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Novo comportamento de consumidores impulsiona mercado vegano em BH

Na capital mineira, está cada vez mais fácil encontrar produtos de qualidade veganos, como chocolates, bolos, sushis e salgados


Publicado em 17 de abril de 2023 | 06:00
 
 
 
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Trufa, bolos, pão de mel, bolos e ovos da páscoa… É de “comer com os olhos”, mas não só. A Chocolate Lab, confeitaria vegana localizada no bairro Floresta, na região Leste de BH, é também lembrada como algo que surpreende — inclusive por não veganos — pelo sabor. “É bom saber que a gente cumpre essa função de diminuir os ingredientes de origem animal não só pela via do discurso, mas pelo alimento gostoso, que conquista e seduz. É uma forma de promover a conscientização por uma via que não a militância direta. É na prática, no empenho das receitas”, afirma Débora Vieira, vegetariana, chef confeiteira da Chocolate Lab. 

A confeitaria é um dos vários novos negócios veganos de Belo Horizonte que conquistaram rapidamente o público. Nesta Páscoa, a Chocolate Lab vendeu 60% a mais do que no ano passado. A casa saiu de 250 unidades para mais de 400. Todos os produtos da loja são veganos e seguros para alérgicos a leite, ovo e a proteína da soja. A marca ainda oferece produtos zero açúcar e sem trigo. 

Débora Vieira começou a empreender na confeitaria em 2015, quando ficou desempregada e buscava alternativas para sobreviver. O empreendedorismo foi a solução que lhe permitiu ficar mais tempo com a filha, ainda criança. Ela começou com produtos tradicionais e veganos, mas com seis meses na ativa percebeu que havia uma demanda maior pelos produtos sem origem animal e havia uma lacuna no mercado na capital. Então, migrou de vez o foco do negócio, que ainda funcionava sob encomendas. 

O empreendimento cresceu muito ao longo dos anos, especialmente durante a pandemia, e a cozinha adaptada da sua casa foi ficando pequena. Em 2022 ela mudou-se para o Floresta e abriu a loja física, que hoje conta com dez funcionários. 

Na Chocolate Lab, ao menos 40% dos clientes não tem nenhuma restrição alimentar. “A gente sempre teve uma clientela não vegana muito grande. Tanto pessoas que buscam alimentação mais saudável, quanto as pessoas que provaram os produtos e gostaram”, detalha Débora.

Com a loja física, por exemplo, agora há opção de bebidas à base de cafés e o leite vegetal fica mais evidente. “É um produto de mais fácil digestão”, lembra a chef. Há também quem não seja celíaco, mas busque lanches sem glúten. 

Junto ao interesse dos consumidores, cresceu também a oferta de fornecedores para o mercado vegano. Débora conta, por exemplo, que até 2018 praticamente não encontrava chocolate branco vegano para comprar. “Hoje no Brasil já deve ter pelo menos dez opções”, diz. 

A multiplicação e consequente concorrência entre os fornecedores também favoreceu uma ligeira queda dos preços dos insumos, mesmo que ainda permaneçam num patamar muito mais elevado do que na confeitaria tradicional. Além desse custo da matéria-prima, a mão de obra precisa ser qualificada e isso acaba encarecendo mais os produtos. 

“Os processos são muito artesanais. Eu não pego o leite condensado pronto da prateleira. Eu compro castanha de caju, deixo de molho e faço. O bolo sem trigo precisa de cinco farinhas diferentes. Tenho que ir pra cozinhar, pesquisar e aprimorar as receitas. Então o custo do meu produto precisa viabilizar minhas criações”, detalha Débora. 

Bejí Sushi Veg oferece sushis sem peixe

Sushi sem peixe atrai clientes no Mercado Novo

Quando decidiu parar de comer carne, o casal Luiz Gustavo Neves e Ana Clara Souza precisou se adaptar para continuar degustando a culinária japonesa. Começaram a fazer em casa sushis sem peixe e viram que os amigos amaram o resultado. 

Deu tão certo que começaram a vender por meio de delivery para, depois, investir em uma loja. A Bejí Sushi Veg foi levada para o terceiro andar do Mercado Novo, espaço que caiu no gosto dos belo-horizontinos e dos turistas. 

Por ali, passam veganos, vegetarianos e muita gente disposta a conhecer um sushi que não leva peixe cru. O público-alvo é, especialmente, aquela pessoa que gosta de experimentar novidades gastronômicas. “Temos muitos clientes que querem reduzir o consumo de carne comendo coisas gostosas. E também recebemos pessoas que não comem sushi por não querer peixe cru. e elas acabam gostando muito da experiência de comer com hashi, molhando no molho shoyu”, relata.

Claro que algumas pessoas torcem o nariz num primeiro momento ao ver um produto novo, mas com jeitinho a equipe consegue atraí-las. “Nosso papel é oferecer a experiência de forma tranquila e ter uma oportunidade de quebrar o preconceito. Com jeitinho, a gente oferece uma peça para a pessoa experimentar. Com gentileza, a gente vai quebrando preconceitos”.

Vocalista do Juventude Bronzeada é adepta do veganismo popular

Vegana há nove anos, a cantora Priscilla Glenda, 38, garante que não é preciso gastar muito dinheiro e demandar tempo demais para abolir os produtos de origem animal. Especialmente agora, em que é mais fácil encontrar opções veganas em bares e restaurantes - e não estamos falando apenas de batata frita. 

Vocalista do bloco Juventude Bronzeada, Priscilla Glenda adora uma feijoada vegana

“Hoje, se eu estiver na rua, tenho a opção de comer uma coxinha de jaca ou de cogumelos. E os preços estão mais próximos dos produtos com carne. Costumo dizer que nosso veganismo é popular, não preciso comer coisas caras”, afirma. Como toda a família dela também aderiu à filosofia do veganismo, fica ainda mais fácil compartilhar receitas novas e gostosas. “No nosso Natal, sempre experimentamos pratos novos”. 

Vocalista do bloco Juventude Bronzeada e conhecida entre o público jovem de Belo Horizonte, ela conta que muitas pessoas procuram ela e seu marido - o músico Emílio Dragão - para tirar dúvidas sobre veganismo. “No início, a pessoa (que aderiu ao veganismo) quer falar muito sobre isso, apresentar argumentações. Mas com o passar do tempo, percebi que, se a curiosidade da pessoa não for genuína, não adianta insistir. Não vai ter uma sementinha para a mudança”, explica.

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