Setor automotivo

Minas deve sofrer menos impacto com paralisação de fábricas de veículos no país

Desde o início da semana, cinco montadoras anunciaram férias coletivas no Brasil, mas Fiat continua a produção em Betim


Publicado em 23 de março de 2023 | 06:00
 
 
 
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O setor automotivo deve sofrer menos impacto em Minas Gerais do que em outros Estados, como São Paulo, Rio de Janeiro e Pernambuco, após cinco montadoras de veículos anunciarem, nesta semana, que vão dar férias coletivas para uma parte dos funcionários, como forma de adequar a produção à queda nas vendas dos carros novos. 

As concessionárias tiveram o pior mês de fevereiro dos últimos 17 anos no Brasil, com 129,9 mil veículos vendidos, segundo a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). 

Na segunda-feira (20), Volkswagen, Hyundai, General Motors e Stellantis (dona de marcas como Fiat, Peugeot, Citroën e Jeep) foram as primeiras a comunicar a paralisação das fábricas, principalmente em São Paulo. 

Um dia depois, foi a vez da Mercedes-Benz se juntar às outras montadoras e suspender parte da produção nas fábricas do ABC Paulista e no interior do Estado. 

Mas em Minas, a fábrica da Fiat continua funcionando e não comunicou qualquer mudança na operação. Por isso, a cadeia de suprimentos não foi prejudicada. É o caso do setor de autopeças no Estado. 

“Pelo menos aqui em Minas Gerais, nós não estamos sentindo essa redução, mas também não está tendo crescimento, está estável. A montadora aqui em Betim (Fiat) não anunciou férias, então a produção continua normal. Posso dizer que a situação das autopeças em Minas Gerais está numa situação melhor ou menos pior do que a de outros Estados”,  explica Fábio Sacioto, diretor regional do Sindicato Nacional das Indústrias de Autopeças (Sindpeças).

Desde a chegada da pandemia de Covid-19 no Brasil, em 2020, as montadoras de veículos precisaram interromper a produção algumas vezes, mas por outro motivo. Até o ano passado, a falta de chips no mundo todo, devido à paralisação das fábricas de semicondutores durante a fase de isolamento social, levou as montadoras a pararem a produção por até três meses seguidos e dar férias coletivas aos funcionários.

Mas neste ano, a produção foi interrompida nas fábricas de veículos por outra causa: uma mudança de estratégia das montadoras, que agora focam em produzir e gerar caixa rápido em vez de produzir em larga escala e deixar os carros em estoque. Como neste início de ano as vendas de veículos 0 km ficaram abaixo das expectativas do setor, a solução foi paralisar a produção por um tempo curto e readequar a oferta e a demanda.

“Desde que os veículos passaram a ter mais tecnologia embutida, as montadoras deixaram de focar no volume para focar em margem de lucro e rentabilidade. Assim, elas conseguem sobreviver e evoluir, pois a concorrência é alta e o mercado exige investimentos e a atualização constante desses produtos”, explica o coordenador dos cursos automotivos da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Antônio Jorge Martins, que acredita que a paralisação nas fábricas será por um tempo mais curto, como uma semana ou duas. 

Preços altos

Como ficaram mais modernos e mais conectados, os carros novos subiram muito de preço nos últimos anos, pois esta tecnologia exige componentes eletrônicos como os chips, mas as fábricas desses insumos paralisaram no mundo todo durante a pandemia, levando a uma escassez desses produtos e aumento de preços. 

“Houve um aumento no mundo todo de custos de peças, componentes e semicondutores, onerando o setor automotivo com um todo. Ele é importador desses componentes. Todos os aumentos foram repassados para os preços dos veículos, que estão elevados para toda a sociedade brasileira, já que a renda não acompanhou este aumento de custos”, explica o professor da FGV.

Outro motivo que deixou o carro mais caro nos últimos anos foi a mudança da legislação no Brasil, que exigiu maior segurança dos veículos. Desde 2014, é obrigatório o carro sair de fábrica com air bag duplo e sistema ABS nos freios. 

Com toda esta situação, os carros novos mais baratos do Brasil hoje são o Renault Kwid, o Fiat Mobi e o Citroën C3, que custam cerca de R$ 70 mil. 

Além dos preços terem aumentado muito, a taxa básica de juros do país (Selic) também está muito alta, em 13,75% ao ano. Ou seja, os financiamentos de veículos também estão mais caros. 

Só para se ter uma ideia, o Banco do Brasil está cobrando juros a partir de 16,5% ao ano para essa modalidade. E o BB é o banco que cobra a menor taxa entre as 5 grandes instituições bancárias do país, na lista que inclui Itaú, Santander, Caixa e Bradesco.  

Seminovos

Enquanto as vendas de carros novos tiveram queda no país, o setor de veículos usados e seminovos teve crescimento em janeiro e fevereiro. Em Minas Gerais, a procura foi considerável. 

“Se fizermos um comparativo de janeiro e fevereiro deste ano com o mesmo período do ano passado, as vendas aumentaram 20% em Minas e 30% na Grande BH. Em 2022, o preço do seminovo ainda estava alto, mas a tabela Fipe vem caindo gradualmente. O aumento dos preços dos usados durante a pandemia foi muito grande, cerca de 30%. Como as fábricas de veículos estavam com o problema da falta de peças, a procura pelos seminovos foi muito grande”, afirma Glenio Júnior, presidente da Associação dos Revendedores de Veículos de Minas Gerais (Assovemg). 

E o setor de veículos usados está otimista para 2023, mesmo se a indústria automobilística conseguir voltar a produzir carros novos com o mesmo ritmo de antes da pandemia. 

“Lógico que se faltarem carros novos no mercado, nossas vendas tendem a aumentar. Mas a procura pelos veículos 0 km também nos beneficia, pois as pessoas trocam o carro e deixam o usado para a gente vender. Entram mais ofertas para o nosso estoque”, explica o presidente da Assovemg. 

“A expectativa do setor de seminovos e usados é que seja um ano de muito otimismo. A taxa de juros está com tendência de queda e o nível de emprego tem aumentado gradualmente. São fatores que contribuem para esta melhora” conclui. 

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