O governo de Minas Gerais assinou um protocolo de intenções com a Sul Americana de Metais (SAM), subsidiária da chinesa Honbridge Holdings, para a construção de um complexo de mineração que pode produzir 27 milhões de toneladas de minério de ferro por ano, a partir de jazidas localizadas em Grão Mogol e Padre Carvalho, no Norte do Estado.
O empreendimento terá uma das maiores barragens de rejeitos do país e vai receber investimentos de 7,9 bilhões.
O governo também assinou protocolo de intenções com a Lotus Brasil Comércio e Logística para a construção de um mineroduto de aproximadamente 480 km entre Grão Mogol e Ilhéus, na Bahia, que transportará o minério. Na estrutura, que vai passar por 21 municípios, serão investidos outros R$ 1,2 bilhão, totalizando R$ 9,1 bilhões.
Caso se concretize, será o segundo maior mineroduto do mundo. O primeiro é o da Anglo American, que liga Conceição do Mato Dentro, na região Central de Minas, a São João da Barra, no Rio de Janeiro, e tem 525 km.
Chamado de projeto Bloco 8, o complexo abrange uma usina de concentração de minério, barragens de água e uma barragem de rejeitos com capacidade de armazenar 845 milhões de metros cúbicos (m³).
Segundo relatório da Agência Nacional de Mineração (ANM) de fevereiro, a barragem com maior volume de rejeitos do Brasil, atualmente, armazena 399 milhões de m³.
A estrutura pertence à Kinross e fica em Paracatu, na região Noroeste de Minas. Já a barragem da mina de Córrego do Feijão, da Vale, que se rompeu em janeiro, em Brumadinho, tinha cerca de 12 milhões de m³ de rejeitos.
Temores
O Movimento dos Atingidos por Barragens é contrário. “Os impactos serão sentidos ao longo de toda a bacia do rio Jequitinhonha e do rio Pardo, caso consigam aprovar a operação da mina e do mineroduto”, afirmou o grupo, em um manifesto assinado com outras entidades.
O projeto da SAM, inicialmente chamado Vale do Rio Pardo, foi rejeitado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em 2016. À época, o órgão concluiu que “impactos negativos e riscos ambientais (...) não permitem que se ateste a viabilidade ambiental”. Mas, segundo a empresa, o projeto foi reestruturado.
Agora, só o licenciamento do mineroduto ficará a cargo do Ibama, uma vez que a estrutura cruza a divisa do Estado. Já as licenças do complexo de mineração serão de responsabilidade do governo de Minas.
A etapa de licenciamento prévio, que analisa a viabilidade ambiental, deve ser concluída em fevereiro de 2020.
Em nota, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) afirmou que o projeto Bloco 8 é “inovador” e “trouxe ao país tecnologia de aproveitamento de minérios pobres, numa região com grande necessidade de desenvolvimento social e econômico”.
Segundo a pasta, a barragem não usará alteamento a montante, como o das estruturas de Brumadinho e Mariana. De acordo com a Semad, a empresa chinesa vai implantar uma barragem de água no ribeirão Vacaria para abastecer a produção e um projeto de irrigação
Ainda de acordo com a secretaria, haverá um sistema de diques estanques que, em caso de emergência, vão confinar todo o rejeito à área da cava, “não havendo qualquer possibilidade de uma onda de rejeitos para fora dessa área, segundo os projetistas”. (Com agências)
Receita da mina está estimada em R$ 4 bilhões por ano
A operação do complexo de mineração no Norte de Minas vai criar cerca de 1.100 empregos, e a do mineroduto, outros 140, segundo o diretor-presidente da Agência de Promoção de Investimento e Comércio Exterior de Minas Gerais (Indi), Thiago Toscano.
A expectativa é que a mina gere receita bruta de R$ 4 bilhões por ano, sobre a qual serão pagos royalties de mineração. “Vai ser excelente. Só durante a fase de construção, 6.500 empregos serão gerados em uma das regiões mais pobres do Estado”, afirma Toscano.
Segundo ele, quando o complexo atingir a capacidade máxima de produção, aproximadamente em 2024, vai demandar uma usina de energia solar, a ser implantada pela própria empresa, que vai abastecer a região.
“A empresa demanda infraestrutura de tecnologia, e, naturalmente, todos os municípios acabam sendo beneficiados”, diz Toscano. De acordo com ele, a chinesa já gastou US$ 74 milhões com estudos.
O presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Flávio Roscoe, também aprova o empreendimento: “É um projeto de grande porte para uma região como o Norte de Minas, carente de investimentos”.
Roscoe diz que, apesar de o projeto não ter impactos imediatos, vai gerar benefícios já durante as obras, como a abertura de empregos.