher seus impostos aqui e agora, para pagar instantaneamente antes de um possível corte. Mesmo que o imposto seja de € 40 mil a € 50 mil, eles pagam de uma vez.”

O joalheiro grego George Papalexis diz que um cliente o abordou querendo comprar € 1 milhão em mercadorias. Mas Papalexis, diretor de operações do Zolotas, disse que recusou porque está mais confortável guardando suas joias do que deixando o dinheiro em bancos gregos. “Tive que recusar o negócio. É uma medida do risco que temos que enfrentar”. Quando os bancos de Chipre tiveram que ser socorridos, quem tinha depósitos de mais de € 100 mil perdeu cerca de 40% de seu dinheiro.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!