Transações eletrônicas

Papel-moeda perde cada vez mais espaço em pagamentos

Uso de cartões cresce 220% em oito anos no Brasil; operação por celular avança

Por Ludmila Pizarro
Publicado em 18 de março de 2018 | 03:00
 
 
 
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As transações eletrônicas estão transformando o dinheiro de papel em um artigo quase obsoleto. No Brasil, de 2008 a 2016, as transações com cartão de débito cresceram 220%, segundo dados do Banco Central, ou seja, aumentaram mais de três vezes. Segundo a Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito (Abecs), os brasileiros realizaram R$ 1,36 trilhão em compras com cartões em 2017, um crescimento de 12,6% em relação a 2016.

“A gente não precisa mais de dinheiro. Compras maiores e médias eu faço pela internet, e para as pequenas tem o cartão. Mesmo na economia informal, do vendedor de rua de frutas à banca de jornal, todos têm a maquininha”, afirma o analista de sistema Mário Luiz Moura Júnior, 44. Um estudo global do Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês) mostra que nos países emergentes, com destaque para o Brasil, as pessoas possuem mais cartões e os utilizam em transações mais frequentes e de menores quantias.

Os pesquisadores identificaram que, em 2016, o menor valor médio de um pagamento por cartão foi de cerca de US$ 8, no Brasil e na Rússia. Para eles, uma das razões pelas quais os cartões estão sendo usados por um número cada vez maior de pessoas e para menores quantias é a melhora da infraestrutura, já que as maquininhas tornaram-se mais acessíveis. No entanto, o dinheiro em papel continua firme, segundo o estudo do BIS. De acordo com o levantamento, o montante de dinheiro em espécie em circulação no planeta aumentou de 7% para 9% do PIB entre 2000 e 2016 no planeta.

“O fim do papel-moeda é um caminho sem volta porque as transações eletrônicas, que podem ser feitas pelo celular, são muito mais fáceis que as físicas”, avalia o CEO e gestor da Monetus, plataforma digital de gestão de investimentos, Daniel Calonge. Ele usa o próprio exemplo. “Tem dois meses que não tenho dinheiro na carteira. Passei o Carnaval em Belo Horizonte sem cédulas na carteira. Até o ambulante da cerveja aceitava cartão, e transporte era pelo aplicativo”, conta. Para Calonge, além da praticidade, a segurança aumenta.

Redução. “Para os próprios bancos, as transações eletrônicas são interessantes porque reduzem custos”, lembra Calonge. Já o coordenador do curso de administração do Ibmec-MG Eduardo Coutinho lembra que as transações bancárias ainda estão concentradas em cinco corporações bancárias. Mas o surgimento de empresas de tecnologia no setor pode ajudar a baratear os preços. “A disseminação de soluções tecnológicas barateou as transações bancárias, e reduções de preço estimulam o consumo”,argumenta.

Visa. Mais de 71 mil compras digitais foram feitas por hora no Brasil em 2017 por clientes dos cartões Visa. Frente 2016, o aumento é de 25%. No último trimestre, 50% dos clientes Visa fizeram transações online.

Pagamento por adesivo

As tecnologias de formas de pagamento não se resumem ao smartphone. O fundador do aplicativo Vah, que compara preço dos apps de mobilidade Uber, 99 e Cabify, Márcio Bern, utiliza o Sem Parar para pedágios e estacionamentos de shoppings na cidade de São Paulo. “É prático, evita fila e a cobrança vem no fim do mês na fatura do cartão de crédito”, explica.

O sistema utiliza um adesivo que é colado no para-brisa e vem com um chip que identifica o automóvel do usuário.

Smartphone é a nova carteira

Os aplicativos para smartphone dos bancos e aqueles que fazem cobrança no cartão de crédito também ajudam a diminuir o uso do papel-moeda. “Uma vantagem que os aplicativos de transporte trazem para o consumidor é o fato de se poder pagar via aplicativo. Eu nunca ando com R$ 1 no bolso. Quando esses aplicativos foram lançados, me tornei ‘heavy user’ e depois criei o Vah. Hoje meu celular funciona como a minha carteira”, diz Márcio Bern, fundador do Vah, que compara preço dos apps Uber, 99 e Cabify.

“Pago minhas contas todas por celular, não uso dinheiro nem para pagar o metrô porque tem o aplicativo que faz a recarga do valor na hora”, conta o publicitário Vitor Quinet, 31, que mora na capital paulista.

Segundo o Banco Central, as transferências bancárias aumentaram 53% de 2008 a 2016. E nas operações com cartão de crédito, esse aumento foi de 130% no mesmo período. A jornalista Mariana Ferreira, 22, conta que está migrando da conta convencional do banco para uma conta digital. “Não tem (custo) de manutenção de conta, não paga TED e DOC e posso fazer tudo pelo aplicativo. Para pagar as contas é muito melhor. Não uso papel moeda pra mais nada praticamente”, afirma.

Entre os apps que Quinet usa, está o Papelada, que reúne as contas mensais utilizando o CPF. “As próprias empresas já estão cadastradas, então eu não esqueço mais de nenhuma conta”, afirma o publicitário.


Evolução

Século X. Primeiros registros do papel sendo usado como moeda, na China.

1644. A Suécia foi o primeiro país da Europa a utilizar papel-moeda.

1810. Os primeiros bilhetes de banco, precursores das cédulas atuais, foram lançados no país pelo Banco do Brasil.

1950. O Diners Club cria o primeiro cartão de crédito moderno nos EUA.

2008. Base tecnológica das criptomoedas, a blockchain é criada para ser uma tecnologia de registro de transações financeiras. 

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