Grão Mogol

Mineradora chinesa tem projeto para megabarragem no Norte de Minas

Proposta, que já foi vetada pelo Ibama em 2016, depende de licenciamento

Por Rafaela Mansur
Publicado em 14 de setembro de 2019 | 03:00
 
 
 
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O governo de Minas Gerais assinou um protocolo de intenções com a Sul Americana de Metais (SAM), subsidiária da chinesa Honbridge Holdings, para a construção de um complexo de mineração que pode produzir 27 milhões de toneladas de minério de ferro por ano, a partir de jazidas localizadas em Grão Mogol e Padre Carvalho, no Norte do Estado.

O empreendimento terá uma das maiores barragens de rejeitos do país e vai receber investimentos de 7,9 bilhões.

O governo também assinou protocolo de intenções com a Lotus Brasil Comércio e Logística para a construção de um mineroduto de aproximadamente 480 km entre Grão Mogol e Ilhéus, na Bahia, que transportará o minério. Na estrutura, que vai passar por 21 municípios, serão investidos outros R$ 1,2 bilhão, totalizando R$ 9,1 bilhões.

Caso se concretize, será o segundo maior mineroduto do mundo. O primeiro é o da Anglo American, que liga Conceição do Mato Dentro, na região Central de Minas, a São João da Barra, no Rio de Janeiro, e tem 525 km.

Chamado de projeto Bloco 8, o complexo abrange uma usina de concentração de minério, barragens de água e uma barragem de rejeitos com capacidade de armazenar 845 milhões de metros cúbicos (m³).

Segundo relatório da Agência Nacional de Mineração (ANM) de fevereiro, a barragem com maior volume de rejeitos do Brasil, atualmente, armazena 399 milhões de m³.

A estrutura pertence à Kinross e fica em Paracatu, na região Noroeste de Minas. Já a barragem da mina de Córrego do Feijão, da Vale, que se rompeu em janeiro, em Brumadinho, tinha cerca de 12 milhões de m³ de rejeitos.

Temores

O Movimento dos Atingidos por Barragens é contrário. “Os impactos serão sentidos ao longo de toda a bacia do rio Jequitinhonha e do rio Pardo, caso consigam aprovar a operação da mina e do mineroduto”, afirmou o grupo, em um manifesto assinado com outras entidades.

O projeto da SAM, inicialmente chamado Vale do Rio Pardo, foi rejeitado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em 2016. À época, o órgão concluiu que “impactos negativos e riscos ambientais (...) não permitem que se ateste a viabilidade ambiental”. Mas, segundo a empresa, o projeto foi reestruturado.

Agora, só o licenciamento do mineroduto ficará a cargo do Ibama, uma vez que a estrutura cruza a divisa do Estado. Já as licenças do complexo de mineração serão de responsabilidade do governo de Minas.

A etapa de licenciamento prévio, que analisa a viabilidade ambiental, deve ser concluída em fevereiro de 2020.

Em nota, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) afirmou que o projeto Bloco 8 é “inovador” e “trouxe ao país tecnologia de aproveitamento de minérios pobres, numa região com grande necessidade de desenvolvimento social e econômico”.

Segundo a pasta, a barragem não usará alteamento a montante, como o das estruturas de Brumadinho e Mariana. De acordo com a Semad, a empresa chinesa vai implantar uma barragem de água no ribeirão Vacaria para abastecer a produção e um projeto de irrigação

Ainda de acordo com a secretaria, haverá um sistema de diques estanques que, em caso de emergência, vão confinar todo o rejeito à área da cava, “não havendo qualquer possibilidade de uma onda de rejeitos para fora dessa área, segundo os projetistas”. (Com agências)

Receita da mina está estimada em R$ 4 bilhões por ano

A operação do complexo de mineração no Norte de Minas vai criar cerca de 1.100 empregos, e a do mineroduto, outros 140, segundo o diretor-presidente da Agência de Promoção de Investimento e Comércio Exterior de Minas Gerais (Indi), Thiago Toscano.

A expectativa é que a mina gere receita bruta de R$ 4 bilhões por ano, sobre a qual serão pagos royalties de mineração. “Vai ser excelente. Só durante a fase de construção, 6.500 empregos serão gerados em uma das regiões mais pobres do Estado”, afirma Toscano.

Segundo ele, quando o complexo atingir a capacidade máxima de produção, aproximadamente em 2024, vai demandar uma usina de energia solar, a ser implantada pela própria empresa, que vai abastecer a região.

“A empresa demanda infraestrutura de tecnologia, e, naturalmente, todos os municípios acabam sendo beneficiados”, diz Toscano. De acordo com ele, a chinesa já gastou US$ 74 milhões com estudos.

O presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Flávio Roscoe, também aprova o empreendimento: “É um projeto de grande porte para uma região como o Norte de Minas, carente de investimentos”. 

Roscoe diz que, apesar de o projeto não ter impactos imediatos, vai gerar benefícios já durante as obras, como a abertura de empregos.

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